MB Review: O Céu para Conquistar

“O Céu para Conquistar”, o primeiro quadrinho de Yudori a chegar ao Brasil pela editora Conrad, se concentra na sociedade do século XV. A história gira em torno de Amélie, uma jovem católica e seu marido, o  comerciante Hans, cujas vidas são transformadas quando ele retorna de uma viagem trazendo consigo uma  jovem escrava de um país distante. A relação entre essas duas mulheres se torna o núcleo da trama, que   propõe uma reflexão profunda sobre o patriarcado, a condição feminina e as lutas por liberdade em um   mundo dominado por homens.

A narrativa foca em questões sobre identidade, liberdade e coragem, enquanto as personagens lutam para encontrar seu lugar em um mundo desconexo. Amélie tem uma relação conturbada com Hans, e boa parte disso se dá pelos questionamentos da jovem em relação a aceitar o seu lugar, se sentindo sozinha e isolada, pelo menos até a chegada da serviçal, que atua como ponte para que Amélie consiga enxergar uma salvação para sua vida. As duas são jovens extremamente multifacetadas, enfrentando dilemas emocionais e cobranças excessivas para se encaixar no padrão imposto às mulheres da época.

As ilustrações da autora  combinam bastante com a proposta. O traço do quadrinho é estilo manhwa,  mesmo sendo em preto e branco, capturam os detalhes da época de forma ávida e cruel. Porém, também consegue passear pelos momentos íntimos e intrínsecos das personagens com seu lado mais gentil e leve.

A história tem um enredo dramático que utiliza do romance, suspense e drama de forma excelente. Além de abordar muitas questões para época, o quadrinho também consegue trazer diversos questionamentos para a atualidade, temas como o sistema patriarcal, e a luta pelo reconhecimento não só carnal da mulher, são questões que ainda são pautas não resolvidas e que infelizmente não estão presentes somente no conto de Amélie.

“O Céu para Conquistar” é perfeito no que se propõe, e conta uma das histórias mais belas e realistas sobre o  que é ser mulher em um mundo de cobranças. Amélie e a serva são reflexos que não se mantêm apenas no século XV, mas que ainda estão presentes e que mais que tudo merecem ser notadas. Com certeza vale a pena a leitura do quadrinho.

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