Review: Monster Kanzenban #1

Quando falamos sobre Naoki Urasawa, aqueles que têm um pouco mais de familiaridade com o mundo dos mangás, logo pensa em um bom roteiro. Claro que, existem pessoas que não gostam de como o autor desenvolve suas histórias, mas para uma grande maioria, Urasawa é sinônimo de trama bem escrita, arte característica, personagens marcantes e momentos de tirar o fôlego. Em “Monster”, não é diferente. Considerado por muitos como o melhor mangá do autor, a obra foi publicada no Japão entre 1994 e 2001, na revista Big Comic Original, da editora Shogakukan, e rendeu 18 volumes. No Brasil, esta é a 3ª publicação da série, já que ela foi lançada pela Conrad durante os anos 2000, porém foi cancelada. Em 2012 a Panini relançou a série, sendo dessa vez, finalizada e tendo seu último volume publicado em 2015. No fim do ano passado (2019), muito provavelmente, aproveitando a exposição sobre Naoki Urasawa que aconteceu na Japan House, em São Paulo, a Panini anunciou um relançamento de Monster, desta vez no formato Kanzenban (ou Perfect Edition). E é sobre essa edição que iremos falar hoje.

ENREDO

Antes de prosseguir, deixarei aqui uma pequena sinopse da obra para que possam se situar melhor durante o texto. E também gostaria de deixar claro que é a primeira vez que tenho contato com a obra, sempre ouvi falar muito bem mas nunca havia lido o mangá ou assistido ao anime. Então, todos os comentários que farei a seguir são referentes apenas ao volume 1 dessa nova edição.
Kenzo Tenma, um japonês que trabalha como médico na Alemanha, tem uma habilidade inacreditável como neurocirurgião, uma noiva linda e rica, e uma promissora carreira. Entretanto, após ficar desiludido com as políticas de seu hospital, decide salvar a vida de um jovem garoto que foi baleado na cabeça, a salvar a vida do prefeito da cidade já que o garoto havia chegado primeiro, contrariando o alto escalão do hospital. Por consequência, perde o apoio que tinha do diretor do hospital, assim como sua posição no hospital e sua noiva. Pouco tempo depois, o diretor do hospital e os médicos que o substituíram são misteriosamente assassinados, e mais uma vez ele volta para o topo onde estava. Mas como suspeito de chefiar os assassinatos, Tenma inicia um processo para limpar seu nome e corrigir os erros do passado, indo ao fundo desses e de outros assassinatos, e investigar a verdade atrás do Monstro por de trás de tudo isso. Provavelmente você já ouviu a frase: “Para toda ação, há uma reação”. Essa frase resume bem o plot principal do mangá, já que, após uma certa decisão “errada”, Dr. Tenma tem sua vida transformada num verdadeiro inferno. Ele perde o cargo importante que ocupava dentro do hospital, perde sua noiva, e tem que lidar com o fato de que a criança que ele salvou seja um verdadeiro monstro.

Foi neste momento que Tenma percebeu as injustas políticas do hospital!
Poucos dias após Tenma desobedecer as ordens do diretor do hospital, salvando a criança e deixando que o prefeito falecesse, o diretor do hospital e outros dois médicos são encontrados mortos por envenenamento, o que faz com que um detetive passe a ter Dr. Tenma como um dos principais suspeitos do assassinato, já que o mesmo havia sido rebaixado de cargo e, segundo o detetive, poderia ter cometido os assassinatos para voltar à posição de prestígio que ocupava antes. Mas nenhuma prova que possa incriminar o doutor é encontrada. Anos mais tarde, uma série de assassinados de casais de meia idade intriga a Alemanha, já que algumas características das vítimas, e a forma com que os assassinatos eram cometidos, seguiam um certo padrão. Tenma, percebendo que o assassino poderia ser o garoto que ele salvou há anos atrás, parte numa jornada para tentar colocar um ponto final nessa história. Sinceramente, chega até a dar um pouco de pena do Doutor, já que uma atitude que ele tomou baseada no seu senso de justiça (com o qual acredito que 90% dos leitores compactuam), tenha consequências tão graves para a vida dele e a vida de terceiros.

Momento em que o menino que mudaria a vida de Tenma chega ao hospital
Um dos pontos altos desse primeiro volume, é a forma com que a história é narrada, o autor consegue desenvolver uma trama imprevisível, sempre conseguindo nos surpreender e quebrar as expectativas (de uma forma positiva), ao mesmo tempo em que desenvolve várias tramas menores em paralelo com a trama principal, fazendo o leitor se questionar cada vez mais sobre o que realmente está acontecendo. O ritmo de leitura é muito gostoso, já que o traço do autor é estilizado, mas ao mesmo tempo realista, o que casa bem com a história, e a quadrinização ajuda muito no ritmo. Além disso, Urasawa introduz novos personagens no momento certo, da mesma forma que utiliza personagens que já foram apresentados de forma muito orgânica.

Minha primeiras impressões da obra foram pra lá de positivas. Pretendo, sim, comprar os volumes seguintes e acompanhar a série (nas devidas promoções, porque senão eu não aguento). Aparentemente, a série faz jus à fama que tem.

 EDIÇÃO

A Panini está trazendo a obra numa edição de luxo, com capa dura, sobrecapa, papel couchê fosco de 150g, algumas páginas coloridas, além de fitilho e um postal que acompanhará todas as edições do mangá. Tudo isso ao preço de capa de R$ 79,90. O preço condiz com a qualidade física da edição, porém, fica a impressão que alguns detalhes não são tão necessários e acabam encarecendo um pouco o produto, como o fitilho e a sobrecapa, já que, como o mangá é em capa dura, a sobrecapa não se faz tão necessária, ainda assim, devo admitir que dá um charme a mais para a publicação, ao menos, no meu ponto de vista. A encadernação é excelente, o miolo é costurado e colado, ou seja, para que as folhas dessa publicação se soltem, você vai precisar literalmente usar a força e arrancar as folhas com a mão. Esse é um ponto positivo pois permite que você abra a publicação bastante na hora da leitura, sem comprometer a encadernação.

Mangá com a sobrecapa

Mangá sem a sobrecapa e postal
Um fator que pode atrapalhar um pouco a leitura é o peso do material, como o papel é de uma gramatura muito boa, a edição é bastante pesada, o que acaba causando certo desconforto quando ficamos segurando o mangá por muito tempo. Considero esse um ponto neutro, já que é o preço que se paga pela gramatura elevada, ou seja, é um ponto negativo, que vem em decorrência de um ponto positivo. Mas se você optar por ler o mangá apoiando-o em uma mesa ou algum tipo de suporte, não enfrentará esse problema. Outra ressalva que gostaria de fazer, o que não é necessariamente um ponto negativo, é que mesmo o papel couchê sendo fosco, dependendo da iluminação do local, pode acontecer de o papel refletir um pouco a luz, fazendo com que precisemos mudar um pouco a posição do mangá, mas isso não é algo que atrapalha a leitura, é apenas uma observação. Por outro lado, devo dizer que o papel escolhido destaca muito bem a arte do autor, é possível observar a arte nos mínimos detalhes. Isso gera um contraste muito bom, e a transparência das páginas é praticamente inexistente.

Finalizando, acho que a Panini acertou em cheio com essa publicação, visto que, a coleção lançada em 2012 já estava complicada de ser achada e muita gente (incluindo eu) sempre quis ter a obra na coleção. A hora não poderia ser mais oportuna. Aposto que muita gente ficou interessada nos mangás do Urasawa por causa da exposição. A edição está muito caprichada e a trama do mangá é excelente. Acho que vale a pena acompanhar esta série, e é o que farei. E apesar do preço um pouco elevado, para aqueles que nunca tiveram contato com a obra, mas sempre tiveram curiosidade, a hora é agora.

Agradeço à Panini que cedeu esse exemplar para resenha.
Abraço e até a próxima! o/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *