MB Especial: PerifaCon 2022

Com uma proximidade maior entre público e artistas e um espaço com mais famílias, a segunda edição da PerifaCon – A Convenção das Favelas consegue se firmar no cenário nerd. 

No domingo (31) foi realizada, na Fábrica de Cultura da Brasilândia, a segunda edição do PerifaCon, nerd focado nas periferias de São Paulo. Com a primeira edição realizada em 2019 no Capão Redondo, a segunda teve de esperar dois anos pelo retorno devido à pandemia de covid-19. Se a espera foi grande, a aderência do público parece ter sido maior.

Assim como na edição anterior, a casa estava lotada até o horário de encerramento. Na primeira edição tiveram de restringir a entrada o acesso ao local para evitar superlotação. Desta vez, mesmo com a percepção de um público maior, não foi necessário restringir o público. O evento foi criado com o intuito de democratizar a cultura geek para um público que comumente não tem como pagar pelos ingressos caros de outros encontros.

Contando com espaço de artistas, painéis, shows e apresentações de cosplay, o evento proporcionou atividades variadas para todos os públicos sem deixar a bola cair. Os painéis contaram com representantes de empresas e artistas, além de palestras focadas em discutir a importância da cultura nerd na periferia e incentivando o público a criar mais cultura, não apenas consumi-la.

Entre os painéis mais esperados estava “De Irmão do Jorel a Tromba Trem – Como a Copa Studio produz desenhos animados no Brasil”, com um público ansioso por conhecer e ouvir os envolvidos com a criação do desenho. Outro painel de artista que fez sucesso foi “Super Choque e o pôster da PerifaCon 2022” com a presença do artista Jefferson Costas (Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias e Jeremias: Pele), responsável pela arte promocional capa do evento.

Acompanhado por um representante da Warner no Brasil, contou sua trajetória de vida e a importância de investir em seus sonhos. Relatou as dificuldades até poder viver apenas de sua arte e o processo de criação para a o pôster do Super Choque. O público se animou com a conversa e no final ainda pode conversar com a dupla de forma mais informal.

Os painéis contaram com temas de mais fácil acesso como programas televisionados na TV aberta, artistas presentes na internet ou músicos mais presentes na periferia e casas de cultura. Contou também com painéis sobre games, com dicas para quem pretende se profissionalizar, seja como gamer, seja como produtor na área. A presença de produtoras independentes ganhou destaque e possibilitou uma maior aproximação do público. Os painéis sobre games também ajudaram a conhecer melhor o mercado brasileiro, permitindo que os entusiastas tivessem maior noção do meio em que pretendem ingressar.

Ponto importante a ser citado, é que conseguiram unir cultura nerd e periférica, não apenas democratizando a primeira, como também quebrando os estigmas impostos à segunda. Em um único evento pudemos encontrar cosplayers, RAP e rappers falando de seus animes preferidos. Diferente do usual POP que domina os Con’s ou Animes pelo Brasil, a voz foi dada para a diversidade de gostos e opiniões.

Os cosplayers eram presença garantida, com criações mais focadas na produção caseira e sem gastos exorbitantes. Essa característica foi importante por mostrar bons trabalhos, produzidos, não comprados, pelos participantes. Característica esta que refletiu no tradicional Concurso de Cosplays, com um trio de jurados interagindo com os participantes questionando sobre a confecção dos trabalhos. Destaque para a presença cativante da apresentadora e juradas(os) que realizavam perguntas ora sobre a escolha do personagem, ora sobre qual personagens levaria a melhor em uma disputa ou o possível desfecho deste em uma determinada situação. Algo que agradou quem assistia e garantiu algumas gargalhadas.

O espaço para as editoras também foi bem diferente do que estávamos acostumados a ver. Com um espaço para todas as editoras menor que o utilizado por apenas uma em um evento grande, todas puderam contar com um espaço quase que do mesmo tamanho e com descontos comuns apenas em feiras universitárias. Cia. das Letras e Chiaro Studio tinham disponíveis o mesmo espaço utilizado por Veneta, Mino, Lab Fantasma ou LiteraRua. Isso fez com que o público desse mais atenção às obras e aos artistas e pudéssemos ver qual a receptividade de editoras grandes quando tem de disputar a atenção de igual para igual. Podemos dizer que até mesmo nisso tivemos uma maior democratização.

A área mais disputada talvez tenha sido a do Beco dos Artistas, espaço destinado aos artistas independentes de quadrinhos. Contou com a presença do público do começo ao fim, estando lotado até o início da noite. Artistas puderam apresentar seus trabalhos e o público conhecer melhor quem o fez. Estavam presentes nomes como Carlos Ruas (Um Sábado Qualquer), João Pinheiro (Cavalo de Teta, Carolina  e Barrela), Helô D’Angelo (Dora e a Gata e Isolamento) e o próprio Jefferson Costa.

No corredor paralelo rolava a Galeria PerifaCon, com exposição de quadros de artistas independentes, muitos destes presentes no Beco dos Artistas. O destaque ficou para uma coleção produzida pelos artistas Loud em parceria com Load, onde representavam artistas do RAP e Soul em capas da Marvel e DC. Outro destaque é o novato Deley (@deley_ifc_) com a arte Modernismo Moderno, uma releitura das já conhecidas artes retratando o artista modernista. A galeria ainda contou com esculturas reproduzindo espaços da periferia paulista.

Em entrevista com a co-fundadora e organizadora Andreza Delgado (@andrezadelgado_), nos disse que o evento tem um caráter itinerante e gera empregos. Além disso, conseguiram mostrar que a periferia também consome cultura nerd, ajudando a quebrar preconceitos.

Disse ainda que podemos contar com uma nova edição para o próximo ano, muito provavelmente na Zona Leste. Esse revezamento de regiões é mais uma das características do evento que demonstram sua horizontalidade e o comprometimento em fazer da cultura nerd algo democratico.

O público pôde a todo momento participar das atividades, se identificar com as artes e artistas, além de ser mais ativo no evento. O evento ainda contou com um totem grande da PERIFACON, onde os visitantes se expressaram com suas artes, nomes e críticas ao atual momento político do país.

O evento tem muito potencial para crescer, seja em tamanho ou expandindo sua realização para outras regiões ou cidades. Com uma equipe aberta não diálogo, pode até mesmo ser organizado em outras cidades ou estados.

Além da diversidade e acessibilidade, o evento contou com a presença de muitas famílias e uma maior liberdade para as crianças. Característica esta que só foi possível por ter como foco o público e seu acesso ao universo geek. Talvez seja o momento de olharmos este meio como um espaço de expressão e não como algo reduzido à mercadoria como feito em outros lugares.

Em um domingo agitado, PerifaCon – A Convenção das Favelas mostrou que cultura nerd e periferia andam juntos. Proporcionou entretenimento de discussões para os mais variados públicos e ajudou a quebrar preconceitos. Podemos contar com mais edições do evento e as regiões menos favorecidas pelos grandes eventos agora terão um espaço onde crianças e famílias participam independente da sua renda ou classe. O quanto o evento pode crescer ou angariar de público ainda não sabemos, mas esperamos que os órgãos de fomento e empresas patrocinadoras continuem a incentivar ações tão necessárias quanto esta.

Fotos por @biancasak

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