MB Movies: A maldição da Mulher Cega (1970)
A Maldição da Mulher Cega (no original: Kaidan nobori ryu) é um filme japonês de 1970, dirigido por Teruo Ishii – conhecido no Ocidente por seus primeiros filmes na série Super Giant e por suas obras no gênero Ero Guro – e é estrelado pela cantora/atriz Meiko Kaji, em seu primeiro papel principal sob o novo nome artístico, já que anteriormente era creditada como Masako Ota, o nome que seus pais lhe deram em 1947.
A Maldição da Mulher Cega abre com uma belíssima sequência de ação em câmera lenta entre dois clãs rivais da Yakuza, os Tachibana e os Goda. A líder do clã Tachibana, Akemi (interpretada por Meiko Kaji), ao tentar matar o chefe do clã Goda, acidentalmente cega com sua lâmina a irmã mais nova do chefe dos Goda, a jovem Aiko (interpretada pela atriz Hoki Tokuda). Enquanto Aiko está caída no chão com sangue em seus olhos, um gato preto se aproxima e começa a lamber suas feridas. Desde então, Akemi é atormentada em seus pesadelos pela figura daquele sinistro gato preto e por Aiko, que reaparece anos mais tarde para caçá-la, assim como os membros do clã Goda. E se isso não fosse o suficiente, Akemi ainda precisará defender seu território de outras duas gangues rivais (Dobashi e Aozora) que não medem esforços para tomar o local.
Algo que pode causar estranheza ao espectador nesse longa do senhor Teruo Ishii, além das cenas de horror e de erotismo, é a forma como há muita coisa em tela acontecendo ao mesmo tempo, o que exige do espectador uma atenção maior para não se perder na história aqui contada. Falando em horror, eu gostei bastante da forma como o diretor encaixou o estilo Kaidan (história de fantasma), adicionando um charme a mais para o filme. O longa, além de apresentar momentos de tensão, também conta com um humor bem peculiar que creio que irá agradar os fãs do diretor, que já estão habituados com o estilo dele.
Sobre as atuações, vale destacar as duas personagens centrais desse longa: A líder do clã Tachibana – que possui a tatuagem de uma cabeça de dragão nas costas – e a implacável mulher cega em busca de sua vingança. Começando pela personagem interpretada pela atriz/cantora Meiko Kaji, Akemi é uma mulher forte e que não aceita injustiças, e aqui temos pela primeira vez a atriz nesse tipo de papel, que ela iria “reprisar” em diversos filmes, logicamente com certas diferenças de seus outros papéis.
A Akemi é uma líder mais pé no chão, não é do tipo que ataca na primeira “provocação” de seus inimigos, é uma mulher bastante inteligente e que usa a força apenas como último recurso. Com certeza os fãs de Lady Snowblood ficarão satisfeitos ao conferir esse filme, já que aqui temos cenas bastante sangrentas quando a sua personagem (Akemi) explode em raiva no ato final do filme. É um prato cheio para aqueles que, assim como eu, amam ver a senhorita Kaji desferindo golpes de espada enquanto lança o seu famoso olhar frio de morte.
Do outro lado temos Aiko, a personagem que teve sua visão tirada acidentalmente por Akemi. A atriz que a interpreta é Hoki Tokuda e, sendo esse o seu primeiro filme que eu assisti, confesso que fiquei impressionado com a sua atuação e com vontade de conferir mais de seus outros trabalhos. Aqui vemos uma excelente atuação por parte da senhorita Tokuda, uma personagem cega e que, ao mesmo tempo que carrega muita raiva e desejo por vingança, ainda conserva um bom coração, tendo o seu olfato determinante para reconhecer uma pessoa que possui um bom coração e vice-versa. Para mim, o filme teria mais cenas com maior tempo de duração com essa interessante e letal personagem, que não faz feio perante a grandiosa atuação da atriz/cantora Meiko Kaji.
A Maldição da Mulher Cega está presente no segundo volume de Cinema Exploitation, da Versátil Home Video, coletânea dedicada ao cinema oriental. Nessa edição temos ainda outros três clássicos do gênero: A Escola da Besta Sagrada (1974), Sexo e Fúria (1973) e Bohachi: o clã dos oito esquecidos (1973), sendo esse último baseado num mangá do Kazuo Koike (Lobo Solitário).
É um longa bizarro (no bom sentido) do renomado diretor Ishii, que mistura filme de Yakuza, com história de fantasma e algumas doses de erotismo. Para aqueles que não estão acostumados com esse estilo, podem acabar “dropando” no início, pois o longa possui certas cenas que podem causar certo desconforto ao espectador, mas para os fãs do gênero, e principalmente da filmografia da Meiko Kaji, esse é um longa mais que obrigatório na coleção, e eu sinceramente torço muito que a Versátil Home Video traga mais filmes da senhorita Kaji, assim como do cinema japonês em geral.
Curiosidade adicional: A música tema de “A Maldição da Mulher Cega” é cantada pela própria Meiko Kaji, Jingi Komori Uta, e o single foi seu primeiro lançamento musical. A música também aparece em seu primeiro álbum completo, Guncho Wataridori.