MB Review: Homem-Aranha 2099 (Marvel Vintage)
Risco, o Especialista, o Abutre — o futuro é cheio de ameaças, mas nenhuma é tão maléfica quanto o corrupto governo e as corporações por trás dele! Um futuro pavoroso precisa de um herói igualmente assustador, quem sabe algum tipo de Escalador de Paredes?
O meu envolvimento com o título do Homem-Aranha 2099 se deu quando tinha por volta de 14 anos de idade com as edições em formatinho da editora Abril. Infelizmente não cheguei a completar a série — li apenas os sete volumes iniciais e não corri atrás das edições seguintes. Porém, em 2013 a editora Panini adquiriu os direitos do personagem e decidiu publicá-lo em formato americano, lombada quadrada e copilando as 10 edições num único volume.
Por algum motivo que desconheço, a Panini não deu continuidade a série e o título ficou apenas com essa edição mesmo. E, finalmente chegando a 2022, a Panini revolve novamente republicá-lo, agora no selo Marvel Vintage e em capa dura, novamente cobrindo 10 edições originais do cabeça de teia do futuro. Esperamos que, dessa vez, a Panini dê seguimento a publicação e que seja finalizada finalmente.
Acerca da história, acompanhamos um futuro não tão distante da nossa realidade — tirando obviamente a tecnologia, temos corruptos, grandes ameaças e corporações visando cada vez mais poder, e nesse é nessa ambientação que temos o protagonista Miguel O’Hara, um cientista super gênio que trabalha em um projeto de alteração genética na empresa Alchemax, tendo como estudo de caso o Homem-Aranha original.
O primeiro teste é realizado em um humano, contra sua vontade, e leva a cobaia à morte. O’Hara sente muita raiva e pede demissão, porém ele acaba caindo numa armadilha feita por Tyler Stone, que o droga com êxtase, um alucinógeno viciante. A única Empresa Produtora é a Alchemax e agora ele está nas mãos de seus antigos chefes. A idéia que O’Hara tem para se livrar da droga é usar o alterador genético do projeto Homem-Aranha e assim eliminar a substância de seu corpo, mas durante sua alteração genética acaba acontecendo uma sabotagem em seu laboratório e seu DNA é reescrito com os poderes do Homem-Aranha.
Antes de mais nada, preciso frisar o quão importante e influente foi a criação desse personagem, pois ele inspirou até mesmo os filmes do Homem-Aranha do diretor Sam Raimi. Os conceitos do Homem-Aranha de produzir sua própria teia e ter garras retráteis nascem no título 2099. A visão de futuro do escritor Peter David é fascinante, além do elemento clássico de toda obra futurista, que são os carros voadores, temos por exemplos: uma tecnologia tão avançada que consegue recuperar Marte e até mesmo a Atlântida original, ou coisas como um tecido de moléculas instáveis – que é o mesmo tecido feito da roupa do Homem Aranha desse futuro. Mas o melhor pra mim ainda sim é a Lyla, um holograma de uma inteligência artificial que trabalha para o Miguel O’Hara como uma espécie de secretária eletrônica, porém com muita personalidade (devido sua programação) e inúmeras funções. Os momentos que a Lyla está na história são uma das partes do quadrinho que mais gosto, uma excelente adição ao elenco do título do aracnídeo do futuro.
Como já dito, o primeiro volume do Homem-Aranha 2099 cobre 10 edições originais americanas, e aborda desde a sua origem até combates contra outros vilões, como o Risco, e até mesmo uma versão futurista do abutre, clássico vilão do Homem-Aranha do Peter Parker – porém numa versão bem mais violenta e doentia em comparação ao original.
Dessa primeira leva inicial de personagens o que mais gostei foi o Ciborgue Risco, com um belo design que mesclam entre o visual cowboy do velho oeste com peças tecnológicas, fora sua personalidade de caçador implacável aos mesmos moldes de um caçador de recompensas. O nosso protagonista também não fica atrás, arrisco até a dizer que o Miguel O’Hara só fica atrás mesmo do Peter Parker. Aqui temos um protagonista que é tão piadista quanto o próprio Parker porém com um humor mais ácido e negro, e diferente do Aranha original, o O’Hara não sente culpa quando o vilão morre “sem querer”.
Obviamente não podemos nos esquecer de comentarmos a belíssima arte do título com desenhos de Rick Leonardi e arte final de Al Williamson. A página dupla da primeira edição é uma das coisas mais bonitas que já vi num quadrinho. Lembro-me de ficar admirando-a por minutos na primeira vez que a vi, tal impacto só aconteceria novamente quando li as edições do cabeça de teia desenhadas pelo criador do Spawn. Todavia, curto apenas a colorização das três primeiras edições, dos volumes 4 em diante parece que a pessoa responsável por colorir passou a fazer tudo no computador com cores bem mais estouradas, fora que a edição nove conta com desenhos de Kelley Jones e Arte-Final do Mark McKenna – que pra mim foi a edição mais mal desenhada de todas a série. Felizmente, a dupla Rick Leonardi e Al Williamson retomam o título na edição seguinte.
A décima edição fecha com Miguel O’Hara percebendo que pode fazer a diferença no mundo do amanhã, o já tão famoso “com grandes poderes vem grandes responsabilidades – ou como ele mesmo diz: transformar esse futuro numa visão na qual ele suporte olhar. Um excelente fechamento inicial de arco pro personagem que nos deixa com gostinho de quero mais. Esperamos que dessa vez a editora Panini não falhe e traga a coleção completa para nós, fãs do cabeça de teia do futuro, pois será mais uma decepção pra conta se essa ótima série for deixada mais uma vez abandonada pelo caminho.