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MB Nacional: Juquinha, de Max Andrade

Recentemente pude ter contato com umas das obras que mais impactaram no meu fim de ano (2021) e isso mexeu comigo de uma forma bem específica. Não, não estou falando sobre Kierkegaard, Nietzsche ou de Schopenhauer, mas sim alguém que dá de dez a zero nessa meia dúzia de filósofos tristes. 

Alguém que tem a capacidade de entregar umas das narrativas mais loucas sobre o amadurecimento e, mesmo assim, conseguir manter o seu hype, afinal, se for pra sofrer, que seja de forma estilosa, como já dizia um certo alguém por aí. 

Quem é esse ser?, Bem, meus amigos, eu estou falando dele, o incrível, o inigualável, o super (e fofinho) JUQUINHA!, E é sobre ele que falaremos hoje, uma das obras mais interessantes do ponto de vista narrativo dos quadrinhos nacionais, criado pelo inigualável Max Andrade.

JUQUINHA é um quadrinho nacional criado pelo artista brasileiro (e um cara mto fera) chamado Max Andrade. Originalmente publicado como Webcomic nas redes do autor, foi compilado em um encadernado volume único após uma campanha no Catarse.

A sinopse da obra fala sobre um dia na vida de Juquinha, que vestiu sua melhor roupinha, passou um perfume TOP e pegou a flor mais bonita que achou no meio da rua no caminho entre a escolinha e sua casa. Determinação é seu sobrenome. Ele vai finalmente se declarar pra garotinha de olhos verdes e mochila azul da sala ao lado. Mas esse é só um ensaio e ele já tá se tremendo todo… O que pode dar errado? Você é um punk rocker! Força, Juquinha. 

É… parece que as coisas não foram como esperado para nosso amigo. E é deste ponto de partida que se inicia uma grande jornada de autoconhecimento! Durante o processo, entre isolamento e necessidades fisiológicas, o garoto irá descobrir que o maior inimigo está dentro de sua própria cabeça, mas claro, sem desconsiderar todos os problemas causados por escrotices e fatores externos.

– A Narrativa 

Toda trama brinca com a quebra de expectativa e a relação com o leitor, o que é um acerto enorme. Após Juquinha passar por sua primeira desilusão amorosa, nosso garoto punk mais barra fofinha do mundo se vê pela primeira vez cara a cara com a decepção e a solidão, não tendo outra opção a não ser se trancar no seu quartinho, afinal, se a humanidade o rejeitou, ele a rejeitará, levando junto consigo seus hominhos, comidas e gibis e, a partir desse ponto, o personagem busca tentar entender, de fato, como funciona a sociedade e o ser humano.

Algo que fica bem pontuado na obra é a questão existencialista, que aproxima muito bem o leitor com as situações apresentadas, ainda mais por toda a bagunça caótica e mental que fica após uma perda ou desilusão amorosa. Inserir um personagem como o Juquinha para ser o centro e o mecanismo de apresentação para essa abordagem consegue deixar muito bmais digerível esses assuntos, afinal, na visão de uma criança, a descoberta dessas sensações podem ser interpretadas das maneiras inimagináveis, e o que o autor propõe aqui é justamente toda essa jornada pela psique e mundo metafísico do nosso herói.

A quem devemos culpar nessas situações e por que é tão difícil lidar com isso são questionamentos que são levantados em toda a trama, acobertada por uma nuance cômica majestosa; Qual o grande problema de Juquinha? O que ele deve fazer pra superar tudo isso que ele vem sofrendo? A resposta não é simples e é por isso que o nosso queridinho punk precisa fazer algo que nossa sociedade brasileira (atual) não faz. O jovem precisa pensar! E ir em busca de seu auto conhecimento!

– A jornada

Agora que Juquinha começa a procurar entender o motivo de toda sua angústia, ele é colocado para enfrentar o seu maior inimigo, aquele que todo herói de Shōnen tem que enfrentar: ele mesmo! Numa sacada e uma empreitada para seu clímax, a epítome do herói desanda, qual será seu próximo capítulo?! Acompanhe no nosso agregador de Scan!

Colocando o lado cômico de lado, o que temos aqui são todos os medos do personagem (e do autor?!) ganhando forma com base na sua estrutura cultural. O jovem tenta expor a sua frustração após o maldoso fora, com toda a sua carga metafísica imaginando como resolveria tal situação se fosse personagem x ou y, o que, colocado dessa maneira, consegue entregar muito bem toda a aventura e os medos da nossa geração pautada no imediatismo e o amor líquido.

Além de uma enorme sacada, que é quando o personagem se vê cara a cara com o Max (criador da obra) e ambos têm um diálogo cômico sobre a existência de Juquinha e sua independência, a narrativa beira a quebra da 4° parede como se zombasse de tudo o que o leitor viu até ali. Juquinha é uma criança, essa é sua forma de se superar. Não leve a problemática da vida tão a sério, o que você faz realmente te faz vivo?

Essas e outras nuances beiram o cômico num tom extremamente existencialista e muito fera, com direito a sátiras a Togashi (Hunter x Hunter) e The End of Evangelion (Neon Genesis Evangelion Series).

Após toda essa  aventura, Juquinha finalmente entende que um comentário ou rejeição não define quem ele é, e sua melancolia ele só resolveria quando se entendesse consigo mesmo, assim ele finalmente entende que, de fato, ele é mais que o ser humano que está em seu quartinho, e que fora daquilo ele pode ser o que ele quiser, afinal, ele é o Juquinha, o punk muito fera!

A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo.

– Hermann Hesse

– Vale a Pena

JUQUINHA foi um dos quadrinhos nacionais que mais me impactaram no final de 2021. A obra que, muitas vezes, parecia estar falando diretamente comigo e me deixava em êxtase e que, de vez em quando, me dava diversos “tapa na cara” sobre como eu lido com algumas situações no dia a dia. Juquinha me mostrou que há sempre outros caminhos, não de forma positiva demais, mas compreensiva. Essa é a palavra.

JUQUINHA é, além de tudo, uma viagem sobre o conhecimento intrínseco da nossa vida, nossa relação em sociedade e como lidamos com o que pensam da gente. Sempre teremos um coração partido, porém, sempre teremos uma segunda chance (como qualquer protagonista de Shōnen falaria). Max Andrade com certeza foi um gênio em transmitir toda sua emoção visceral nossa obra, definitivamente vale a leitura.

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