MB Review: Professor Yukimura & Kei
Professor Yukimura & Kei é um lançamento em volume único da Editora NewPop, dando continuidade ao licenciamento de obras de Natsuki Kizu no território brasileiro, autora conhecida por trabalhos como Given e Links, além de diversas publicações de populares doujinshis no Japão.
Dividida em duas histórias, a obra inicialmente nos apresenta Tsukasa Yukimura, um professor de 27 anos famoso por sua estética atraente, além de diligente em seu trabalho, mas desleixado com sua vida pessoal e hábitos, e Kei Sunose, um aluno de 20 anos, alto e cheio de energia que não tem medo de expressar abertamente o seu interesse por Yukimura! O professor, por sua vez, resiste às investidas do seu aluno, tentando manter firmeza nessa decisão, até que Kei escute um diálogo entre Yukimura e seu amigo Kitakami, o qual evidencia que ambos já estiveram envolvidos romanticamente, fazendo com que Kei demonstre imediatamente seu ciúme.
Apesar da falta de experiência com homens, Kei consegue vivenciar com naturalidade e abraçar as emoções que sente por professor, marcando uma trajetória suave e gentil para desvendar os mistérios sobre Yukimura.
A obra brinca com a cronologia de acontecimentos de uma forma que facilita o entendimento, nos apresentando eventos passados e como eles impactaram no presente dos protagonistas. É interessante ver a perspectiva de um Yukimura mais novo e como era a dinâmica do seu relacionamento com o colega de turma Kitakami. Tudo isso é revelador para que possamos compreender as motivações para o surgimento do interesse de Kei pelo professor. Tudo isso retratado com recursos de storytelling significativos, reforçando as competências da autora.
À primeira vista, o tema pode causar um desconforto no leitor por envolver a relação entre professor e estudante, já que essa configuração frequentemente ocasiona uma dinâmica de poder desequilibrada, entretanto, a obra abertamente inverte esses papéis, deixando a figura de Kei como a parte mais dominante na tentativa de estabelecer uma conexão com o professor Yukimura, e isso é percebido no desenvolvimento das suas ações e personalidade, até mesmo na descrição das alturas dos protagonistas, sendo esta última um recurso bastante utilizado por autores de boys love para destacar quem possui uma maior dominância no relacionamento.
O primeiro romance do volume termina com a aceitação de Yukimura, provavelmente de uma forma abrupta e nos deixando com o desejo de descobrir mais do que acontecerá no futuro entre ele e Kei.
Em seguida, com uma proposta subversiva, a obra apresenta um relacionamento conturbado entre dois meio-irmãos que compartilham a mesma data de nascimento. A série intitulada Figo Estrangulador possui uma ambientação distinta dos capítulos iniciais do mangá, com um relacionamento que se desdobra a partir de uma dinâmica de codependência emocional e uma paixão um tanto obsessiva por parte de Seiji, considerado o “irmão mais velho”. Akira é filho de uma mulher que era amante de seu pai, e Seiji acredita que deve protegê-lo do mundo. Com o passar dos anos, Seiji começa a encarar sua própria dependência e entender que não é “Aki” quem depende da sua proteção.
Aqui, a curiosidade do leitor é também estimulada por novas resoluções que, no decorrer dos capítulos, podem mudar nossa percepção inicial sobre a dinâmica das relações. A autora inclui propositalmente algumas informações pontuais durante o progresso da obra, gerando reflexões sobre intenções e sentimentos dos personagens.
Sendo o primeiro mangá da Kizu, parece ser uma leitura mais crua, principalmente nas finalizações, mas também evidencia a competência da autora em desenvolver narrativas com um bom desenvolvimento e com uma arte que converge de forma harmônica com o enredo.
Embora alguns dos termos utilizados na tradução não estejam necessariamente equivocados, alguns talvez não dialoguem com distintas gerações ou regiões, podendo causar estranheza durante a leitura. Apesar disso, a leitura é fluida e a composição física é ótima.