MB Review: On or Off 1º Temporada
Webtoon de sucesso, On or Off ganhou uma linda versão nacional impressa, a primeira licenciada no ocidente, que conta a história (e as desventuras) do jovem Ahn Yi-young, membro de uma promissora equipe que vive a experiência de sua primeira contratação por uma importante corporação. Yi-young só não contava que teria como chefe um belo rapaz que mais parece ter saído de um sonho (daqueles bem ousados), o Diretor Kang.
A narrativa
Como eu acabei trabalhando numa empresa como esta…?! Ahn Yi-young, uma tenra flor de 23 anos, desafiando o mundo dos negócios com uma startup montada com amigas da faculdade, vai à empresa SJ para tentar ganhar um contrato.
No momento em que se preparava, tremendo, para a apresentação, o coração de Yi-young começa a bater loucamente diante da figura de Kang Dae-hyung, o maioral da empresa…!“Normalmente não tenho interesse em homens, mas… com um rosto desses não há nada que você não consiga.”
Sinopse Oficial
A sinopse oficial acima resume bem pouco do que vem a ser a história de On or Off, manhwa de A1, originalmente um webcomic coreana em publicação desde 2019. Além de acompanharmos essa caminhada de Ahn Yi-young em seu descobrimento como profissional e o seu trabalho em equipe com suas amigas, também somos apresentados a Kang Dae-hyung, um homem recém divorciado, recluso e muito atraente. A dinâmica entre os personagens é o ponto alto da obra, ao meu ver, pois a autora constrói muito bem a relação deles, além também de colocá-los num contexto social que favorece a narrativa.
A análise a seguir contém spoiler da primeira temporada – volumes 01 e 02 – pois vamos apresentar características e pontos da narrativa e da relação entre os personagens.
Precisamos falar sobre Kang
Num primeiro momento, o que salta aos olhos na sinopse é a frase de Kang, bem direta e até agressiva de certa forma. Essa ideia é perpetuada no primeiro volume e, nas cenas em que os personagens interagem, Kang é retratado como um cafajeste de marca maior.
Em determinados trechos, Yi-young fantasia com o chefe e imagina ações e reações. Nesses momentos, Kang é representado também como alguém sedutor e mais ríspido, mas nada comparado a como ele é quando os dois rapazes se encontram de fato. Me incomodou bastante na leitura a forma com que ele trata Ahn, e talvez tenha sido proposital da autora construir essa narrativa para que o caminho da redenção de Kang fosse convincente – e foi!
No primeiro encontro, Kang é um completo babaca, o que entristece muito o jovem Ahn (e os leitores!). O jovem, que já é inseguro, pensa em suas desastrosas relações amorosas anteriores e se ilude com o tão galante chefe, que o usa. A cena de sexo (não a imaginada, a que aconteceu mesmo) não é legal, me causou uma grande má impressão e ao terminar de ler o volume eu realmente julguei o Kang como o cafajeste que o pintaram.
É aí que entra a ferramenta da redenção de Kang e que funciona muito bem. No segundo volume da obra o personagem muda totalmente, a narrativa nos aproxima dele como pessoa e passamos a refletir sobre quem ele é e como ele chegou até ali. A desilusão amorosa recente, a pressão social de ser quem ele é, a sua postura e a necessidade de ser a referência, tudo isso mascara um pouco os sentimentos de Kang.
Conforme os protagonistas se aproximam, numa mistura de amizade, relação de trabalho e flerte, podemos notar que Kang é mais do que aquela cara séria (e linda). Ele também é delicado, atencioso, preocupado e agradável – adjetivos que eram inconcebíveis de dar a ele na primeira parte da história. Claro, isso não justifica nem ameniza os atos e toda a mágoa que causou a Ahn em seu primeiro encontro, mas contribui para a redenção do personagem de forma positiva.
E é nessa tentativa de se redimir que as coisas ficam mais confusas para Ahn – e divertidas para o leitor. Vamos ao próximo tópico.
O início da ilusão do romance
Yi-young, nosso protagonista, é jovem. E isso já diz muita coisa sobre o que a história vai mostrar, pois gente jovem é sempre assim: animada, entusiasmada e iludida. Ok, talvez eu tenha uma visão bem limitada da juventude, mas a tenra idade e a inexperiência profissional de Ahn são pontos importantes da narrativa. Entram em contraponto exato com as características de Kang, rapaz maduro e bem sucedido na carreira. Esse contraste entre os dois é um tropo bem presente em diversos romances e foi muito bem aproveitado e trabalhado por A1 (pseudônimo da autora).
No começo da história, logo que Ahn entra na empresa e conhece Kang, rola aquela paixão platônica imediata (algo que depois descobrimos ser um traço da personalidade de Yi-young desde sempre). E foi impossível não me identificar com ele nesse quesito. Somos do clube das dores reais de amores imaginários. Ao longo da primeira parte toda, não é possível dizer que Kang também está interessado, e a paixão fica mesmo no campo das ideias. Porém, isso muda radicalmente na segunda parte, quando ambos estão mais próximos.
É nas brechas dos seus atos que Kang ilude. E nós, leitores, vendo tudo pela perspectiva de Ahn, acabamos tão iludidos quanto o protagonista, sempre imaginando que aqueles atos são uma forma de corresponder os sentimentos de Ahn, para depois em seguida vermos que não era. E logo em seguida já ficar em dúvida de novo! E a autora vai nos levando para essa dúvida constante e passamos a ficar procurando mesmo se Kang está “dando bandeira” para Ahn ou só está sendo educado.
“Lembrando em cada riso teu, qualquer bandeira”, como já cantou Cazuza.
A temporada encerra com esse impasse. Não sabemos se a relação dos dois vai engrenar ou se de fato só existe na cabeça de Ahn e tudo o que os dois passaram juntos foram momentos gentis confundidos com atitudes românticas. Em defesa de Ahn, e do clube dos iludidos, eu acredito que Kang está sim correspondendo aos sentimentos do jovem, mas da forma dele. Ahn pode até estar fantasiando algo além, mas é improvável, ninguém não interessado se esforça tanto quanto Kang para manter Ahn por perto e bem.
A tão falada censura
Outro ponto bastante discutido sobre On or Off é a censura. No primeiro volume, temos cenas das fantasias de Ahn que não são explíticas e a cena controversa de sexo entre os protagonistas, que mostra mais do corpo do jovem. Vale ressaltar que a história é da perspectiva de Ahn, então nesse primeiro volume ele não tem um bom encontro com o diretor e acaba não “vendo” muito do ato entre eles, o que trás toda a problemática da canalhice de Kang.
No segundo volume as cenas de sexo são explícitas. Porém, existe ali um fator romantico além do erótico que é o Kang tentando se redimir pelo primeiro encontro grosseiro, então a cena ganha uma conotação mais amorosa e, mesmo com “tudo a mostra”, é leve de se acompanhar e reflete mais sobre a relação social entre os personagens que se estabelecerá a partir dali.
Assim sendo, mesmo aos leitores que nunca experienciaram uma leitura +18, On or Off funciona. A minha única leitura BL havia sido Boys Next Door, de Kaori Yuki, e nunca havia lido nenhuma obra erótica ou com cenas do tipo. Pela cena de sexo mais explicita ter essa roupagem mais romântica, eu achei que foi uma boa primeira experiência.
As edições físicas
Como dito, a versão ocidental da NewPOP foi a primeira a ser licenciada no ocidente e ganhou uma edição muito especial. Capa cartonada com orelhas, uma impressão 100% colorida, páginas em couché e o formato de 15x21cm (um pouco maior que os mangás normais). A edição também é sem censura, o que surpreendeu. Por conta da ausência de restrição nas imagens, a obra é classificada como proibida para menores de 18 anos, algo que a editora evidencia na capa de todos os volumes (assim como a original).
Embora ainda careça de revisão, os textos dos dois volumes de On or Off são muito bem adaptados e pouca coisa passou incorretamente, nada que comprometa a leitura ou que atrapalhe a cadência dos fatos. A qualidade de impressão é o que mais encanta, os volumes estão lindos demais e seguem fielmente o projeto gráfico da original. Caso você queira conferir como estão as edições, temos vídeos no nosso canal do Volume 01 e do Volume 02.
Pra concluir
A leitura de On of Off é muito divertida. Gosto da energia jovial de Ahn e gostei ainda mais do Kang gentil que nos foi apresentado no segundo volume. Torço para que os sentimentos do jovem Yi-Young sejam correspondidos à altura e que os dois possam se entender melhor e conversar sobre seus sentimentos na segunda temporada. Também torço para que ele tenha sucesso profissional e que essa relação amorosa entre ambos não atrapalhe os trabalhos dele e de sua equipe. Vamos ver o que nos aguarda na segunda temporada de On or Off, com os volumes 03 e 04.
Agradeço imensamente a nossa loja parceira Anime Hunter por nos disponibilizar as edições para análise.