MB Clássicos: Gatchaman
O Japão nos anos 70 apresentou ao mundo uma forma diferente de entretenimento, seja através de seus filmes, seus mangás com diversos mestres que conhecemos ou com a forma de fazer “desenhos”. Talvez, a forma de como fazer animações pode ser o que mais tenha chocado o ocidente, seja pela sensibilidade de obras, como Versailles no Bara; pelo terror sombrio de Kamen Rider; ou pela crueldade e realismo da obra que vamos falar hoje: Science Ninja Team Gatchaman, ou simplesmente Gatchaman.
Muitos atribuem o conceito de Super Sentai à obra Himitsu Sentai Gorenger, de Shotarou Ishinomori. Porém, uma animação com um conceito muito parecido foi criada pela produtora concorrente da Toei, anos antes! A Tatsunoko Productions (responsável por obras como Speed Racer, Macross, Shurato) havia criado uma animação com cinco heróis que lutavam para proteger o planeta de alienígenas para concorrer justamente com o próprio Kamen Rider, esta de Shotaro Ishinomori. Ou seja, a concorrência com um clássico criou uma das obras mais importantes do Japão, e quem sabe do mundo, Gatchaman.
Quais são os elementos que fazem uma obra de sentais ser considerada um clássico? O desenvolvimento de uma enredo tão clichê atualmente talvez seja o principal ponto. O Dr. Kozaburo Shocker Nambu reuniu 5 jovens para lutar contra as forças de Galactor. Esses 5 Jovens têm habilidades super Humanas e conhecimento do Ninjutsu, além de usarem uniformes que imitam aves. Porém, essa equipe era formada por pessoas tão incompatíveis e imaturas que os conflitos e questionamentos eram inevitáveis.
Gatchaman chocou o seu público na época por mostrar uma violência pesada na animação. Tezuka e Ishinomori já tinham flertado com temas adultos, mas nada comparado a Gatchaman. Foi considerada uma série cult, principalmente nos EUA. e muitos consideram a leva de animação dos anos 80, como He-Man e principalmente ThunderCats, serem frutos inspirados em Gatchaman. Porém, os americanos adoram “adaptar” (pra não dizer cortar e censurar). Em 1978, a versão americana, chamada de Batalha dos Planetas, teve os 105 episódios da série original transformados em 85 com forte edição, cortando toda violência e linguajar inapropriado que a série original tinha. Gatchaman. Os vilões originais eram realmente terroristas e mortais, não tinham piedade. O mesmo acontece com os nossos cinco heróis que recorrem à técnicas mortais para parar a violência dos “vilões”.
O conflitos internos também é um ponto que chama a atenção. O líder Ken Washio e o primeiro imediato Joe Asakura têm diferenças o tempo inteiro, o que acaba colocando as missões e os companheiros em risco o tempo todo. O Dr. Kozaburo é questionado pelos membros sobre suas decisões, os outros membros, como a bela Jun Shiratori e o simpático Ryu Nakanishi, demonstram dúvidas e incertezas sobre suas funções na equipe e o jovem Jinpei Tsubame, que é uma criança feliz e extremamente responsável.
As lutas são outro ponto forte da animação. A equipe utiliza bem de Mechas (robôs gigantes) e de cenas de ação com veículos. O clímax e os plot-twist de Gatchaman são outro ponto a se destacar, com um dos melhores finais se tratando de animações e totalmente satisfatório, julgando por tudo que acontece durante a série.
A animação era bem feita para os padrões da época e com boas cenas, era muito bom ver os protagonistas saírem voando e desviando dos ataques inimigos. Apesar de atualmente ser datado, estamos falando de um anime de 50 anos!!
Gatchaman foi um sucesso imediato no Japão, rendendo uma trilogia da animação principal Gatchaman com 105 episódios, Gatchaman II com 52 episódios e Gatchaman Fighter com 48 episódios. Posteriormente, veio uma série de Ovas, Live Action e uma nova versão em 2013, intitulada Gatchaman Crowds, com duas temporadas.
A série no ocidente
Um dos personagens mais afetados foi o garoto Jinpei, que perdeu o ar maduro e virou um garoto “estranho” que tinha um “tique” (pois o mesmo falava muitos palavrões). Outro personagem “alterado” foi o vilão Berg Katse, que era andrógeno, e virou dois personagens (Zoltar e sua irmã). Em 1986, outra adaptação foi feita e a série passou a se chamar G-Force: Os defensores da terra.
Ambas as versões americanas passaram em diversos canais no Brasil. G-Force passou na Cartoon Network, AXN, Boomerang e Locomotion e Batalha dos Planetas passou rapidamente na Band e no Canal 21, tudo isso no início dos anos 2000.
A segunda e terceira temporada de Gatchaman também foram editadas nos EUA. A primeira foi pela Sandy Frank (Batalha dos Planetas) e Tunner (atualmente dona da Warner). Gatchaman II e Gatchaman Fighter viraram Eagle Riders, adaptado pela já famosa Saban (a primeira empresa que deteve os direitos sobre Power Rangers) em 1996, mas não chegou a ser exibida no Brasil.
Desde 2013, a Sentai Filmworks licenciou, junto a Tatsunoko Productions, o material original e o disponibilizou para os estadunidenses. Desde 2018 ele também pode ser encontrado no streaming HiDrive.
Agora, em 2021, os irmãos Russo (Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato) estão trabalhando em uma adaptação hollywoodiana de Gatchaman, com roteiros de Daniel Casey (Velozes e Furiosos). Ainda não há data, mas se espera algo em 2022, ano que a primeira animação completa 50 anos.
Gatchaman é uma referência e popular até hoje, aparecendo em jogos, como Tatsunoko vs Capcom.
Finalizando, Gatchaman é um verdadeiro clássico, cultuado por muitos e inspirador para outros, tanto por seu desenvolvimento como história, seus personagens cativantes e sua temática mais adulta. Infelizmente, não podemos assistir esse clássico de forma legal no Brasil, mas quem sabe um dia ele volta ao nosso país, com sua versão original.