MB Especial: I’m Still Alive, de Hiroshi Motomiya
É dito que a ansiedade e a depressão são as doenças do século. Não que tais doenças não existissem antes, mas “recentemente” se discute muito mais esses assuntos que no passado. Eu mesmo, durante a infância, fui vítima da ansiedade e sei bem como é horrível. Não foi o meu caso, mas muitas vezes, a ansiedade pode levar a depressão, e a depressão ao suicído. Claro que esses não são os únicos fatores que podem levar uma pessoa a tirar a própria vida, e a fim de instruir a população acerca do assunto, em 2015 foi criado no Brasil o “Setembro Amarelo”.
O mês de setembro foi o escolhido pelo fato de hoje, dia 10, ser o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. É óbvio que não deveríamos precisar de um mês ou uma data específica para falar sobre o assunto que deve ser discutido sempre, mas como temos, resolvi falar sobre um mangá que trata do tema que é muito interessante. Estou falando de “I’m Still Alive”. Como é de praxe, vamos aos detalhes técnicos da obra antes de propriamente conversarmos sobre a mesma.
I’m Still Alive é um mangá de autoria de Hiroshi Motomiya e foi originalmente lançado em 2006 e publicado na revista Shuukan Young Jump, da editora Shogakukan. A obra foi concluída em um único volume e é inédita no Brasil.
A trama acompanha Kenzo Okada, um homem de 60 anos que foi demitido após trabalhar por 38 anos ininterruptos em uma empresa de contabilidade. Como se não bastasse, ao chegar em casa, percebe que sua esposa e filhos o abandonaram e, para deixar tudo ainda pior, praticamente todo o dinheiro que Kenzo tinha foi levado por sua esposa.
Sem dinheiro, sem emprego e desapontado consigo mesmo, com sua família e com a vida que leva, ele decide ir para as montanhas em sua cidade natal dar um fim à sua própria vida se enforcando em uma árvore. Durante o ato, o galho em que ele havia escolhido para se enforcar não resiste ao peso de seu corpo e acaba se partindo, fazendo com que o personagem despenque de uma altura considerável. Ao despertar, Kenzo, ainda desnorteado, sobe de volta ao topo da montanha, e ao chegar lá, depara-se com um lindo nascer do sol. Esse fato faz com que ele reflita o quão bela e grandiosa a vida pode ser, e por conta disso, desiste da ideia de se matar e resolve viver nas motanhas, até que a hora de sua partida chegue naturalmente.
E é esse o plot do mangá, acompanhamos Kenzo no seu dia a dia, vivendo e apreciando os pequenos prazeres da sua vida, como ver os legumes que ele mesmo plantou crescendo, preparar sua própria comida e ter contato com a natureza, coisa que não conseguia fazer quando vivia na correria da cidade grande. Sem dúvidas, a grande sacada da obra é essa, mostrar para os leitores que situações ruins existem e todos nós estamos sujeitos a passar por elas. Uns mais do que os outros, ou melhor, talvez uns consigam lidar melhor com o sofrimento que outros, mas infelizmente não há como passar por essa vida sem enfrentar uns perrengues, e acredito que a intenção do autor foi nos mostrar que há como contornar tais situações, mesmo que seja das formas mais inusitadas possíveis, como viver isolado numa montanha.
Kenzo possui habilidades para sobreviver na floresta, já que quando era criança aprendeu várias técnicas de caça, cultivo e sobrevivência com seus avós que viviam no local, além de achar um local de descarte de lixo ilegal onde tinha praticamente tudo que ele precisava (bom, né?). Isso chegou a me incomodar um pouco, pois às vezes essas habilidades acabavam sendo convenientes demais. Isso não diminui a qualidade do mangá para mim, e eu quero deixar claro que estou aqui hoje para analisar mais sobre a mensagem que a obra passa, do que sobre o quadrinho em si.
Em certo ponto, o protagonista não só já está satisfeito com sua “nova” vida como também acaba desempenhando um papel fundamental na vida de outras duas pessoas. Ele, que achava que morreria sozinho nas montanhas, encontrou pessoas pelas quais ele pudesse se importar, e que se importavam com ele. O mais interessante aqui é como a relação em questão teve início.
Obviamente não vou dizer pois seria um baita spoiler, mas chega a ser até um pouco poético. Esses personagens também acompanham Kenzo até o fim da história. Eu não vou me estender mais pois como é uma obra de volume único eu gostaria que vocês lessem, contudo, se eu der muitos detalhes sobre a trama aqui, obviamente perde-se uma grande parte da graça.
O autor é um mangaká mais da “velha guarda”, digamos assim. Então quem não está acostumado com esses traços mais antigos pode acabar estranhando (eu, particularmente, acho esses traços extremamente charmosos). Porém, tudo é muito bem feito, os cenários, os personagens e as cenas que possuem uma maior movimentação.
Em 2009, foi lançada uma continuação chamada de “Mada Ikiteru…2” (I’m Still Alive 2) em que o protagonista da vez é o filho de Okada. A obra também foi concluída em apenas um volume.
I’m Still Alive não é um mangá fantástico, mas é uma obra de qualidade. Uma nota 7 seria justo pois algumas partes da história são apressadas, mas acho que isso é por causa do tamanho do mangá. Contudo, eu disse anteriormente, o mais importante da obra é a mensagem da mesma: Sempre há uma luz no fim do túnel!
Tenho certeza que muitas pessoas, em meio ao desespero, não conseguem enxergar essa luz e nem mesmo acreditam na possibilidade dela existir, mas confiem, ela está lá e você é capaz de alcançá-la, assim como o protagonista desse mangá e várias pessoas no mundo real alcançaram. Tenho certeza absoluta que as coisas não são simples e requerem um esforço enorme, mas da mesma forma que todos nós sofremos e passamos por momentos difíceis, os momentos bons também existem e virão para nós.
“A felicidade não é algo que as pessoas lhe dão, é algo que você mesmo faz.”
Kenzo Okada
Se você passa por problemas relacionados à depressão ou conhece alguém nessa situação, procure ou aconselhe a pessoa a buscar ajuda de um profissional e a ligar para o CVV (Centro de Valorização da Vida) por meio do telefone 188. Lá existem profissionais qualificados que lhe darão suporte e apoio emocional. E antes de finalizar, deixarei abaixo uma frase que Eiichiro Oda (autor de One Piece) disse:
Nos vemos em breve! Cuidem-se!