MB Review: Your Name – A distância de uma boa história está apenas na expectativa

OLHANDO PARA O PASSADO

Kimi no Na Wa, ou Your Name na distribuição mundial, é o nome de um filme produzido pelo estúdio CoMix Wave Films que foi dirigido e roteirizado por Makoto Shinkai. Sua estreia se deu no ano de 2016, e foi um dos maiores sucessos animados naquele ano e no ano seguinte, vide seu lançamento mundial ser apenas em 2017, colecionando prêmios e indicações pelo mundo. No mesmo ano de seu lançamento, a obra recebeu duas adaptações, sendo uma em formato de livro, e outra em mangá.

A versão em mangá de Your Name começou a ser publicada em agosto de 2016 na revista Comic Alive (Seinen), finalizando em abril de 2017 com 3 volumes tankobon. O roteiro é do próprio Makoto Shinkai, idealizador da animação, lembrando que não é seu primeiro roteiro em mangá, sendo O Jardim das Palavras e 5 Centímetros por Segundo são exemplos de outras adaptações em mangá de suas animações, e o desenho ficou por conta de Ranmaru Kotone, artista que já figurou no Brasil, a partir da publicação da versão em mangá de Blood-C.

A JBC, editora responsável por Your Name no Brasil, trouxe o título em duas versões, a primeira versão figurou no Brasil entre 2017 e 2018, contando com 3 volumes no formato tanko. Essa edição recebeu miolo em offwhite, formato 13,5 x 20,5 cm, e seu valor de capa foi de R$15,90. O sucesso da primeira publicação acabou viabilizando um relançamento em formato trig, compilando os 3 volumes em apenas 1. A edição contou com miolo em pólen, formato 13,2 x 20 cm, custando R$49,90. Essa segunda versão foi publicada em 2019 e é a base desse review.

A HISTÓRIA

Sinopse: Um dia, Taki e Mitsuha acordam com a sensação de estarem no corpo de outra pessoa. Ambos acham que estão vivendo um sonho apenas, até que no dia seguinte começam a ser questionados por atitudes estranhas quando retornam para seus respectivos corpos. As trocas se tornam recorrentes e eles começam a registrar as alterações que fazem um na vida um do outro. Uma misteriosa amizade surge entre eles e abre caminho para sentimentos novos e até então desconhecidos. (JBC)

Mitsuha e Taki são dois adolescentes comuns, mas vivem realidades totalmente diferentes, e aqui não planejo destacar o fato de que temos uma garota e um garoto, dentre as diversas diferenças é a que menos recebe destaque, servindo de base para os momentos de comédia e romance, a ideia de realidades diferentes acaba ganhando mais força na diferença entre os ambientes em que eles vivem.

 Mitsuha vive em uma pequena prefeitura do Japão, um ambiente em que todos se conhecem, os jovens são uma parcela bem pequena da população, as tradições regionais ocupam um espaço importante nesse ambiente, além de prosperar a ideia de que todos que ali nascem, provavelmente ali ficarão. Em contrapartida, Taki vive na moderna Tokyo, um lugar que muda constantemente, a população jovem ocupa a maioria daquele espaço, e as tradições se mesclam com elementos de outras culturas. 

Essa diferença de vivência é muito importante na primeira parte da história. Mitsuha sempre desejou viver em um lugar que houvesse “liberdade”, onde há mudanças, e que todos os dias fossem diferentes. Devo mais uma vez apontar a recorrência das distâncias em obras do Makoto Shinkai, embora tenha quem considere o trabalho do diretor/roteirista qualquer coisa, gosto dessa discussão em suas diversas obras, não é exagero dizer que ao longo de suas publicações podemos nos relacionar com diferentes formas de amor, diferentes formas de amar, e as distâncias que devem ser superadas, ainda que algumas não possam ser superadas, algo que é apresentado em outras obras do autor, mas esse não é o caso de Your Name, como citei no início do texto, Your Name é provavelmente sua obra mais otimista, porém, também é sua obra com as maiores distâncias. As diferenças de vivência citadas acima são apenas uma parte das distâncias que devem ser superadas em Your Name.

UMA LINHA QUE CONECTA O TEMPO

A troca de corpo não é um recurso incomum em histórias, filmes como Um Dia Muito Louco (1976), Coisas de Meninos e Meninas (2006), o mais recente Todo Dia (2017), ou mesmo o icônico Se Eu Fosse Você (2006), já apresentam esse elemento em suas histórias, nem sempre se utilizando da premissa para desenvolver sentimentos amorosas, mas se fixando na ideia de que estando no corpo do outro poderemos compreender melhor os seus problemas e o ambiente em que vive, e por conseguinte, fortalecer os laços afetivos entre os indivíduos que trocaram de lugar, ou no mínimo a empatia de um pelo outro. Mas o que exatamente explica o sucesso de Your Name na utilização dessa premissa?! E aqui não desejo resumir esse sucesso a animação, pois pelo menos aqui no Brasil, é extremamente incomum que uma mesmo publicação receba duas versões em um espaço de tempo tão pequeno, sendo perceptível que mesmo no quesito publicação física do mangá, Your Name foi um sucesso, partindo da premissa que nenhuma editora se arriscaria a relançar em tão pouco tempo uma obra que não vendeu. 

E embora a premissa inicial seja a troca de corpos de Mitsuha e Taki, temos uma quebra na narrativa, essa quebra está no momento em que as trocas de corpo param de acontecer. A quebra da narrativa é muito importante, e aqui são adicionados os pontos que geram as controversas discussões sobre a obra, e provavelmente os mesmo elementos que explicam o seu grande sucesso, mas antes de nos aprofundar é necessário apontar esses novos elementos que compõem a narrativa.

Spoilers moderados adiante, siga por sua conta e risco….. 

O fim das trocas de corpo entre Taki e Mitsuha é acompanhado por algumas revelações. Primeiramente, Taki e Mitsuha percebem que embora nunca tenham se encontrado, ambos acabaram desenvolvendo sentimentos românticos um com o outro. A primeira parte da história, que tem um ritmo de comédia romântica e apresenta os personagens e sua relação, acaba surtindo um grande efeito nesse momento, em que acompanhamos a relação se desenvolver entre os personagens em um curto tempo, seja em termos narrativos, ou mesmo no número de páginas que nos são apresentadas, mas o seu desenrolar é cativante e em dado momento começamos a torcer para que fiquem juntos.

 

A dinâmica entre Mitsuha e Taki é muito bem apresentada, conhecemos ambos os personagens a partir das experiências durante a troca de corpo.

Essa base é importante para nos convencer a seguir Taki em busca de Mitsuha. Com o fim das trocas de corpo, a história parece seguir o padrão de uma narrativa com foco em romance, e nesse momento somos agraciados com uma grande guinada, pois após uma grande busca, Taki encontra a cidade em que Mitsuha vivia. Outrora conhecida como Itomori, a cidade foi arrasada por um cometa cerca de 3 anos atrás, e sim, a partir do momento que compreendemos o que houve com a cidade, a narrativa ganha o tom de um drama, visto que muito além da destruição da cidade, temos também a morte de grande parte da população, todas as pessoas que Taki conheceu enquanto esteve no corpo de Mitsuha, mas o verdadeiro impacto desta revelação é que Mitsuha também morreu…

Na primeira parte temos a citação de que um cometa passaria próximo da terra, deixando pistas da sua importância para a história.

Esse segundo momento da narrativa adiciona diversos conceitos, desde a conexão entre o passado de Mitsuha e o presente de Taki, até a previsão do acontecimento dessa catástrofe. Essa adição de elementos modifica todo o ritmo de Your Name, nos pegando em um poderoso drama, e se utilizando do amor entre os protagonistas para nos passar uma forte mensagem. Mas nem tudo são flores, esses diversos elementos acabam levando a diversos questionamentos.

Em meio às diversas perguntas que surgem, sinto que Makoto Shinkai não buscou se preocupar em explicar esses elementos e, embora eu me divirta muito buscando grande explicações em narrativas, me pergunto até que ponto todos os elementos expostos em uma narrativa devem ser explicados, assim como podemos tentar explicar a falta de lógica nos elementos que Shinkai não explicou, também podemos atribuir explicações. Em meio a esses diversos questionamentos, eu não consigo deixar de compreender Your Name como um bom mangá, não vejo qualquer necessidade de buscar explicação em alguns elementos da narrativa, e provavelmente esse mesmo sentimento é o que leva uma maioria a gostar tanto da história. Como um apaixonado por narrativas, sempre enxergo a importância de histórias complexas e sua leitura crítica, mas também enxergo a importância em trazer histórias simples, mas que conseguem executar muito bem suas propostas. Dito isso, Your Name é um título que mantenho na minha estante com plena satisfação, e faria sua releitura tranquilamente quando sentisse falta de uma história otimista e com o poder de me preencher com sentimentos simples e inquestionáveis (pelo menos temporariamente).

Como não chorar nesses momentos??!

VALE A PENA??

A versão em volume único de Your Name é um ótimo mangá, embora sinta uma imensa dificuldade em pensar a narrativa distante de sua obra base, também me recuso a dizer que a obra não propicia uma boa experiência narrativa de forma isolada. A edição física apresenta um ótimo custo benefício em relação à versão tanko, ainda que exista a perda de capas, e a edição seja relativamente grande, não é ruim de se segurar na hora da leitura, e seu custo benefício acaba compensando essas perdas. Por fim, ainda que exista uma intensa discussão entre ser uma obra superestimada ou não, creio ser uma obra que merece uma chance e certamente irá ganhar um espaço no seu coração, ou na coleção.

Ps. O Makotoverso existe, e em 10 anos ele monta um evento com todos os seus casais.

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