MB Literário: O Castelo Animado, de Diana Wynne Jones

    Sophie perdeu seu pai e agora trabalha no que virá a ser sua própria chapelaria. Tudo estaria indo muito bem se a Bruxa das Terras Desoladas não batesse em sua porta e lhe jogasse um feitiço. Agora, a única escapatória é se juntar ao Mago Howl, famoso por devorar o coração das moças.

    Sinopse: Em O castelo animado, primeiro volume série, conheça a história de Sophie Hatter: após, certo dia, ser amaldiçoada pela Bruxa das Terras Desoladas, a jovem se torna uma senhora de 90 anos. Receosa e insegura por conta de sua nova aparência, ela decide fugir de sua família e vai em busca de ajuda e um lugar para ficar. É então que se depara com o castelo do terrível Mago Howl, conhecido por devorar o coração das moças do povoado. No entanto, quanto mais os dias passam, mais Sophie entende que, na verdade, a realidade vai além do que se vê – e percebe que é possível, sim, encontrar humanidade e compaixão dentro de cada um.

    Primeiro, eu preciso confessar que se minha amiga não tivesse me dado o e-book desse livro, eu nunca teria me interessado em abri-lo. Mas aí eu também preciso confessar que, se não tivesse lido esse livro, também não teria me dignado a assistir o filme de Hauru no Ugoku Shiro, O Castelo Animado, do Studio Ghibli (2004).

    Sophie é a mais velha de três irmãs, isso quer dizer que, não importa o que ela faça, ela deve se resignar a não ter sucesso. Já as suas irmãs mais novas, agraciadas com a beleza e com o intelecto, podem esperar para colher bons frutos no futuro. Depois da morte de seu pai, a madrasta dela e mãe de suas irmãs, precisa encontrar um jeito de prover um bom futuro e sustentar a chapelaria da família, que está indo à falência por causa dos esforços do pai de dar a melhor educação possível para suas filhas.

    Martha, a filha mais nova, é enviada para a amiga feiticeira da família, a fim de aprender magia e ter um futuro laboral. Lettie, a do meio, começa a trabalhar como aprendiz numa das confeitarias mais requintadas da cidade, assim ela pode encontrar um bom pretendente. Sophie, é obrigada a ficar em casa, cuidando da chapelaria que um dia será sua.

    Tudo vai muito bem, até o momento que Sophie decide visitar sua irmã e descobre coisas inimagináveis, além de esbarrar em um belíssimo moço de olhos azuis no caminho. Mas a vida segue e,  mesmo com uma certa pulga atrás da orelha, ela retorna para sua chapelaria. Após isso, uma cliente desconhecida entra em sua loja e a amaldiçoa. Sophie não sabe o porquê, mas se sente obrigada a deixar tudo para trás, indo embora em busca do seu próprio destino.

    Essa foi uma leitura daquelas que começam meio arrastadas, sem prometer muita coisa e quando você percebe, a história acabou e você fica triste porque a continuação não é bem uma continuação, sabe? Acho, inclusive, que esse foi o maior dos motivos para eu correr para assistir o filme, logo depois de terminar a leitura.

    Acho curioso reparar que quando Sophie sai de casa para visitar suas irmãs, ela está super nervosa com a ideia de sair de casa sozinha, correndo o risco de encontrar O Devorador de Corações chamado Howl, o mago. A partir do momento em que ela envelhece, a coragem se apodera dela de forma que… ela acaba indo morar com ele????

    Eu amo criar reflexões indiretamente relacionadas com as coisas que eu leio e a da vez é: o que é envelhecer? Mas além disso, envelhecer é sobre o quê? 

    No caso da Sophie, envelhecer é, muito possivelmente, um estado de espírito relacionado às obrigações de ser a irmã mais velha, mas principalmente ao peso de estar fadada a não ter sucesso e a não ser quista. A Bruxa das Terras Desoladas jogou mesmo um feitiço nela e ela não pode contar pra ninguém que esse episódio aconteceu. Ao mesmo tempo, foi o feitiço que deu a ela coragem suficiente para se livrar desses pseudos rótulos que a família e a sociedade impunha sobre ela e buscar um novo lugar onde ela pudesse “ser ela mesma”. Ou seja, envelhecer também é se sentir livre e é por isso que as pessoas velhas fazem o que fazem, e você sabe do que eu tô falando!

    Além disso, eu também adoro o fato de que o Howl está igualmente sob uma espécie de feitiço, mas eu não posso contar as minhas teorias sobre isso, porque é o maior spoiler desse livro! Então eu só digo: fiquem de olho no Calcifer e escutem o que ele diz.

    O que me deixa triste é que apesar de ser lindíssimo e ser inspirado no livro, o filme não é cem por cento verossímil com a história escrita pela Diana, e sim, isso até pode ser só frescura da minha parte, levando em consideração que o Miyazaki fez um trabalho incrível e o filme, os prêmios e as críticas mostrem tudo isso. O negócio é que eu deveria ter visto o filme antes de ler o livro e assim eu evitaria querer ver exatamente o que eu vi na minha imaginação enquanto lia!

    No filme, como já era de se esperar do Studio Ghibli, existe toda uma propaganda anti-guerra e aquele sentimento de eteriedade, como se o que a gente tivesse vendo fosse realmente a quintessência se materializando na nossa tela. A dublagem japonesa é incrível e eu, como estudante de japonês, amei conseguir captar as particularidades que essa língua tem, já que os animes só entregam a parte mais “rude” da língua.

    Com relação a inspiração literária, tá tudo ali. Realmente te entregam a aventura do Howl e  Sophie, ambos em uma busca particular por liberdade que acaba se tornando uma busca conjunta. A persona do Howl me fez lembrar daquela história que rolou nos confins da interwebs de que  “se tal personagem piscar pra sua namorada, você perde a namorada”, e a persona da Sophie me fez pensar: porque o cabelo dela é dessa cor????? Ao mesmo tempo fiquei feliz de ser apenas uma inspiração, porque o que fizeram com a Madame Sulliman se faz apenas com nossos inimigos!

    Acho importante falar que, apesar de não ser uma adaptação cem por cento fiel, O Castelo Animado de Miyazaki traz particularidades muitíssimo importantes. Não é apenas sobre o amor romântico ou uma busca por liberdade, também é sobre amor próprio e sobre a mudança de olhar sobre nós mesmos! Basicamente, a beleza que nós não costumamos ver.

    Para finalizar com chave de ouro o assunto Castelo Animado, eu pretendo participar de um curso sobre o Studio Ghibli, ministrado pelo Takashi Yamanashi na Momonoki. Talvez meu salário não me permita e aí nós vamos de autodidata, mas já deixo aqui a recomendação para quem se interessar por cultura japonesa e também reforço a importância de saber o que está nas entrelinhas do que você consome por aí!

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