MB Review: Uma Vida Imortal #2

Uma das citações filosóficas mais repetidas à exaustão foi dita por Sócrates. “Só sei que nada sei”. Essa frase, embora pareça contraditória, carrega um dos significados mais belos que se há para refletir. Admitir e entender que você sabe pouco, ou até mesmo nada, é o primeiro passo para realmente aprender coisas novas. Assim sendo, quanto mais sabemos, mais percebemos que ainda nos falta muito a aprender. Tal frase inclusive pode ser considerada posta à prova graças ao efeito chamado Dunning-Kruger, que mostra que quanto mais vamos nos aprofundando em um determinado assunto, mais percebemos o quão ignorantes éramos nele.

E por que iniciar essa resenha de uma forma tão diferente, alguém pode se perguntar. E a resposta está no próprio mangá, mas mais pra frente explicarei. Por enquanto, sejam bem-vindos à continuação de Uma Vida Imortal.

Antes de começar a resenha, vale ressaltar duas coisas. Primeiramente, essa resenha tem spoilers do volume 1. E em segundo lugar, às vezes vou acabar fazendo referências a coisas que comentei na resenha do volume 1, MB Review: Uma Vida Imortal – Dando voz a Imortalidade, portanto, sugiro que leiam ela antes de vir para cá, ok? Feitas as devidas explicações, vamos à análise.

Contextualizando

Após o incidente com o urso-demônio, Marsh, Fushi e Parona são levadas para Yanome para evitar que o impedimento do ritual seja divulgado para o povo de Ninanna. Ali, acabam expandindo suas noções sobre questões que verdadeiramente estão acontecendo entre os dois povos.

Sobre o Volume

Na resenha anterior, comentei que o mangá ainda não tinha dito a que veio e que, apesar de ter aberto vários caminhos, ainda não estava claro qual trilharia. Fico muito contente em comentar que isso parece estar mudando agora. Mais do que isso, o mangá aparenta seguir o que eu havia comentado quando disse que “o mangá pode vir a abordar várias outras culturas com o passar dos volumes enquanto o Ser olha e assimila tudo ao seu redor, sendo no fim das contas, um grande ensinamento sobre o que define a nossa humanidade”.

O Ser, agora chamado de Fushi, começa a ter algumas melhorias em relação a sua conduta e seu entendimento sobre o comportamento humano e, cada vez mais, vem adquirindo consciência ao ponto de poder evitar algumas coisas, mas não o faz para manter sua capacidade de raciocínio intacta.

O ponto alto desse volume – e se continuar neste nível, do mangá inteiro – é sua construção de mundo. Criar um mundo no qual você possa falar sobre ele livremente sem parecer que você quer apenas falar sobre o quão trabalhoso foi para ti, enquanto autor, é uma situação difícil, ainda mais se levarmos em conta que algumas situações precisam de exposição, pois se não nunca serão notadas. 

 Yoshitoki consegue ir demonstrando diversas nuances, principalmente culturais e políticas, de seu rico mundo de uma forma natural, principalmente colocando Fushi enquanto protagonista.

Em diversos cursos de escrita criativa, se é explicado que uma técnica para se gerar empatia com o protagonista é criar nele um personagem que é “uma casca vazia” para que nós, enquanto leitores, nos projetemos nele. Fushi vai além disso e de uma forma muito bem trabalhada. Ele não é apenas uma pessoa sem personalidade. Ele é alguém que está aprendendo a ser humano.

O mangá também conta com cenas de ação interessantes, com um ritmo bem dosado sem se estender demais, apesar de que, ao meu ver, uma cena em específico deu uma leve impressão de que “veio do nada”, porém, ao mesmo tempo, criou-se mais um caminho para ser explorado. Mas a parte que me arrebatou não foi nem a criação de mundo nem o Fushi, mas a coragem de Yoshitoki Oima.

Admito que é difícil falar desse ponto sem dar spoilers, mas quando falamos de culturas, estamos nos referindo a um conjunto de características e tradições de um determinado grupo. Isso não é algo mau nem bom. Não há juízo de valor na cultura em si. Mas em suas consequências sim. 

O que o ser humano pode fazer por aquilo que acredita é algo que, sim, pode ser julgado. E não só em relação à cultura, que é um movimento social, mas em relação ao indivíduo também. E a autora soube demonstrar, mais de uma vez, como conflitos culturais podem ser problemáticos para as pessoas. E não poupou esforços algum para isso. Nesse volume, apesar de não ter sentido tanto assim o baque, consegui entender porque uma amiga classifica Uma Vida Imortal com o gênero “dor e sofrimento”.

Trabalho Editorial

Antes de falar do volume em si, acho válido um parênteses aqui para parabenizar a editora NewPop pelo seu trabalho no Instagram de explicar sobre alguns pontos culturais do mangá, principalmente sobre o sistema de escrita Yanome e a questão arquitetônica. Inclusive, caso alguém tenha curiosidade, o sistema de escrita não é um alfabeto mas aparenta ser um abugida, um sistema em que apenas consoantes têm símbolos escritos e, caso haja uma vogal, a letra é levemente alterada. Um exemplo de escrita assim no nosso mundo real é o Devanágari, a escrita sânscrita indiana. Caso queiram conhecer sobre o idioma, o post se encontra aqui https://www.instagram.com/p/CUfWnl4giMK/

O volume segue o mesmo modelo de Happiness e A Voz do Silêncio (primeira edição), ao preço de R$26,90. Neste volume não encontrei erros de gramática ou ortografia e aqui foi possível perceber como a editora acertou nesta tradução, pois em uma determinada frase é dito o título do mangá e a tradução casou perfeitamente com a frase. 

Conclusão

Abri essa resenha falando sobre o Não-saber. O entendimento de que há muito o que saber é o primeiro ponto para realmente ir atrás de entender algo e que alguém que compreende que não sabe nada já sabe mais do que aquele que acha que sabe algo. E esse volume me reflete bastante essas ideias. Aqui, podemos assumir que, assim como Fushi, sabemos pouquíssimo sobre esse vasto mundo e, ao admitir isso, podemos explorá-lo, seguindo a missão desse próprio Ser Imortal. Aprender.

Agradecimentos a loja Anime Hunter pelo volume cedido para análise. Caso queiram adquirir na loja da Shopee: https://shp.ee/z5tgzdj

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