MB Review: Tokyo Revengers vols. 1 e 2

Com certeza em algum momento da sua vida você já foi um Takemichi: impotente, desiludido, desamparado e sem um objetivo na vida. Esse é o nosso protagonista. Já com 26 anos, Takemichi, em mais um dia monótono, descobre que sua ex-namorada e seu irmão mais novo morreram em um conflito entre gangues. 

Com a notícia, Takemichi começa a se recordar dos seus tempos de juventude e da sua era de delinquente na escola, onde o mesmo se viu obrigado a fugir, deixando amigos e namorada para trás. Eis que, no momento que Takemichi pisa na estação de trem, é jogado nos trilhos por alguém. Convencido de que tinha morrido, Hanagaki se vê em seus tempos de juventude, 12 anos atrás, crendo que tudo não passa de uma ilusão e com isso ganha um novo objetivo: dar um jeito de salvar Hinata Tachibana. 

A história então segue com a primeira cena pós-viagem no tempo, com Takemichi, Makoto, Yamagishi, Akkun e Takuya já em direção a um conflito com delinquentes de outro colégio da região, no qual os mesmos apanham. Tokyo Revengers é uma história de gangues e delinquentes (yankees) baseado no movimento Bosozoku, uma subcultura de gangues de motoqueiros que começou na década de 1950 e teve seu auge em 1980 no Japão. Algo que para uns representa liberdade, para outros o terror. No início do movimento, a maior parte de seus membros era composta por veteranos de guerra que não conseguiram se realocar na sociedade. Com o passar do tempo esses grupos eram vistos como rebeldes e constantemente brigavam com autoridades e entre gangues de outras regiões. Uma subcultura onde eram vistos como heróis, vítimas e vilões, e isso reflete exatamente em Tokyo Revengers. Apesar da obra se passar em 2005 e ocorrer uma descarada romantização do que foi esse movimento no país, ele também incorpora muitas verdades, como o estilo de roupa, cabelo e as próprias gangues – presente em animes como Yu Yu Hakusho e GTO. 

No primeiro volume conhecemos a Tokyo Manjikai (Toman), uma gangue liderada por Manjiro Sano (Mikey), de longe, um dos personagens mais respeitados na trama e que sonha com uma nova era de delinquentes. Conhecemos também Draken (Ken Ryuguji), vice-presidente da gangue e braço direito de Mikey. Ambos adotam Takemichi como seu “servo” e assim nosso protagonista avança um passo em seu plano de salvar sua namorada Hinata. Inclusive, apesar das mulheres não terem muito espaço nessa obra, Ken Wakui, o autor, soube respeitá-las. Hinata Tachibana é uma menina corajosa, que sabe se impor, cuidadosa e empática. E assim são as outras personagens femininas que aparecem ao longo da série, nenhuma delas é inferiorizada na história. Pontos positivos! 

Já ao final do volume 1, Mikey e Draken convidam Takemichi para se juntar a eles nessa nova onda de delinquentes que Manjiro tanto almeja alcançar, e o mesmo se encerra no encontro com Kisaki Tetta, nosso principal antagonista de Tokyo Revengers. 

No segundo volume da série, nos encontramos com os famosos uniformes dos membros da Toman e seu símbolo Manji. A edição brasileira da JBC fez questão de colocar uma explicação em ambos os volumes sobre o que esse símbolo representa para o Japão. Manji é um símbolo religioso presente principalmente no budismo. Um símbolo que até hoje é visto pelos templos japoneses e que representa prosperidade, harmonia e boa sorte. Ou seja, a suástica no uniforme não está relacionada ao nazismo, uma vez que foi o próprio movimento nazista que inverteu esse significado em algo negativo. Então, achei uma atitude justa da editora em explicar esse símbolo cultural ao invés de censurá-lo. 

Voltando à história, temos uma sequência de fatos bem fluidos. O mangá tem diversos eventos, muitos nomes e às vezes pode ser confuso de acompanhar sem prestar muita atenção, porém acredito que Wakui desenvolve bem a história e interliga os fatos do passado e do futuro sem atropelar as informações. As brigas e eventos vão gradualmente ficando mais sérios e mais intensos. Takemichi já se depara com desafios cada vez mais intensos, com mais perdas e atitudes que ele precisa tomar para evitar a morte de Hinata e de outros membros da gangue. 

Um fato curioso é que a história trás aquelas três vertentes que falei no início: os delinquentes servindo de heróis, vítimas e vilões. No segundo volume vemos isso muito bem quando Draken diz: 

“Os assuntos dos delinquentes devem ser resolvidos só no mundo dos delinquentes. Todos os nossos também têm famílias e pessoas queridas. Não podemos deixar gente de fora se envolver nisso. Não podemos deixar as pessoas ao nosso redor chorarem. Não precisa baixar a cabeça. Só tenha empatia pelos outros.”

Draken é um dos meus personagens favoritos por trazer a essência da história. Ele é um elemento de segurança para todos e, também, é o primeiro a ter sua história revelada neste volume do mangá. Criado em um bordel, Draken é a personificação de porquê Tokyo Revengers consegue ser uma história a qual nos apegamos aos personagens facilmente. Em uma realidade onde os Yankees (delinquentes) e os Bosozoku eram o terror da nação, o autor trás o outro lado da história pelo olhar da Tokyo Manji, de Draken e de outros membros que ainda devem aparecer. Mesmo que emocionalmente ou fisicamente abalados, eles têm uns aos outros numa história de coragem, bravura, conflitos e amizades. A visão dessa realidade na ficção é romantizada, com certeza. Mas a amizade, os laços que criaram e o que isso representa na história, é o que importa para que a trama ganhe um peso emocional muito bem elaborado. 

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