MB Especial: Perifacon 2023

No último domingo (30), a Cidade Tiradentes, bairro da zona leste de São Paulo, parou para receber o Perifacon 2023, a convenção nerd das favelas. Com uma estrutura similar a apresentada no ano anterior, o evento mostra que para crescer o melhor é ir até os fãs.

Algumas das atrações deste ano foram um repeteco do anterior com o acréscimo de algumas mais. Se estes elementos são encarados como pontos negativos em outros encontros do meio, para a Perifacon é a fórmula certa para se firmar no cenário geek e no calendário de eventos da cidade. E torçamos para que futuramente em outros municípios.

A ideia do encontro é levar para as regiões periféricas de São Paulo a cultura geek de forma democrática uma vez que nesta área um dia de diversão não sai por menos de três dígitos. Com entrada gratuita e parcerias de peso, o evento alivia o bolso de quem o frequenta enquanto promove seus patrocinadores.

Além disso, faz com que o público da região receba atrações diversas. Essa rotatividade entre as regiões da cidade faz com que tenhamos públicos novos todos os anos, permitindo a repetição de parte das atrações, sempre novas para o público da vez, enquanto a equipe de produção angaria novos patrocinadores para que possam crescer sem perder sua essência.

Em 2022 vimos uma Fábrica de Cultura cheia em uma linda noite na cidade. Mas o que parecia bom ficou ainda melhor. O Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes ofereceu o dobro do espaço, permitindo uma quantidade maior de ativações e um beco dos artistas com mais espaço. E mesmo com todo este espaço, os corredores entre os pisos e as salas de atrações ficaram abarrotadas do começo ao fim. Eram 19h e ainda víamos gente chegando.

Entre as atrações do palco tivemos parte do elenco da série Sintonia (Netflix), os cantores Rashid e Tasha & Tracie. Provavelmente foram os shows mais cheios dos Perifacons desde sua primeira edição em 2019. Além disso, ainda contava com salas de bate-papo, sessões de autógrafos, mostra de curtas, RPG e jogos de mesa. Tudo de graça.

O público continuou o mais variado possível, com jovens curtindo shows, famílias passeando pelos espaços e crianças correndo pelos corredores. Muitas vezes, crianças desacompanhadas de adultos, as quais, mesmo sem um responsável, ainda assim puderam se divertir em segurança, mostrando que a periferia é acolhedora e sabe cuidar dos seus.

Dizem que São Paulo é uma cidade que não dorme e sempre temos o que fazer. O que não falam é que você precisa de dinheiro para isso. A Perifacon deste ano garantiu um dia repleto de atrações e uma proximidade maior entre artistas e público. Algo raro para uma cidade que cada vez mais segrega seus moradores.

Se o público não tem condições de ir até um evento nerd, o evento vai até o público e pessoas de maior poder aquisitivo tiveram de vir até a periferia. Algo raro, uma vez que a lógica da cidade faz com que pessoas da periferia tenham de trabalhar a preços baixos para as zonas nobres por meio de serviços de cuidado da casa ou de entrega de alimentos. Desta vez, vimos os filhos da elite visitando a quebrada e sem o direito a ingresso Full. Quando alguns poucos não podem exercer seus privilégios, todos podem descer para o play.

Sem dúvida alguma, será este novamente um dos eventos mais importantes do ano para a comunidade nerd em geral. Democratizar passa pelo acesso e pluralidade de vozes. Características estas ausentes em outros eventos, os engessando mesmo que contem com muita verba mas pouca solidariedade.

Só podemos desejar vida longa ao Perifacon.

Viva o povo trabalhador da periferia, que agora entra nos eventos, não pela porta de trás para arrumar estande, mas para se divertir e mostrar sua arte.

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