MB Review: O Monstro Solitário e a Garota Cega

Com um enredo cheio de frescor entre os GLs, o volume único de Neji foi publicado pela editora Newpop e nos apresenta uma personagem, considerada um monstro, conhecendo uma garota cega destemida.

Neji construiu um império de GL, tendo publicado diversos títulos do gênero, mas na sua obra licenciada no Brasil, evidencia seu enorme entusiasmo por personagens “não humanas”. E, assim como outros mangakás incríveis que compartilham dessa mesma preferência e desempenham trabalhos únicos, Neji criou muitas histórias interessantes envolvendo tais criaturas.

Em O Monstro Solitário e a Garota Cega, acompanhamos Heith, até então sem este nome, que se afasta da humanidade por saber que ela não a aceita com suas características de monstro. A protagonista carrega aspectos físicos de distintas criaturas, tal qual uma quimera, como escamas, barbatanas, chifre e orelhas felpudas. Vivendo isoladamente em uma floresta, ela esbarra com uma garota cega e, ao não ser temida, sua solidão a faz inventar uma mentira sobre ser uma viajante para então se aproximar da nova visitante.

Neji buscou um equilíbrio no desenho para que sua protagonista fosse monstruosa com traços humanos, combinando com o que idealizou para ser a história de fundo de alguém que nunca sentiu que pertenceu a lugar algum: humana demais para conviver com monstros e monstruosa demais para ser aceita pelos humanos. As suas características se tornam um misto entre estranheza e fofura, tendo em vista suas expressões carentes e sua verdadeira personalidade gentil.

Lilly, a garota cega que um dia conhece aquela que diz ser uma viajante, começa a consolidar o vínculo entre as duas ao escolher um nome para a sua divertida companhia, denominando-a de “Heath”, em uma comparação com uma flor comumente conhecida pelo mesmo nome, e que a própria autora sinaliza que possui a simbologia da “solidão”. Entretanto, Heath também é associada à independência, já que consegue florescer em ambientes e terrenos nada propícios para a manutenção de flores, como em penhascos. O leitor poderá ver a representação das flores no próprio mangá e perceber que a escolha da paleta de cores também foi inspirada na flor.

A obra aparenta misturar vários temas em um único volume, mas a sensação da leitura consegue ser fluida, com a mudança ágil entre as situações e um enredo que é genuinamente simples, mas que envolve pelo equilíbrio na personalidade das protagonistas. É possível entender o desenvolvimento da paixão e carinho entre Lilly e Heath, e as duas possuem construções interessantes. Vemos distantemente a batalha de Lilly para não ser diminuída pela sua deficiência, e a insegurança de Heath criada pela rejeição perante o mundo. As protagonistas contam com individualidades que podem ser utilizadas como uma desculpa para a exclusão social praticada por pessoas que não aceitam o diferente, mas encontram em si o entendimento e uma fluidez natural no desenvolvimento do relacionamento.

Lilly, apesar de ser uma garota carinhosa que aparece para tirar Heath da sua jornada solitária, não tem uma personalidade passiva e acaba demonstrando muito da sua autenticidade e desejo de construir uma vida da forma que julgar adequada, independente dos eventos do passado que podem prejudicar a noção de relacionamento entre ela e Heath. Embora com diálogos fáceis, ainda é possível perceber nuances relevantes na personalidade das duas garotas, até pelo formato da obra em focar quase que exclusivamente na construção do afeto entre as duas.

Heath e Lilly compartilham tragédias do passado por perspectivas opostas, cada uma com sua interpretação, mas o futuro parece ser doce e amável para as novas namoradas. A escolha da autora ao colocar Lilly em situações em que ela toma muita iniciativa na relação se torna algo adorável e talvez inesperado, já que o enredo é tratado pela perspectiva de Heath, que muito rapidamente entendeu que seus sentimentos por Lilly iam além de uma amizade ou companheirismo, trazendo aspectos divertidos para a dinâmica do casal.

Apesar de a obra ter sido publicada na edição física como um one shot, o leitor ainda consegue ver o desenrolar da história que não foi publicada no físico ao acompanhar a conta no Pixiv da autora.

Obra física

A qualidade física da obra ficou ótima, em um formato maior do que os mangás regulares da editora, mas com o mesmo cuidado de páginas costuradas para a longevidade do material. A escolha do tamanho convergiu para uma visualização muito confortável das cenas e diálogos, entretanto, é possível que o leitor encontre alguns erros de revisão nas falas. A fluidez da leitura é reforçada pela falta de transparência nas páginas.

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