MB Literário: Re:Zero (Novel)
Não acho que seja exagero marcar 2012 como o começo de uma nova grande tendência. Com o surgimento de Sword Art Online e sua popularidade massiva, foram cada vez mais frequentes enredos em que um personagem vai até outro mundo, sendo o gênero conhecido como isekai.
Longe de ser o inventor dessa ideia, visto que mangás mais antigos como os da Rumiko Takahashi já faziam isso, ou até mesmo na literatura temos vários exemplos desse enredo como Alice no País das Maravilhas, O Mágico de Oz ou As Crônicas de Narnia, mas SAO deu uma popularizada no gênero.
E como acontece quando algo fica popular, logo os conceitos se repetem e se tornam clichês e a mídia fica saturada disso, criando um preconceito nativo entre os que acompanham. Uma das obras que mais foge dessa bolha é justamente Re: Zero – Começando uma Vida em Outro Mundo, ou só Re: Zero mesmo. Em conversas em grupos, é comum ouvir coisas como “É isekai, mas presta” quando falam desta obra especificamente.
Mas o que tem de tão chamativo justamente nesta obra pra ela se afastar de todos os outros do mesmo gênero? É o que vamos abordar a seguir.
Re: Zero tem como protagonista Subaru, um garoto que estava passando em uma loja de conveniências quando de repente se vê em um outro mundo, numa grande feira livre. Uma sexta-feira normal. Ao chegar neste novo mundo, alguns bandidos o cercam e o ameaçam, mas ele é salvo por uma garota de cabelos prateados. Depois da confusão, a garota comenta que perdeu um item importante e Subaru, para ficar quite com a garota, aceita acompanhá-la na busca para recuperar este item mencionado. Jornada esta que o leva a sua morte.
Calma, calma, isso não é spoiler. Pois assim que a vida de Subaru se esvai…ele se vê de volta a feira na qual chegou a este mundo. Neste ponto, descobrimos o seu poder. Voltar no tempo quando morre.
Isso por si só é um poder bem tosco, diga-se de passagem, mas admito que foi justamente isso que me chamou a atenção para a história. A história começou em 2012 como uma web novel e em 2014 se tornou uma Light Novel, formato esse que se mantém até hoje. Atualmente, possui 27 volumes e o autor deu entrevistas de que estava na metade da obra.
Diferente de mangás, mesmo Light Novels de sucesso não duram tanto tempo assim. Zero no Tsukaima teve 22 volumes enquanto Sword Art Online está atualmente em seu volume 26. Então, como uma obra que trabalha com um conceito tão estranho como “o poder do personagem é morrer e voltar” conseguiu se sustentar tanto? A premissa é o bastante para manter tanta história?
Infelizmente, são respostas que não conseguirei dar agora, visto que essa é uma resenha só do volume um, mas acredito que consegui instigar algumas pessoas com esse início. Mas, antes de continuar, uma rápida contextualização caso você acompanhe a obra através de outra mídia. Para quem acompanha o anime, o volume 1 vai até o episódio 3. Para quem acompanha o mangá, publicado na editora Panini, este volume é equivalente aos capítulos dos dois primeiros mangás, concluindo o chamado Primeiro Arco.
Lendo este primeiro volume da novel e sabendo um pouco sobre os demais, algumas coisas me foram perceptíveis. A primeira delas é como este poder acaba tendo um caráter involuntário tão forte que o distancia de premissas semelhantes de volta no tempo como O Feitiço do Tempo, que citei aqui um tempo atrás fazendo a resenha de Fireworks.
A volta no tempo não acontece num ponto específico até o final da obra, como no filme A Morte te dá Parabéns, por exemplo, em que sempre volta no início do dia. Mas, após a resolução de uma questão, um novo local é marcado como o momento da ressurreição. O próprio personagem, viciado em animes e jogos, compara isso aos savepoints de um jogo, em que após um determinado ponto de um jogo, ele salva automaticamente e você lida com aquela nova realidade.
Outro ponto também importante a ressaltar é como as mortes não são usadas de forma leviana. Cada vez que Subaru experiencia essa sensação de morrer, é descrito de forma brutal, intensa e dolorosa. Não é simplesmente o voltar no tempo, mas é uma experiência que tranquilamente poderia render até um futuro TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). O ato de voltar no tempo não é visto como um simples facilitador, como “se tudo der errado, é só voltar no tempo”. Claramente, Subaru não quer morrer de novo e nem vê isso como uma alternativa caso as coisas deem errado. Então, isso acaba trazendo um conflito interessante que vai permear toda a obra. O super poder de Subaru é algo que ele vai querer evitar usá-lo. E isso me chamou ainda mais atenção em Re: Zero.
Se tratando do universo apresentado, infelizmente não tem muito o que chamar a atenção nele até o momento, e pelo que vi, esta é uma das maiores críticas à obra. É um universo relativamente genérico, com nada que chame verdadeiramente a atenção na ambientação. Mas, se os personagens forem bem trabalhados no passar dos demais volumes, não acho que isso seja algo ruim, pelo contrário. Pode ter sido uma escolha pensada justamente para dar o foco para o que importa, deixando a ambientação em segundo plano em comparação aos protagonistas. Claro, isso pode funcionar desde que a ambientação seja coerente em sua simplicidade.
Falando agora da questão da Novel em si, ela segue o padrão de várias outras da editora. Seguindo o formato de 11 x 15cm, o volume possui 416 páginas contendo capítulos e algumas ilustrações. Vale ressaltar que não achei erros de revisão em minha leitura, apesar de que um ponto que me incomodou, mas isso é apenas estética do texto. A forma com a qual a narração utiliza artigos antes do nome de pessoas deixa a fluidez do texto pouco natural. Como por exemplo: “Foi então que o Subaru fez isso” ao invés de “Foi então que Subaru fez isso”. Detalhes.
Lendo também sobre alguns comentários, percebi que muitas pessoas detestam a cor da lombada escolhida pela editora, dizendo que uma cor branca combinaria melhor. Porém, neste ponto, devo dizer que a editora apenas seguiu o projeto gráfico utilizado no Japão, então não foi uma escolha equivocada de design brasileira. E também não sabemos como foi o contrato, então não podemos afirmar que era possível oferecermos a criação de um projeto gráfico próprio.
As poucas ilustrações que houveram com o passar do texto são interessantes. Assim como a ambientação, são um tanto quanto genéricas, mas também são bem feitas. Apesar de eu precisar comentar sobre como ter lido o quanto Reinhard era belo e charmoso e me deparar com ISSO, foi uma quebra de expectativas gigantesca pra mim, não no bom sentido.
Mas, por imagens que eu já vi de volumes futuros, a arte começa a ficar cada vez mais bela com o passar dos capítulos.
Antes de finalizar, vale a pena comentar um outro ponto que vi em discussões. Sei que essa resenha já está com muitas questões que vi sendo discutidas mais para a frente e não apenas sobre essa novel, mas fiz essa pesquisa não para deixar este volume a sombra do que vem pela frente, mas para não criar falsas expectativas e verificar se o que vi aqui, tanto de bom quanto de ruim, se perpetua nos volumes seguintes. Justificativa feita, vamos à discussão final.
O personagem Subaru é odiado por muita gente. Não sei dizer quais os motivos exatamente, até porque, como falei anteriormente, a pesquisa foi feita pra confirmar impressões que tive, não para me dar spoilers. Mas falando deste volume, é possível entender alguns dos motivos. Subaru entra numa categoria de personagem mais “vazio”, servindo mais como os olhos do espectador. Isso pode incomodar algumas pessoas, somada a ações tomadas futuramente que desconheço, mas não particularmente me incomodou neste caso devido a suas ações. O fato dele ser um louco por animes e jogos e não pensar automaticamente em voltar para sua casa, mas sim em explorar o lugar por estar realizando um sonho me foi uma característica bem chamativa. Sei que agora temos outros casos desse, mas que nem falei no começo da resenha, esta obra começou há quase dez anos.
Finalizando, este primeiro volume de Re: Zero tem uma leitura agradável e um bom início e apresentação tanto do tema quanto de alguns dos personagens principais. Apesar de não me chamar atenção o bastante para continuar a leitura, entendo seus méritos e os reconheço, apenas não sendo uma de minhas prioridades. Mas, ressaltando que este é o primeiro volume e provavelmente a apresentação se estenderá também no volume 2, onde uma das personagens mais conhecidas da franquia está na capa. E sua irmã gêmea de cabelo rosa e menos importante para a fã-base também.
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