MB Review: Uma Vida Imortal – Dando voz a Imortalidade
A Voz do Silêncio é um mangá incrível. É quase um consenso geral entre os leitores de que a obra é muito bem feita e muito bem pensada e, mesmo tendo apenas 7 volumes, conseguiu ser um sucesso de público com sua trama bem amarrada e personagens interessantes. Então, quando a autora, Yoshitoki Oima, anunciou um novo projeto, chamou bastante a atenção.
Em Novembro de 2016, iniciou-se a serialização de Fumetsu no Anata e, e, durante o NewPop Week desde ano, a editora NewPop anunciou a vinda deste mangá para cá, chegando agora em Junho. E é sobre esta obra que falaremos hoje.
Atualmente em publicação com 15 volumes, Fumetsu no Anata e, ou seu título em português, Uma Vida Imortal, conta a história de um ser que não possui nome, características e nem sequer uma identidade própria, e é enviado à Terra para que seu criador possa observar sua trajetória.
Enredo
Iniciando sua vida em forma de esfera, o Ser se transmuta em pedra. Com o aumento da temperatura, em musgo. E então, após ver um lobo morrer próximo a ele, o Ser adquire a forma deste lobo. Ao se transformar, recebe também o ferimento que o animal tinha em si, porém, em um momento, já é curado e nós entendemos que o Ser, assim como o título indica, é imortal.
Não se preocupem em relação aos spoilers, estes eventos acontecem nas primeiras três páginas. Ainda assim, o ritmo no qual o mangá é escrito acaba por fazer um paralelo com a Criação Judaico-Cristã, em Gênesis, o que pode indicar um ponto que abordarei mais à frente.
O restante do mangá, tentando não dar spoilers, se passa com o Ser observando, aprendendo e assimilando. Contemplamos sua inocência em relação a como se deve viver, em contraste com os humanos que encontra em sua jornada, e na exploração de suas culturas.
Assim como em seu antigo trabalho, a autora consegue demonstrar bem diversas sensações e emoções que acontecem com o passar das histórias e com os diferentes humanos que o Ser encontra. Além de que, nas duas culturas mostradas neste primeiro volume, mesmo que brevemente, foi possível identificar traços únicos e condizentes com a questão política e geográfica de cada uma delas, seja na questão da migração para a adaptação do povo que foi encontrado em áreas frias; ou no contato entre os dois povos mais vistos nos demais capítulos.
Apesar de ter alguns diálogos expositivos, estes se fazem justificáveis dentro do contexto de abandono ao qual um determinado personagem se encontra. No decorrer dos demais capítulos, a abordagem é mais sutil,, explorando bem sentimentos, o entendimento do que nos faz humanos, além de uma rica mitologia regional, podendo até ser uma alegoria a como costumes e rituais são, também, intrinsecamente relacionados a nós enquanto espécie social.
Arte
A arte do mangá é um show à parte, que nos pega pelos detalhes. As expressões faciais são o que me chamaram mais a atenção até o momento, podendo ser possível até identificar quando o personagem está querendo enganar a si mesmo, só pelo olhar desenhado. Além de outras coisas mais, como a deterioração do corpo do Ser quando este esquece de se alimentar, ou quando não se protege de alguma coisa e acaba se machucando, por não conhecer a mortalidade e, por consequência, não precisar evitar a dor.
O que esperar
O primeiro volume do mangá possui apenas quatro capítulos. Para os que acompanharam o anime que estreou este ano, o fim deste primeiro volume se encontra no fim do terceiro episódio. A edição da NewPop está bem caprichada, com uma capa linda, papel Off-set 90g, 192 páginas, no mesmo tamanho da edição tankobon de A Voz do Silêncio, para quem quiser fazer a coleção da autora poder ter um padrão quanto ao tamanho, já que a disposição dos itens na lombada (logo da editora, título da obra, número do volume) é diferente entre as duas.
Este primeiro volume acabou abrindo diversos caminhos a se seguir, porém, não desenvolveu muita coisa ainda, acredito que por decorrência da quantidade pequena de capítulos, e, por isso, não é possível apenas com este volume, entender e definir o que a obra abordará como um todo. Contudo, deixa diversos pontos para que nós enquanto leitores fiquemos curiosos quanto ao segmento da história.
Numa opinião pessoal, o mangá pode vir a abordar várias outras culturas com o passar dos volumes enquanto o Ser olha e assimila tudo ao seu redor, sendo no fim das contas, um grande ensinamento sobre o que define a nossa humanidade. Porém, ainda é uma grande conjectura do que o mangá pode vir a ser.
Eu, assim como muitas pessoas, acredito que Yoshitoki Oima tem a capacidade narrativa de entregar algo brilhante, ainda mais com uma premissa dessa, que é simples, mas com potencial para se tornar mais rica, devido a suas várias camadas.
Além disso tudo, ver aquele Ser, sem nome, olhando para os seres humanos e começando a tentar aprender sobre aquilo faz com que reflitamos um ponto importante, que pode ou não ser o tema central dessa obra, mas que com certeza é algo que vale a pena pensar:
Afinal, o que nos torna Humanos?
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