MB Listas: 5 Mangás que ficaram em hiato por motivos de saúde.
A cultura japonesa é rica em vários pontos. Porém, assim como em qualquer outra cultura, existem lados precários para os que a veem de fora. No caso dos japoneses, este lado é o social. A constante busca pela ausência da individualidade em prol do coletivo acaba fazendo com que várias pessoas submetam-se a situações extremas apenas para não ser um incômodo para o grupo, e nem sequer veem problema nisso. O próprio Deus dos Mangás, Osamu Tezuka, é uma prova disso. Mais de uma fonte relata que suas últimas palavras antes de sua morte foram ditas para uma enfermeira quando ela removia o material de desenho dele. “Eu te imploro. Por favor, me deixe trabalhar”.
Dado a esta questão, não é difícil ver situações em que um autor acaba precisando se ausentar do trabalho devido a questões de saúde, depois de se forçar ao máximo para conseguir manter seu prazo. E, pensando nisso, trazemos aqui 5 casos de hiatos causados por questões de saúde. Os hiatos, ou seja, as pausas de publicação de mangás, podem ser curtas, como uma semana ou um mês, ou mais longas, durando até anos. O foco desta lista não é uma competição para mostrar o maior hiato, mas um alerta a todos nós, fãs de quadrinhos, para que sejamos mais empáticos com os criadores, pois infelizmente tivemos uma prova recente de que muitos de nós estão mais preocupados com a obra do que com o criador dela.
Descanse em paz, Kentaro Miura.
Começando a lista, vamos para o caso mais recente, ocorrido ainda este ano. O autor Gege Akutami já demonstrava que sua saúde não estava 100% devido aos traços mais simplificados e rascunhados entregues nos capítulos recentes de Jujutsu Kaisen. Então, não foi uma surpresa quando o autor comentou que ficaria um mês sem postar capítulos para poder cuidar de sua saúde. Não foi comentado o motivo específico, porém, a revista alegou “más condições de saúde”. O autor pediu desculpas pela “inconveniência referente a fazer seus fãs esperarem” e como achava “errado tirar essa pausa, ainda mais no meio de um arco”, mas que aceitou devido a um pedido editorial. Ele enfatizou que sua saúde mental está ótima.
O hiato começou em 14 de Junho e o mangá voltou agora, dia 4 de Agosto.
Indo agora para um dos mangás que é muito conhecido por hiatos, além de um constante desconhecimento da situação do autor, tachando-o de preguiçoso, vamos a Yoshihiro Togashi, autor de Hunter X Hunter. Apesar do autor já ter demonstrado que não é o maior fã de trabalhar, seus constantes atrasos e hiatos se devem a uma questão de saúde. Togashi, devido a sua rotina de mangaká, desenvolveu dor crônica nas costas. Simplificando, uma dor crônica é uma dor que não passa mesmo após a recuperação do corpo. Ou seja, Togashi sente dor o tempo inteiro.Já foi revelado em entrevistas que o autor já chegou a precisar desenhar as páginas deitado devido a suas dores impedirem ele de ficar em qualquer outra posição.
O mangá Hunter X Hunter começou a ser publicado em 1998 e, de lá pra cá, houveram diversos hiatos, sendo o maior deles o atual. O mangá não tem capítulos publicados desde Novembro de 2018.
Outra pessoa que sofre muito devido ao desconhecimento do público é Ai Yazawa, criadora de Paradise Kiss, que agora está sendo publicado pela Panini.
Mas Parakiss já foi concluído em 5 volumes, não?
Realmente, Paradise Kiss já foi concluído. Estamos falando de uma outra obra dela, Nana. O mangá começou a ser publicado em 26 de Maio de 2000, na revista Cookie, uma revista shoujo/josei da Shueisha. Porém, em Junho de 2009, a autora precisou ser internada em um hospital devido a uma doença. Sua reabilitação demorou quase 1 ano, com ela retornando a sua casa em Abril de 2010. Porém, Nana nunca retornou de seu hiato.
Apesar de isso soar como um desrespeito para com os fãs, a autora já comentou algumas vezes que seu estado, apesar de não precisar mais de internação, não melhorou muito desde que voltou para casa, fazendo com que ela ainda tivesse muita dificuldade até para segurar uma caneta. Não se sabe ao certo qual é a doença que Yazawa tem, porém, especulações indicam que seja alguma doença auto-imune ou um câncer.
O mangá Nana foi publicado pela JBC entre 2008 e 2010.
Vamos agora falar sobre o mangá de Daisuke Ashihara que, apesar de ter tido um começo excelente, seu hiato constante devido a saúde do autor acabou deixando-o ofuscado perto de outros sucessos. Estamos falando de World Trigger, mangá que começou a ser publicado em 2013 na revista Weekly Shonen Jump.
Infelizmente, o autor sofreu um mal súbito em 2014, descobrindo que possui uma doença chamada espondilose cervical, também conhecida como artrite do pescoço. É uma doença que, se não levada a sério, pode causar até a perda de movimento dos braços e das pernas, além da rigidez no pescoço. De 2014 até 2016, o mangá teve algumas pausas de uma a duas semanas, porém, em Novembro de 2016 o autor precisou se afastar por um período indeterminado.
Dois anos se passaram até que Daisuke pudesse voltar, em outubro de 2018. No entanto, sua volta possuía mais uma informação. World Trigger teria apenas mais cinco capítulos na revista e seria transferido para a , uma revista mensal da Shueisha, considerada por alguns como o “irmão mais velho da Jump”. Com uma rotina mensal, o autor pôde cuidar um pouco melhor da saúde e hoje consegue manter sua periodicidade, continuando seu mangá que atualmente está com 23 volumes.
Finalizamos esta lista com o nosso queridíssimo Pirata que estica. Apesar da lista ser um alerta para a saúde de todos os autores, talvez essa nova fase da Jump possa significar um pouco de mudança em como as coisas em One Piece são feitas. Para os que já acompanham semanalmente o trabalho de Eiichiro Oda em One Piece, sabe que o autor tem geralmente uma semana de folga por mês. Apesar disso ser chato para os fãs, já que os capítulos constantemente acabam em ganchos muito bons, essa foi uma decisão editorial imposta ao autor. E, para entender isso, precisamos entender um pouco mais a cabeça de Eiichiro Oda.
Oda é um perfeccionista aficionado por trabalho. Não foi uma nem duas vezes que já afirmou que dorme 3 horas por noite toda noite para poder dedicar seu tempo a One Piece. E, embora precisemos sempre de uma opinião médica para questões de saúde, não é necessário ser médico para imaginar o quanto isso pode fazer mal ao corpo. O descanso é algo tão necessário quanto o esforço, fato que qualquer profissional da área da saúde pode te reafirmar.
Oda começou a escrever o mangá quando tinha 22 anos. Hoje, o autor está com 46. Uma rotina puxada dessa, somado ao fato de ser constante por mais de 20 anos, pode ser algo prejudicial à saúde. E Oda não parece perceber nem se importar com isso.
Em 2013, o autor precisou de um hiato de duas semanas para tratar de uma doença chamada Abscesso peritonsilar, uma infecção na garganta. Masashi Kishimoto, o autor de Naruto, foi visitar seu amigo no hospital e o flagrou desenhando o próximo capítulo de One Piece, mesmo acamado.
Temendo o pior, a Shueisha disse que One Piece teria uma folga a cada 3 capítulos, para que Oda pudesse aproveitar este tempo e fazer algo para sua saúde. Mesmo que o autor não faça nada nesta semana livre, apenas o alívio da pressão sobre os prazos já pode ajudar e muito na saúde, então é um ganho para ele.
O mangá de One Piece está muito próximo de seus 100 volumes e é publicado no Brasil pela editora Panini.
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Essa lista, acima de tudo, é um alerta para nós, consumidores e fãs. Não há obra que valha mais do que a saúde de um artista. E aqui citamos apenas mangakás, mas sabemos o tanto de problemas e sobrecargas que animadores da indústria também sofrem.
Então, depois de ler a lista, dêem uma pensada sobre o autor da sua obra favorita. Por mais que você ame a história, realmente vale a pena fazer com que ele ultrapasse os limites de seu corpo sem nem perceber que aquilo lhe faz mal por uma questão cultural?
E, para aqueles que acham que seria mais fácil passar a obra para outra pessoa, ignoram dois pontos importantes. O primeiro é o vínculo que um artista tem para com sua história. Para muitos, chega até a ser doloroso ter que passar algo adiante, dando uma sensação de que você, enquanto criador, foi incapaz de dar prosseguimento a sua criação.
E o outro ponto é o processo criativo. Quando se cria algo, um mero detalhe pode dar início a um outro ponto completamente novo, que por sua vez, puxa outra coisa que puxa outra.
Muitos artistas repetem esta frase: “Uma ideia puxa a outra.”
Se tudo o que o autor passar for a ideia inicial que ele teve, dificilmente terá a mesma qualidade de quando o autor está ativamente fazendo parte do processo criativo.
Deixemos que tenham vidas levemente mais saudáveis, e, caso o pior aconteça e algum deles morra, respeitemos e honremos sua morte, agradecendo por todo o seu trabalho e sua dedicação a algo que tanto nos cativou ao invés de perguntar e insistir sobre o fim de sua obra nos momentos que deveriam ser dedicados ao luto.