MB Review: Dakaichi #1 ao #8
Dakaichi é um mangá de Hashigo Sakurabi com 8 volumes publicados até o momento e licenciado no Brasil pela Editora Panini.
Sinopse
Takato Saijou é um famoso ator veterano e aclamado pelos fãs, tendo defendido durante 5 anos a posição líder como “o homem mais desejado do ano”, mas toda a sua rivalidade aflora quando um novato do entretenimento repentinamente conquista o primeiro lugar na renomada lista, fazendo com que Takato se sinta ameaçado. Além disso, ambos estão trabalhando em um novo projeto juntos e o inexperiente Junta Azumaya mais uma vez recebe os holofotes ao ser escalado para o papel principal.
Volume 1
Os atores haviam se conhecido em um trabalho anterior, mas o jeito super apegado do novato enraivece Takato, que acredita que ele é apenas um puxa saco sem escrúpulos, ou até mesmo um inimigo. Apesar disso, o experiente ator acaba se embriagando em uma noite sozinho com Junta, sendo filmado pelo novo parceiro de trabalho e acreditando que as gravações são para chantageá-lo. Takato tenta reverter a suposta chantagem oferecendo algo em troca para Junta, que instantaneamente pede o seu corpo. De forma obsessiva e violenta, Junta dorme com o ator que admira, e logo esclarece que suas ações vieram da sua paixão por Takato, e não para uma possível exposição. Confuso sobre as novas descobertas e sobre como se sente, Takato inicia uma nova e sensual relação com o homem mais desejado do ano.
É interessante pensar que Dakaichi era inicialmente planejado para ser um one-shot, e o primeiro volume transparece exatamente isso, onde os elementos foram alinhados apressadamente e sem tanto aprofundamento. Apesar disso, alguns recursos de comédia são divertidos e a ambientação geral do showbiz pode ser instigante, principalmente para quem gosta de acompanhar personagens que refletem o mundo da fama e um enredo cheio de erotismo.
O volume inicial também contém pequenas histórias extras de tramas distintas da mesma autora, algumas sendo resgatadas nos volumes posteriores.
Volume 2
A partir do segundo volume, a narrativa começa a ficar um pouco mais coesa, ele é iniciado com o relacionamento dos protagonistas começando a ter mais seriedade, embora ainda seja um mangá focado em trajetórias picantes. Um pouco mais da personalidade dos personagens é revelada, inclusive de alguns secundários. Takato continua tentando manter uma pose de rispidez, em contraste com suas ações incrivelmente prestativas, auxiliando não apenas Junta, mas outros atores que contracenam com ele. Apesar de demonstrar ser rígido, Takato é retratado como extremamente encantador e muitas vezes ingênuo, mas igualmente um profissional competente e que merece sua imensa fama.
Temos também a inserção de novos personagens, como Chihiro Ayagi, ator que começa a contracenar com Takato e desenvolve um interesse pelo veterano. O que poderia ter sido um desastre para o casal, reforça os verdadeiros sentimentos de Takato e transparece o desejo da autora ao testar o relacionamento dos protagonistas. O final do volume nos apresenta um suspense provocante sobre o que pode acontecer no decorrer da história, introduzindo um novo arco que combina melhor com a temática de celebridades que sofrem com a exposição de uma vida pública, principalmente se são os homens mais desejados do país!
Volume 3
O volume 3 é uma reviravolta mais bem planejada e que resgata os acontecimentos do primeiro encontro entre Junta e Takato, quando trabalharam em um projeto anterior, e como esse foi o ponto de partida para o que parecia ser uma grande admiração por parte de Junta, que ficou instigado ao conhecer comportamentos inesperados do ator veterano.
Takato não apenas possui uma personalidade forte que raramente deixa transparecer, mas demonstra toda a sua dedicação, capacidade, desempenho e extenso conhecimento sobre atuação, fazendo sempre observações pertinentes, sendo altruísta com as pessoas ao redor, mas sem perder sua posição de prestígio, balanceando sua generosidade e força. Já o personagem do Junta parece mais incompleto inicialmente e, assim como sugere o mangá, uma “besta” desordenada!
Esse volume trabalha a autodescoberta de Junta e o caminho que ele irá seguir para tornar-se alguém mais comprometido, mesmo no âmbito profissional. Apesar da falta inicial de profundidade do personagem, Junta é um particularmente muito engraçado e passa a ser mais complexo e interessante à medida que a autora vai amadurecendo a escrita e o enredo.
Essa curiosa introdução de um arco sobre paparazzi começa a agregar mais conteúdo para a obra, demarcando uma decisão da autora que abre margem para que a série se torne mais longa e lide com variados arcos complementares, já que Dakaichi também insere muitos personagens secundários cômicos ou misteriosos.
Volume 4
O volume começa de uma forma despreocupada e divertida, mas logo toma uma reviravolta que engloba um dos maiores conflitos do arco dos paparazzi, inserindo alguns contextos que são fidedignos com o mundo dos famosos e vários questionamentos sobre o rumo dos nossos protagonistas a partir de uma possível exposição pública.
São mostradas quais seriam as primeiras estratégias dos personagens diante de uma pressão totalmente inesperada, e ambos demonstram altruísmo e cuidado em um momento onde a vida dos dois pode ser irreparavelmente afetada por furos da mídia. Os choques abruptos são diferentes dos volumes anteriores, em um bom sentido, nos fazendo questionar quais possíveis resoluções poderíamos esperar na continuação do arco e quebrando a expectativa de uma história apenas cômica e erótica.
A ambientação relacionada ao mundo da fama começa a ser mais aproveitada e explorada, mas também questionamos as motivações das ações dos envolvidos no conflito. É um volume que instiga a curiosidade, já que lida especialmente com o desenvolvimento do arco, mas não sua finalização, deixando o leitor com indagações que poderiam ser respondidas de múltiplas maneiras, então cria uma agradável expectativa sobre qual caminho a autora decidirá seguir para explicar os acontecimentos peculiares inseridos na trama.
Volume 5
Este é um bom complemento do volume anterior, fechando o arco sem muitas pontas soltas, com resoluções e respostas que condizem com a construção dos personagens até o momento. O plano dos protagonistas para derrubar a Toubun, revista de fofocas responsável por todo o conflito dos paparazzi, é bem sucedido! Tanto Junta como Takato demonstraram que deixariam sua fama de lado para proteger um ao outro, mas, ao mesmo tempo, ambos não desistiriam dos seus sonhos tão facilmente sem uma digna luta para conseguir manter tanto o amor como a profissão.
Podemos observar, também, uma nova etapa da “rivalidade amigável” entre Takato e Junta, que foram escalados para um trabalho em dupla numa renomada peça de teatro. Em paralelo, temos a introdução de Kiyotaka Arisu, um homem chamativo que faz parte do passado do produtor-geral Usaka e retorna ao Japão, abrindo possibilidade para um casal secundário no futuro da obra. Além disso, é apresentada parte do passado de Takato, mostrando de onde surgiu seu interesse na atuação e como a sua avó, também atriz, teve um papel significativo na sua educação e construção como pessoa.
É um volume gentil e que introduz mais contexto sobre o protagonista, o Takato possui provavelmente a personalidade mais bem construída em Dakaichi. E o leitor pode esperar ainda mais seriedade na relação do casal, principalmente por ser o famigerado ponto da narrativa onde o casal troca alianças. Apesar de ser um volume que reúne muita informação ao mesmo tempo, ele não é desordenado, então o leitor consegue assimilar cada acontecimento e percebe o propósito de humanizar mais ainda o protagonista Takato e entender seu ponto de vista sobre profissão ou envolvimento emocional.
Volume 6
É apresentado o tema da peça de teatro chamada “Bodas de Sangue”, onde Junta e Takato irão contracenar, ela faz parte de uma trilogia de um dramaturgo espanhol, então muito do contexto depende de um bom entendimento da cultura local. Para quem já é fã de Dakaichi, provavelmente entendeu que esse volume é o que deu vida ao filme: Dakaretai Otoko 1-i ni Odosarete Imasu – Spain-hen de 2021. Momentos hilários são revelados, com diversas referências dentro da cultura espanhola, novos personagens marcantes e muito da infância do Junta, já que ele é 1/4 espanhol por parte do seu avô.
Takato sente que, dentro do contexto de uma peça com tanta ligação às origens de Junta, ele pode ficar para trás, e decide buscar incessantemente inspiração e a essência cultural fazendo uma viagem à Espanha, que inicialmente seria uma viagem solo. O veterano é um ator consolidado, mas que nunca fica parado ou se acomoda com o que construiu, tendo medo de ser superado e buscando sempre uma igualdade entre ele e Junta. Ambos possuem estilos de atuação evidentemente distintos, mas impulsionam constantemente o outro para o estrelato.
Com o background da Espanha, é retratada parte da infância de Junta, encaixando peças sobre sua personalidade, insegurança e paixão tão profunda por Takato, em contrapartida, o Takato tem medo de não poder viver ao lado de Junta caso eles estejam em patamares diferentes na atuação, mas também sofre com o dilema de tentar transmitir seus sentimentos de amor de uma forma mais direta. Apesar de não ser um volume dos mais profundos, é lotado de referências artísticas e culturais, além de utilizá-las em momentos apaixonantes ou icônicos. É um arco com personagens verdadeiramente cativantes e que poderiam ser resgatados no futuro em novos volumes com outros propósitos.
Volume 7
Com o início do arco “ligações obscuras”, o volume finalmente nos entrega mais cenas sobre o potencial casal secundário, formado pelo ex-cantor Arisu e o produtor-geral Usaka, que tiveram um passado ultra conturbado, principalmente Arisu, que possui uma personalidade excêntrica e chamativa como forma de autoproteção, mas ainda é possível questionar quais são os vários segredos que não foram revelados sobre as circunstâncias dos dois. À primeira vista, eles formam aquele possível futuro casal com dinâmica entre uma pessoa ultra metódica que não consegue deixar nada fora do devido lugar e uma pessoa impulsiva, criativa e que não segue nenhuma regra, que é vívida, mas igualmente melancólica.
O volume trata de forma irônica e engraçada sobre temas atuais como influenciadores digitais, misturando com um tom de fantasia sobre formação de yakuzas. Takato encontra um rival no amor por Junta e também passa por um momento de muita tensão no relacionamento, com um Junta muito mais contido e sem toques físicos. Apesar dos claros empecilhos de comunicação que ainda existem entre os protagonistas, é expressivo como a autora decidiu trabalhar na reflexão de Junta sobre erros que ele cometeu com Takato por conta de sua obsessão, então os volumes mais atuais realmente transmitem personagens um pouco mais maduros e coerentes. No papel de leitor, é possível absorver que houve um amadurecimento artístico, em aspectos gerais, entre os dois primeiros volumes e os últimos lançados, mesmo que a obra mantenha seu ritmo sem gerar grandes reflexões.
Volume 8
Na finalização do arco “ligações obscuras”, Takato está em perigo, o clã Gozubara quer ajudar seu herdeiro e influencer, Knight, a conquistar o coração de Junta. Para isso, o clã age pelas costas do próprio Knight e toma ações contra Takato e Junta.
Takato segue mostrando versatilidade como pessoa, já que mesmo sendo visto como um rival por Knight, continua extraindo o melhor de todos que contracenam ao seu lado, sabendo exatamente como se portar e o que falar para incentivar mesmo alguém completamente inexperiente. Junta centraliza mais uma vez suas ações em seu amado, pensando apenas em salvá-lo, mas desde o volume 7 também reflete sobre o quanto deseja Takato, assim como esse desejo, por vezes, pode ser destrutivo, restringindo então a interação física entre os dois e tentando trabalhar seu autocontrole. Apesar de Junta acreditar que poderia destruir a pessoa mais importante da sua vida (o seu companheiro), Takato esclarece que não é um homem frágil, a cobiça entre o casal é bilateral, então ambos precisam equilibrar o desejo e a obsessão pelo outro, por mais que inicialmente a relação parecesse desbalanceada.
Na segunda parte do volume, temos a apresentação de “Bodas de Sangue”, com o casal principal contracenando. Ambos são ambiciosos, mesmo que por motivações bem distintas, a dinâmica dos dois trabalhando lado-a-lado é surpreendente pela química e profissionalismo, além de parecer trazer um pouco mais de equilíbrio para a relação. Os atores tentam ultrapassar os próprios limites na atuação, alavancando seus esforços com a ajuda um do outro.
Enquanto a rivalidade profissional geralmente pode parecer destrutiva ou sufocante, em Dakaichi, a “rivalidade” dos protagonistas adiciona muitas características positivas dentro da relação dos dois e parece ser o elemento para não termos dúvidas sobre como ambos são igualmente apaixonados e esforçados.
Comentários extras
O último volume publicado no Brasil, por fim, nos promete um novo arco e aguça nossa curiosidade sobre as questões que ainda pairam no relacionamento de Takato e Junta, mas também na relação que pode ser reacendida entre Arisu e Usaka.
Dakaichi segue a proposta de ser algo divertido e erótico, que brinca principalmente com nossa concepção sobre vida e relacionamento de celebridades, nos entregando um enredo muitas vezes direto, mas que não economiza em ser cômico e construir alguns personagens icônicos e coesos. Temos arcos bem distintos, um eventual aprofundamento da história dos personagens, além de um evidente esforço da autora em construir uma narrativa divertida para o público. Não é a leitura mais indicada se você quer algo denso ou reflexivo, mas sim se você quer um momento para se distrair, torcer por casais ou ver muita picância.
O tema pode não ser abrangente para todos os públicos, principalmente pelo seu teor erótico, mas se você leu os primeiros dois volumes e decidiu desistir da leitura por outros motivos, mas ainda assim gosta da proposta inicial, eu recomendo que dê uma chance para os outros arcos, principalmente considerando que a autora iniciou a obra sem muito planejamento já que, citando novamente, Dakaichi seria apenas um one-shot, então a história evoluiu em termos de amadurecimento, linearidade e corrigiu abordagens que não foram tão bem recebidas pelo público.
Uma das coisas que mais amei lendo diretamente na edição nacional foi que temos em cada um dos volumes a ficha de personagens, até mesmo personagens que só aparecem uma vez, nos dando um conteúdo extra para entender melhor a construção de cada pessoa retratada na obra, apesar de que gostaria de ver algumas delas retornando em volumes posteriores tendo uma maior participação. Você consegue perceber o esforço da autora para melhor adaptar os volumes e criar conteúdos extras que complementam muito bem o enredo principal. Apesar disso, em termos do mangá físico, o acabamento da capa não é satisfatório e o papel interno possui bastante transparência.