MB Movies: Lady Snowblood (1973)
Lady Snowblood: Vingança na Neve (1973)
Lady Snowblood (no original: Shurayukihime) é a adaptação em live action do mangá escrito por Kazuo Koike, autor de Lobo Solitário, e ilustrado por Kazuo Kamimura. Esse filme marca na carreira da atriz Meiko Kaji sendo seu décimo sexto filme e repete a sua parceira com o diretor Toshiya Fujita, que anteriormente haviam trabalhados juntos na quintologia “The Stray Cat Rock” entre 1970 e 1971.
Em Lady Snowblood temos a história da Yuki (interpretado pela Meiko Kaji), uma criança que nasceu dentro da prisão e, desde o seu primeiro minuto de vida, herda o legado obsessivo de vingança contra os quatros malfeitores que mataram seu pai e estupraram sua mãe. Desde cedo ela é treinada em artes marciais e, já adulta, sai em sua missão de vingança, armada com uma lâmina escondida no seu guarda-chuva. Seu apelido e título do filme e do mangá, “shurayukihime” (em tradução livre “princesa da neve da carnificina”) é um trocadilho com o nome japonês para Princesa da neve branca (shirayukihime), a branca de neve. Princesa que reflete a sua beleza fria e sombria.
Assim como no mangá, o filme é dividido por capítulos, marcados pelo título na tela, e sim, essa é um dos vários detalhes que o diretor Quentin Tarantino homenageou em seu filme Kill Bill (2003), assim como a personagem O-Ren Ishii (interpretado pela atriz Lucy Liu) que é a versão da Yuki pelos olhos do Tarantino e que inclusive utilizou a mesma música tema de Lady Snowblood, “Shura no Hana” (Flor do Submundo), cantado pela atriz Meiko Kaji, no embate final do primeiro filme da Duologia do Tarantino!
Diferente do mangá, o filme começa com o flashback do nascimento da Yuki, numa sequência impressionante de um parto que é realizado no chão de uma prisão. A atriz Miyoko Akaza, que interpreta a mãe da Yuki, nos entrega um nível de atuação acima da média e conseguimos sentir em suas palavras e expressão facial toda a sua dor, um olhar triste que guarda muito ódio por aqueles que destruíram sua vida, a cena de suas palavras finais para sua filha que acaba de nascer é de arrepiar, os meus olhos ficaram vidrados nesse momento e o filme já tinha me ganhado aqui, inclusive aplaudo de pé essa atriz que mesmo com pouco tempo de tela nos entrega uma atuação simplesmente magnifica e impressionante.
Antes de comentar a respeito da atuação da Meiko Kaji no papel principal vale mencionar outra grande diferença que o filme possui em relação ao mangá. Aqui, nessa clássica película do senhor Fujita, não temos em momento algum cenas de nudez da Yuki Kashima, nem mesmo aquela cena que a personagem luta sem roupas na neve, e provavelmente a ausência de tais momentos tenha sido um pedido da própria senhorita Kaji que no passado havia lido o roteiro original de Female Prisoner 701: Scorpion (baseado no mangá de Toru Shinohara) e pediu pela remoção dos palavrões da sua personagem “Sasori”, solicitação que foi aceita pelo diretor e a atriz então conseguiu entregar uma atuação ainda mais impressionante, praticamente muda, onde sua personagem se expressa apenas com seus olhares, não precisando assim abrir a boca pra sabermos o que ela está sentindo.
Outra coisa que me leva a crer que a atriz não tenha aprovado que sua personagem tivesse cenas de nudez é que na própria quadrilogia de Female Prisoner Scorpion temos várias cenas de mulheres sem roupa, mas a senhorita Kaji é a única que não aparece sem roupas. Mas essa é apenas o meu palpite, não estou afirmando nada, que fique bem claro.
Voltando a falar sobre o filme, mais especificamente sobre a atuação da Meiko Kaji, é praticamente “chover no molhado”, já que aqui temos mais uma impressionante atuação da atriz/cantora Meiko Kaji, que tem uma performance muito intensa e quase desprovida de falas. Só com os olhos ela consegue expressar toda a raiva e desejo por vingança que a consome. Destaque também para o diretor que soube muito bem dar foco ao olhar da Yuki em diversas cenas, sempre que a câmera foca em seu olhar é um deleite visual a parte, uma direção impecável do senhor Fujita, que inclusive utiliza páginas do próprio mangá em determinado momento da trama, e chega até nos impressionar que um filme da década de 70 tenha tanto cuidado e respeito assim ao seu material original.
Ainda sobre a direção, temos belas sequências de ação, que não se preocupa em passar realismo e parecem mais passos de balé, porém muito violento e sangrento. O uso de sangue falso é sem economia que chega jorrar como se fosse uma fonte, aqui no caso uma fonte de sangue na cor de “tinta guache vermelha” hehe. Eu simplesmente acho bem bonito a cor do sangue bem mais vermelha, o que pra muitos pode ser exagerado ou tosco, pra mim é um dos grandes charmes do filme. Duas outras coisas que enchem nossos olhos são os figurinos e a fotografia, cada frame parece uma bela peça de arte e nos dá vontade de querer tirar um print pra salvar como wallpaper, o filme carrega uma beleza sem igual e ouso dizer até que é o filme mais bonito e poético da carreira do diretor.
No nosso país o filme foi lançado em 2014 pela Versátil Home Video em DVD no formato de Digistack em dois discos que reúne as versões restauradas da película. A edição da Versátil é bem bonita e as legendas estão impecáveis, não possuem nenhum erro de português. Pra mim o único defeito é que até hoje esse clássico não recebeu em nosso país a versão em alta definição (blu-ray). Lá fora a Criterion, empresa norte-americana de distribuição de vídeo, lançou a versão restaurada digitalmente em 2K (resolução de 2048 x 1080 pixels), além da resolução maior, essa versão resulta num grande aprimoramento do brilho e na riqueza das cores do filme.
Lady Snowblood nos apresenta uma sanguinolenta e visceral história de vingança, sobre uma criança que foi criada e treinada com o único objetivo de vingar seus pais, com a magnifica atriz Meiko Kaji no papel principal e com a direção impecável do diretor Fujita Toshiya. Esse cult filme japonês setentista é mais que obrigatório à todos que amam a sétima arte e principalmente a longeva carreira da senhorita Kaji.
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