MB Review: Hokusai – A vida dedicada à arte
Shunro, Gunmatei, Gakyojin, ou simplesmente Hokusai. Hoje vamos falar sobre essa magnífica obra criada por Shotaro Ishinomori que narra a vida de um dos – se não o maior – artistas japonês de todos os tempos, Katsushika Hokusai. Mais um clássico trazido pela editora Pipoca & Nanquim, é uma obra que particularmente olhei e fiquei atraído tanto pelo autor como para saber mais sobre a vida de Hokusai. Entretanto, a obra é mais do que isso e é sobre esse assunto que vamos falar hoje.
A obra não aborda tanto a infância do artista, acredito eu que por falta de material, afinal, ele nasceu em um época que não era usual fazer registros tão profundos de cidadãos comuns. Isso não quer dizer que não existam registros sobre sua infância, ela é abordada, com momentos bem alegres e também com momentos de tristeza, assim como é nossa vida, e isso ocorre durante todo o mangá. É um conto sobre a vida de um magnífico artista.
Hokusai te prende e Ishinomori apresenta um timing certeiro a cada capítulo, onde você consegue aprender uma lição de vida, conhecer um senhor resmungão e também um homem bem humorado. Outro fato muito abordado no mangá é como Hokusai era um autêntico mulherengo, não é dito se isto realmente era uma característica de Hokusai, ou se foi algo acrescentado pelo autor, mas caso tenha sido acrescentado por ele ficou muito bem encaixado, de tal forma que não foi perceptível se isso era ou não fato ou apenas fantasia.
A obra conta vários detalhes sobre a vida do desenhista, sobre períodos de sua vida e o que levou o desenhista a chegar a tal ponto de sua arte. Hokusai levava vários assuntos de forma bem humorada, mas em nenhum momento ele leva a arte com humor, criar suas artes é quase como uma religião, aprender novos métodos é um desejo insaciável que ele teve, tanto que era bem comum artistas mudarem de pseudônimo naquela época, mas nada comparado a Hokusai, pois estima-se que ele tenha tido mais de 30 pseudônimos, praticamente um para cada estilo de arte na qual ele tinha a ambição de aprender.
Entretanto, não era apenas de pseudônimos que ele mudava com constância, acredita-se que em seus 90 anos de vida (onde a expectativa de vida naquela época era em torno de 50 anos) ele mudou de casa mais de 90 vezes, e isso é bem retratado no mangá, onde, durante sua vida adulta, ele passa por vários locais, com várias paisagens e pessoas.
Caso ainda não saibam, Hokusai foi o criador do termo “mangá”, porém o que ele criou é bem diferente do que vemos nas obras atuais e na qual eu acabei de ler. O mangá que Hokusai desenhou tinha imagens para que seus alunos pudessem estudar mais sobre o seu estilo e aprender, repleto de formas, movimentos corporais e paisagens. As imagens de seu mangá podem ser vistas aqui.
Dentre as várias perdas que o artista sofreu em sua vida, e que são relatadas no mangá, talvez a mais expressiva, dado sua sede insaciável pela arte, foi a de seu acervo com mais de 30 mil obras. Dentre elas havia pinturas, xilogravuras, livros ilustrados, ilustrações eróticas e por aí vai, com toda certeza foi uma grande perda não só para Hokusai, mas para a história.
O auge de sua carreira se deu depois dos seus 50 anos de idade, já era amplamente reconhecido e aclamado por seus feitos artísticos, o que é uma boa lição para nos mostrar que não existe a falácia de “estou velho demais para isso”, foi exatamente nessa “flor da idade” que, em seus 67 anos, Hokusai publicou as xilogravuras das Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, arte esta que pode ser vista na sobrecapa do mangá.
Enquanto existe vida, existe progresso, tanto que, a obra é focada em sua carreira acima dos 40 anos, apesar de também trazer algumas lembranças anteriores, mas não parou por aí. Hokusai falava abertamente que tinha em seus planos viver mais de 100 anos, pois segundo ele, seria nesta idade o auge de sua arte, a qual ele passou a vida toda aprimorando e não tentando retratar o movimento das pessoas, o externo, já que muitos artistas fazem isso. Hokusai tentava incansavelmente alcançar o interior, enxergar o que tem dentro de si.
Um homem que dedicou sua vida à arte, era esplêndido e amplamente reconhecido, porém, ao fim de sua vida, infelizmente foi alguém sem posses, vivendo apenas junto de sua filha Oei, que também era uma excelente artista e se apaixonou pelo ofício do pai.
Cena noturna em Yoshiwara (吉 原 格子 先 之 図) por Katsushika Ōi
Vale a pena?
Vale com certeza cada centavo, é uma obra magnífica de Ishinomori, que também é um excelente artista. A obra tem lindas paisagens e expressões criadas pelo autor. Além de que vale ressaltar a riqueza da narrativa, que traz lições de vida, humor e uma doação total de Hokusai pelo seu amor à arte. O mangá é abundante em artes criadas pelo próprio Hokusai.
Hokusai é um artista tão importante que conta com um museu próprio, onde são exibidos apenas as suas obras. O museu se encontra no Japão e o endereço está aqui. Compre sem medo, é um clássico que você vai adorar. Lembrando que é uma obra que contém nudez, então é recomendado para pessoas acima de 18 anos.
A edição apresentada pela editora Pipoca & Nanquim merece um destaque, conta com sobrecapa e verniz localizado, além de um belo marca páginas. Apesar de suas 612 páginas, por conta do miolo ser em papel Pólen Bold, o peso não incomoda na leitura e não cansa. Li alguns relatos de pessoas que se depararam com transparência nas páginas, realmente existe uma leve (sério, é bem leve) transparência que você sequer consegue identificar o que tem do outro lado, mas ela lá está, mesmo que de forma quase imperceptível. Não sei explicar o que ocorreu, pois a gramatura do papel é muito boa e por muitas vezes quando eu ia folhear o mangá pensava que tinha pego 2 páginas, mas era apenas uma página mesmo.
Outro ponto a se considerar é sobre a lombada amassar. Por conta da lombada ser gigantesca, devido a quantidade de páginas, EU não tive problemas com isso, apenas uma pequena curvatura na lombada em comparação com a sobrecapa. Porém, isso não afeta em nada (pelo menos pra mim), já que o mangá possui a sobrecapa. E pra ser bem sincero, Hokusai é o mangá com a lombada (da sobrecapa) mais bonita que eu tenho até o momento.
Curvatura na lombada ao fim da leitura
Então é isso, espero que tenham curtido essa análise, deixo aqui embaixo algumas informações sobre o mangá e onde comprar caso tenham interesse em adquirir.
Fotos da sobrecapa aberta, miolo e afins, você pode conferir neste link
Compre clicando aqui.
Hokusai,
de Shotaro Ishinomori
612 páginas
Miolo Pólen Bold
Sobrecapa cartão com verniz localizado, capa fosca, acompanha marcador de páginas.
Preço de capa R$89,90
Review feito por Edson e edição gentilmente cedido pela editora Pipoca & Nanquim. Obrigado!
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