MB Review: Zero no Tsukaima
Entre 2006 a 2012, mais ou menos, aconteceu uma explosão na popularização das chamadas “Deres”, personalidades relacionadas ao romance, e cada uma delas agindo com seu amado de uma forma específica.
Uma das subcategorias mais conhecidas é a yandere, aquela personagem doente de amor, capaz de fazer qualquer coisa pelo seu amado, sendo uma das representantes mais conhecidas (e forçadas) dessa categoria, Gasai Yuno, de Mirai Nikki.
Uma das outras subcategorias é a tsundere, aquela personalidade evasiva e afastada, às vezes muito violenta e agressiva mas que, no fundo, só não sabe demonstrar o que sente. Na época, duas personagens foram responsáveis pela popularização desse arquétipo. A maravilhosa Aisaka Taiga, de Toradora; e a protagonista do mangá que faremos a resenha agora, Louise “Zero” Françoise Le Blanc de La Vallière.
Zero no Tsukaima conta a história de Louise, uma nobre que precisa aprender a usar magia, mas falha constantemente. Num determinado momento de seus estudos, é necessário invocar um familiar, o animal de estimação que irá acompanhá-la e servi-la. Então, Louise se concentra e conjura… um humano de outro mundo. Sim, Zero no Tsukaima foi um isekai antes da moda de isekais, assim como Digimon e Inuyasha.
O humano invocado é Saito Hiraga, um garoto colegial comum que pulou no portal por pura curiosidade. E agora, Louise sela seu contrato com um beijo e irá tratá-lo como um animal de estimação, embora já seja visível traços de um romance surgindo.
Essa obra é inspirada em uma light novel escrita por Noboru Yamaguchi, que foi serializada entre 2004 e 2017, com 22 volumes ao todo, sendo os dois últimos volumes escritos postumamente pelos editores com anotações do autor.
E é importante ressaltar esse ponto de ser uma adaptação de light novel pois os acertos e erros desta edição podem não ser relacionados a obra original, mas sim devido a passagem de uma mídia para a outra. Além disso, vale a pena comentar que esta resenha se baseia exclusivamente no mangá, sem comparação de forma alguma com o anime ou com a novel, visto que eu, o resenhista que vos fala, ainda não tive contato com nenhuma delas.
O mangá trabalha com uma ambientação lugar-comum para amantes de fantasia, além de diversos clichês. Louise ocupa o papel de protagonista que é escanteada, mas que provavelmente terá um gigantesco poder escondido e não catalogado, sendo um grande gancho para que ela e Saito possam viver grandes aventuras. Assim como o próprio gênero de isekais, clichês não são de forma alguma o problema e se afastar de uma obra apenas porque ela usa clichês ou porque um garoto foi atropelado por um caminhão e foi parar em outro mundo só limita as infinitas possibilidades que histórias assim podem levar. O problema de ambos os pontos é a forma com a qual são usados.
E infelizmente, esta obra não consegue fazer um bom uso destes clichês ou de sua ambientação. Apesar do conceito muito interessante de se ter um familiar humano e no que isso implica, a obra vai avançando de uma forma previsível e até vazia. O volume inteiro é cercado de exposições no qual você é constantemente lembrado do porquê a Louise é chamada de “Zero” e explicações sobre como Saito na verdade é uma invocação muito mais poderosa do que se imagina.
Além disso, o desenvolvimento da relação entre Louise e Saito soa abrupta demais, não sendo natural a velocidade com a qual alguns comportamentos acontecem. Sobretudo, todos os personagens secundários, neste momento, soam como caricaturas de seus arquétipos. Temos um galã orgulhoso que só faz coisas galanzantes, a leitora que só lê, a mulher sexy que só faz coisas sexys e por aí vai.
A arte também não se destaca. Não chega a ser ruim, mas também não é boa. Falta personalidade no traço, e infelizmente, Louise é uma personagem que precisa de personalidade para funcionar.
No que se referente a parte cômica, temos alguns pontos que ficaram bem datados, para se dizer o mínimo, como uma personagem sendo abusada sexualmente por um diretor velho tarado pegando em sua bunda enquanto finge estar triste, ou o efeito Kirito que Saito tem em que todas as garotas ficam em cima dele, dando aquela pitada de harém em uma tentativa de fazer graça com o ciúme da Louise.
Partindo agora para a edição da NewPop, as primeiras 4 páginas são de um papel diferenciado e menos poroso, sendo duas delas coloridas. Com o tamanho de 12.8 x 1 x 18.1 cm e com 184 páginas, o mangá está com o preço de capa de R$24,90. Pela leitura, encontrei dois erros na revisão dos textos. Em um deles, está escrito “chamda” ao invés de “chamada”, enquanto o outro se encontra na quarta capa em que ambas as frases que resumem a obra não tem coesão, como é possível acompanhar na imagem mostrada. Além disso, vale a pena ressaltar um ponto que pode ser um problema para alguns lotes dependendo do corte feito na gráfica.
Em design gráfico, se é trabalhado com uma margem de segurança no papel para que as informações não sejam perdidas caso haja algum tipo de imprecisão no corte. Geralmente, fica uma borda ao redor do papel para isso. Esta margem parece não ter sido considerada neste mangá então, se houver algum corte fora do previsto nas guilhotinas, perderá informações de algumas páginas, como a colocada no exemplo.
Resumindo, Zero no Tsukaima não é um dos melhores mangás que temos aqui. Devido a uma soma de clichês mal trabalhados com um desenvolvimento fraco de personagens, não acho que irá agradar a todos, mesmo os fãs do anime. Talvez seria um sucesso maior se tivesse sido publicado em 2018, quando a editora anunciou. Caso tenha interesse em conhecer a história, este não é um bom começo mas, caso tenha lido e não gostado do mangá, sugiro dar uma chance a Light Novel, que a editora NewPop também anunciou em 2018, visto que há uma certa unanimidade em comentar sobre como o mangá como um todo é que é raso, e não a história de Louise em si.