MB HQ’s: Ligeiro amargor (uma história do chá)
Vivemos um momento muito interessante do cenário de HQs no Brasil. Obras de origens muito diferentes têm pintado por aqui e uma editora que tem despontado neste sentido é a Skript, que em 2021 passou a trazer quadrinhos de países africanos para cá.
Ligeiro amargor (uma história do chá), de Elanni, Djaï e Koffi Roger N’Guessan, foi o primeiro da leva. Na trama, somos levados a três momentos distintos da vida da protagonista Adjoua. Cada um deles acaba mesclado com um capítulo da história do chá pelo mundo.
E é neste ponto que começam os problemas da HQ. A entrada da narrativa histórica no primeiro capítulo é tranquila, vem por meio da mãe de Adjoua explicando o porquê de ainda fazer uso de um antigo e amassado bule para o chá. Ainda assim, como nos demais capítulos, os autores optam por serem o mais didáticos possíveis ao contar os eventos históricos.
Na segunda e terceira parte da trama é ainda pior, porque usam de diálogos forçados para inserir a história do chá ou explicar seu processo de infusão. É uma pena, porque são histórias até mais interessantes do que a da protagonista e agregam muito conhecimento em suas passagens.
Um adendo da visão deste articulista está no artigo do editor, Márcio dos Santos Rodrigues, que explica que “os africanos não fazem distinção de tempo ou de espaço do mesmo modo que na nossa cultura ocidentalizada”. Dito isso, pode ser considerada uma boa mescla das tramas, a depender de quem está fazendo a leitura. Na minha visão, ela não flui.
Outro ponto que deixa a desejar é a arte. N’Guessan até traz uma capa muito bonita, mas, em geral, soa amador demais. Ainda que não prejudique a narrativa, também não consegue trazer elementos a mais que a tirem do simplismo.
A sensação ao término é de uma aula de história, mas não necessariamente a melhor executada.
A edição da Skript merece elogios, com conteúdos produzidos para a publicação sobre o chá na África e as histórias em quadrinhos africanas.
Mas há pontos de atenção, com notas que poderiam ter sido maiores, aproveitando inclusive as seis páginas em branco que completam o caderno; e a decisão de publicar páginas da marroquina Malika Dahil, que seria a artista original de Ligeiro Amargor. Ao optar por incluí-las, sem explicar o porquê dela ter deixado o projeto, apenas nos deixa lamentar ela não ter seguido adiante, visto que sua arte prometia muito mais que a entregue por N’Guessan.
Apesar dos percalços, a obra traz parte da interessante história do chá no mundo e nos mostra um novo universo aberto pela publicação, com as riquezas dos países africanos também em histórias em quadrinhos e que, espero, não deixem de saírem por aqui.
LIGEIRO AMARGOR (UMA HISTÓRIA DO CHÁ)
Autores: Elanni, Djaï e Koffi Roger N’Guessan
Páginas: 80
Editora: Skript