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MB Animação: Devilman Crybaby: Uma Desconstrução do Conteúdo Adulto.

“Devilman Crybaby” é um anime que estreou na Netflix em 2018, uma releitura do clássico de Go Nagai “Devilman”. Nessa adaptação, o anime conta a história de Akira e seu melhor amigo, Ryo Asuka. Ryo informa a Akira que uma antiga raça de demônios retornou para recuperar o mundo dos humanos. Acreditando que a única maneira de derrotar os demônios é incorporar seus poderes, Ryo sugere a Akira que ele se una a um demônio. Tendo sucesso em fazer isso, Akira se transforma em Devilman, possuindo os poderes de um demônio, mas mantendo a alma de humano. Este ensaio propõe discutir a subjetividade que o anime direciona em questões para um público adulto, portanto fica o aviso de que esta review terá spoilers e tratará temas +18, mas vamos por partes:

A estética

Devilman Crybaby é bem diferente do que estamos acostumados em animações orientais, o anime tem uma estética e um visual bem mais “chapado”, o que pode até ser confundido com uma animação mais datada, entretanto foi uma das melhores escolhas para representar a violência e a suavidade nas cenas e em momentos em que personagens se encontram em situações simples, representando formas básicas e descontraídas. Já em momentos de atrocidades e violência ,o traço se adapta a um surrealismo, o que até facilita a “digestão” de cenas mais “pesadas”.

A violência vista por outro ângulo

Um dos pontos mais positivos do anime é sua genialidade em momentos de êxtase , onde os “tabus” da sociedade (principalmente japonesa) são quebrados. Em uma das primeiras cenas, por exemplo, onde Ryo e Akira estão numa festa aparentemente “demoníaca” chamada Sabbath, ocorre sexo explícito naquele tom “vintage anos 90”, drogas e violência são mostrados não de um ponto em que o erotismo é o principal, mas como subtexto. Nessa cena, Ryo aparentemente sem nenhuma excitação começa a matar diversas pessoas enquanto estão dançando, se aproveitando do erotismo ou se drogando, tudo isso porquê demônios são atraídos pela “sujeira humana” e assim consegue fazer Akira ser possuído por um Demônio e se tornar o “DevilMan”, ou seja, um massacre aconteceu. Tudo isso porque, como ele mesmo diz, “serviu para acabar com os demônios”. A relação humana aqui é posta sempre na linha limite da loucura e a racionalidade.
Um outro exemplo é como a morte é vista nessa história. O anime está longe de ser focado em lutas épicas ou cenas de ações desenfreadas, aqui as coisas acontecem de forma bem frívola e rápida, a narrativa demonstra de fato como as coisas são. Akira em uma de suas caças aos demônios se vê tendo que matar seu próprio pai e descobre que sua mãe já tinha sido morta por ele. As lutas ou cenas são frias e a enorme violência que é mostrada é só um subtexto para algo pior, a destruição de um lar ou de qualquer porto seguro de afeto.

A religião sobre um olhar artístico

Ao longo da trama, já nos últimos episódios, faz se a revelação de que Ryu na verdade era satanás, e que mesmo indiretamente existem demônios e Akira era arquitetado por ele. Ryu foi um personagem bem complexo por toda a trama, ele sempre agia por meios em que alcançar seus objetivos de exterminar demônios era o que importava e não ligava se humanos morressem no caminho, já que tudo era para um bem maior, e então, com o mundo à beira do apocalipse, Akira percebe que todas as pessoas que amava morreram e seu amigo que sempre se importou desde os primórdios da terra estava por trás de todo esse mal. O fim chega com uma subjetividade, uma trilha sonora impecável e um background sensacional que remete à traição de Judas Iscariotes com Jesus, e Satan selando o ato consumado com desespero.

Conclusão

Devilman Crybaby é um tapa na cara da sociedade e dos costumes que tanto são prezados. A obra consegue de forma majestosa percorrer por assuntos como morte, religião, dor, drogas, violência e amor sem quebrar o tom de seriedade e o peso filosófico, uma desconstrução dos conteúdos adultos que existem nas mídias orientais. É também um anime necessário para a atualidade, que favorece uma reflexão interna do espectador para entender que há momentos em que os verdadeiros demônios somos nós.
Pois “Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você.”  -Nietzsche.


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