MB Classic: Slam Dunk (1993)

A jornada apaixonante que vai muito além de nossas expectativas.

Hanamichi Sakuragi, estudante, dezesseis anos. 1.90 de altura, 83 kg de peso, cabelo ruivo com uma franja na testa. Hiperativo, simplório, ingênuo, e juntando tudo: é um jovem delinquente líder de uma gangue de amigos, e que não é nada popular com as garotas, levando 50 foras. Esse é o protagonista de Slam Dunk, que ao ingressar no ensino médio no colégio Shohoku, conhece a estudante Haruko Akagi, uma garota gentil e amigável pela qual imediatamente acaba se apaixonando, enquanto ela questiona se ele gosta de basquete.

Sakuragi odeia basquete, e não sabe nada sobre, mas para se aproximar de Haruko afirma que sim, e é nesse gatilho iniciado, para tentar agradar uma garota e aproximar-se dela, que dá começo a imprescindível jornada de um gênio basqueteiro do Shohoku, Hanamichi Sakuragi.

“Slam Dunk!”

Possivelmente, você já deve ter ouvido falar alguma vez sobre a mais relevante obra de basquete de todo o Japão, Slam Dunk, um mangá escrito e ilustrado pelo mangaká Takehiko Inoue (Vagabond, Real), que foi serializado na revista Weekly Shonen Jump de 1990 até 1996. 

A obra de Inoue é um clássico absoluto, a relevância e influência de Slam Dunk com as suas mais de 100 milhões de cópias vendidas em todo o Japão se reflete no prestígio do público, como em um expoente que influenciou posteriores obras de gênero esportivo e num impacto gradativo sobre a popularização do basquete em escolas japonesas, um esporte que estatisticamente não era tão popular no país. 

Enfim, apenas um pouco sobre a obra e seu tamanho, que acabou recebendo também uma adaptação em anime, nosso foco principal da resenha, produzida pelo estúdio Toei Animation, tendo início de exibição em 16 de outubro de 1993, na TV Asahi, até 23 de março de 1996. A direção do anime que possui ao todo, 101 episódios, é de Nobutaka Nishizawa. 

Slam Dunk

Mangá x Anime: Existe comparação?

De início, é necessário falar da questão individual sobre a preferência maior a um meio específico que retrata uma história narrativa (Mangá, anime, etc), e também da comparação talvez injusta que existe entre esses meios, já que possuem formatos e características distintas de apresentar uma história narrativa. Pois é quase, ou impossível, que a forma de contar uma história narrativa seja idêntica entre qualquer meio, justamente pela diferença geral de aspectos únicos e técnicos. 

Tendo essa diferença, cada meio apela para instigar a pessoa que está consumindo o produto artístico. Mesmo que se trate de uma adaptação em anime, por exemplo, que geralmente bebe de uma fonte narrativa original (mangá, light novel, etc).

Em relação ao nosso exemplo principal, Slam Dunk, existe uma preferência predominantemente maior do público que se apaixona pela obra, o mangá, que em seu formato “histórias em quadrinhos” apresenta a narrativa escrita de forma transcendental e a ilustração que faz o imaginativo do leitor abusar de elogios. A obra no mangá, sem dúvidas, possui um poder absurdo de trazer durante a experiência de leitura diversas emoções, das quais são as mais satisfatórias possíveis. 

Porém, não dá para comparar a forma que a história de Slam Dunk é apresentada no mangá com o anime, se pensamos nesse quesito de distinção único que cada meio tem de tentar instigar o público. 

A preferência das pessoas sobre cada um existe, de fato, no formato que mais acaba trazendo em sua perspectiva a sensação de satisfação durante o consumo da narrativa nesse meio, como o mangá de Slam Dunk por exemplo. Mas a experiência será totalmente outra, no caso o anime de 1993, que possui aspectos únicos de contar essa história, instigar, seja através do movimento que o anime traz, o som, a voz do personagem, etc.

A comparação então, entre o anime e mangá, pode acabar sendo desproporcional por pegar uma lógica de comparar o contexto de suas estruturas e técnicas utilizadas para contar a história em questão, e que pode propagar uma ideia absoluta de que “Slam Dunk compensa apenas ler o mangá” ou “A adaptação de Slam Dunk é ruim, não é fiel” excluindo qualquer possibilidade de experienciar que a obra dentro do que o formato anime pode oferecer.

Até numa possível análise crítica, sendo pautada dentro do contexto narrativo em sua forma, se não existe esse deslocamento da ótima concepção estabelecida pela experiência de ler o mangá, certamente a ideia de que o anime é ruim como adaptação, por ser “datado”, ou por não adaptar tudo, pode ser absoluta, e de certa forma, injusta, subjugando a experiência que ao assistir o anime poderia trazer.

Adaptação: Produção, basquete e os personagens

A animação talvez possa trazer um certo incômodo para aqueles consumidores de animes, que não estão acostumados com o padrão de animações mais antigas, como da década de 90 ou 80. As produções no contexto da época de Slam Dunk, ainda no início da década de 90, possuíam padrões de animação bem diferentes das produções contemporâneas, justamente pelo fato da implementação, no decorrer dos anos, de novas técnicas utilizadas para animar. O público atual, como os mais jovens, está acostumado ao padrão de animações atuais, até dentro do gênero esporte (Haikyuu, Kuroko no basket).

É uma questão talvez “difícil”, mas se o consumidor abre a concepção de que é possível compreender esse contexto da animação na sua época, dentro dos padrões que existiam, – principalmente em um anime semanal – a possibilidade de ter uma experiência magnífica e de até trazer uma análise menos anacrônica sobre o formato dentro de sua realidade, e não baseada num comparar pode surpreender e muito. 

O poder de uma boa direção e um bom roteiro faz diferença, independente da época.

Quando se observa a base narrativa muito bem escrita por Inoue, dá pra sentir como ele trata muito bem o basquete, introduzindo o esporte como um elemento que possui complexidade, expandindo os fundamentos e funções do esporte na obra. 

É algo que está realmente atrelado aos personagens enquanto os desenvolve, trazendo as suas particularidades, seus objetivos e as nuances de emoções de jovens estudantes do ensino médio, que estão competindo em quadra. 

No anime, essa base toma forma dentro de sua realidade, e surpreende como algo tão orgânico permanece, causando facilmente a identificação e afeição do espectador, tanto pelo basquete – mesmo que nunca tenha praticado – mas principalmente em relação aos personagens. Até porque a maioria deles não tem qualquer aprofundamento de seus passados, o carisma e suas particularidades únicas já estabelecem essa familiaridade, esse importar pela jornada de cada um. 

Obs: Até a comédia de Slam Dunk, facilita demais essa aproximação.

É incrível, pois o maior exemplo disso é o próprio protagonista, Sakuragi, que também não tem quase nada aprofundado sobre o seu passado, do início até o fim da série, e isso quase não é necessário. Pensando nessa ideia de que o espectador precisa se importar com ele, pois isso já é feito por meio de uma apresentação do jeito que o personagem é, como ele se expressa, sua relação com o basquete e também com o time. Ele é um rapaz tão carismático e idiota que não tem como não deixar de torcer para ele.

Apesar de ter um flashback rápido lá no meio da história sobre o seu passado, nós importamos com o gênio, mais por conta de seu jeitão natural.

O time Shohoku

A jornada de Hanamichi Sakuragi conhecendo o basquete, mesmo que em sua motivação inicial de interesse pelo esporte seja “aparentemente” ridículo, possui um sentido agradável, pois ao mesmo tempo que o personagem, um jovem delinquente desconexo de algo que traga sentido para os seus dias, começa a encontrar após entrar no time Shohoku.

Uma sensação de importância e pertencimento dentro daquele lugar, e nós, espectadores, estamos aprendendo tanto sobre as nuances de um esporte que pode ser muito complexo, como também estamos sendo levados a simpatizar com as emoções de todo um núcleo diverso de personagens enquanto praticam o esporte. 

Entendemos que a Akagi é o pilar de Shohoku, pela sua função como pivô, mas por trazer um poder de liderança que mantém o restante do time firme durante as partidas. Ele deseja ir para o campeonato nacional de basquete intercolegial, e isso faz o personagem ter que lidar com vários momentos de ver seu sonho entrar no meio de suas inseguranças, que afeta até os mais seguros durante qualquer competição esportiva.

O novato Rukawa, que é o contraponto que nosso protagonista rivaliza, é um estereótipo de “Vegeta” em Slam Dunk, sendo verdadeiramente habilidoso no basquete, aficionado pelo esporte. O inabalável Hisashi Mitsui e a sua redenção; o ágil armador que deseja ser o número 1 de sua posição, Ryota; o vice-capitão Kogure que é um suporte imenso para Akagi; os reservas que apesar de estarem na sombra, sempre estão de apoio; e a relação entre o técnico Anzai, time e a assistente. Enfim, além da capacidade do protagonista de ser imprescindível em qualquer momento, é tudo muito envolvente.

“Best team”

Slam Dunk também possui alguns pontos negativos, como o fato da produção ter sido de longa duração, com mais de 100 episódios, algo que naquela época era bastante comum. Episódios fillers que, apesar de não serem “cânones”, complementam e muito no funcionamento do desenvolver da história dentro do anime. 

E outra coisa que de certa forma é negativa, e pode causar uma certa frustração, é a não adaptação do último arco do mangá. Mas, particularmente, com todas as absolutas concepções sobre o que você possa esperar desse anime, esses pontos negativos meio que não impactam no resultado que a produção foi capaz de trazer, em algo que faz o espectador se apegar de forma apaixonante pela obra fantástica de Takehiko Inoue. 

A adaptação de Slam Dunk é uma surpresa que impressiona, a Toei Animation e todo o staff produziram algo capaz de emocionar o espectador em diversas camadas. É um excelente achado, um clássico, tanto no mangá como no meio das animações.

“Basketball is great let’s play it together!”

Dá o play na abertura:

One thought on “MB Classic: Slam Dunk (1993)

  • 16 de novembro de 2021 em 10:19
    Permalink

    Excelente Matéria Sobre A MAIOR E MELHOR OBRA SOBRE BASQUETE DO JAPÃO!!!!!

    E Que venha mais Resenhas sobre Mangás de Esportes desconhecidos!!!!

    Resposta

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