MB Review: Philosophia – Amar e ser amado
“Sabedoria e amor são duas ações mentais iguais. Para saber algo é necessário amor e para amar algo é necessário sabedoria”.
(Kitaro Nishida)
Em 2018, foi lançado no Brasil, pela editora NewPop, um volume único Girls Love intitulado “Philosophia”, escrito e ilustrado por Amano Shuninta. A obra conta a história de Ai que, em seu primeiro ano como universitária, não está feliz com seus colegas que só querem saber de festas e sexo. Todavia, seu cotidiano muda até conhecer Tomo – que apesar de ser muito difícil de se conviver e que vive se metendo em problemas, passa a se aproximar cada vez mais de Ai.
Tendo uma premissa e sinopse interessante, a história foi uma das mais atípicas experiências que eu tive em relação a narrativa sobre relacionamentos, uma trama que aborda a relação do amar e a correspondência do amor, as dificuldades e, claro, a obsessão pelo amor Eros (romântico), mas vamos por partes…
– A Narrativa
Por ser uma trama mais focada nas relações humanas, a história tem uma temática mais adulta em alguns quesitos, se passando em uma universidade. Temos Ai, nossa protagonista e, diferente do que estamos acostumados com personagens clichês que não tem ciência de sua capacidade, Ai é uma garota que sabe que é atraente, bonita e sociável. Contudo, seus interesses nunca foram algo relacionado à sua beleza e festas, ela sempre quis terminar seu ensino superior de maneira rápida e passageira enquanto dedica seu tempo direcionado à leitura e o consumo de cigarros, tendo muitas vezes uma concepção existencialista, sempre procurando sentido cabível a tudo ao seu redor.
Do outro lado, temos a Tomo (nossa heroína?), uma espécie de Antítese de Ai, que apesar do gosto similar ou superior a leitura igual a nossa protagonista, Tomo em todo momento vive uma vida “rebelde” não na questão social, mas sim ao sistema, raramente estuda e sempre depende de Ai na questão educacional, também é viciada em cigarros e não tem interesse em nada, quase sempre tendo uma visão Kantiana (sabe sua efemeridade e se revolta com sua existência), como se guardando algum segredo.
– Eros e Phila.
Na antiga Grécia os gregos costumavam definir o “amor” em 3 formas: Eros (amor romântico), Philia (Amizade e Fraternidade) e Ágape (O afeto a tudo).
No mangá, de maneira sucinta, o relacionamento e convivência das personagens se desenvolve de forma metafórica à existência do “amor”. Ai, que muitas vezes não ligava para nada além de si, começa a viver à procura de uma definição por sua espécie de paixão por Tomo, e que muitas vezes não entende o que sente. Outrora, Tomo tem um desenvolvimento bem interessante, seus conflitos passados e suas escolhas moldam sua personalidade desprendida, que não entende muito bem as coisas e vive de forma casual.
Por algum motivo, ambas conseguem se conectar, suas visões e escolhas são deixadas de lado quando entendem que o amor, de amizade ou romântico, é pouco sucinto quando se tem o Ágape (amor ao tudo).
-Vale a pena?
Em uma análise sem spoilers sobre a relação das personagens, ambas tem um ótimo desenvolvimento e reflexão. A história corrobora para um final realista, desprendido da bondade ou felicidade que estamos acostumados. Ah, a obra é +18, mas pouco utiliza do artifício do erotismo para dar catarse às relações, é sempre algo mais sério. Palavras são muito utilizadas e questionamentos também, se você quer aproveitar uma obra um pouco diferente sobre amor, e paixão, que foca no desenvolvimento do sentimento e não na sua forma, esse mangá é pra você.