MB Review: Red Garden

Às vezes, em promoções, resolvemos dar chances para obras desconhecidas, de poucos volumes, e que podem ser gratas surpresas ou decepções nas quais gastamos pouco dinheiro. De um jeito ou de outro, são obras que precisamos arriscar, tomar impulso e dar um salto de fé. Sei que numa época como a nossa, em que livros estão cada vez mais caros e estão sendo discutidos aumento de tributos em livros, se jogar em uma obra desconhecida porque “o preço está bom” é um luxo que não é possível a todos, mas é uma experiência muito interessante.

Então, ao receber o mangá resultante de uma adaptação de um anime feito pelos mesmos produtores de Hellsing e Afro Samurai em minha casa, me aventurei nas páginas e, deste ponto em diante, começarei minha resenha. Um mundo que mistura protagonistas femininas, um thriller psicológico e várias semelhanças ao universo de Gantz. Bem vindos a Red Garden.

O enredo

Como dito, sendo uma adaptação de um anime feito pelo Studio Gonzo em 2006, o mangá é desenhado por Kirihito Ayamura e já está concluído aqui no Brasil com 4 volumes trazidos pela editora NewPop ao preço de capa de 12 reais, e até hoje sendo facilmente encontrado na Amazon atualmente.

A história é um thriller psicológico de suspense, então darei o mínimo de detalhes possível sobre a trama. Quatro garotas se veem obrigadas a lutar contra uma criatura bizarra que se assemelha a um humano, mas é um monstro. No dia seguinte, as quatro moças acordam, se sentindo exaustas e sem lembrar de nenhuma informação sobre o que ocorreu na noite passada. Enquanto isso, estranhos suicídios estão acontecendo na cidade. Como todos estão ocorrendo exatamente da mesma forma, a polícia começa a considerar a possibilidade de um serial killer.

A partir disso, a história começa a se desenvolver. A protagonista é Kate Ashley, uma garota de uma família de classe alta que passa a conviver em um dos grupos mais importantes de sua escola, a Grace, que funciona como um comitê disciplinar. Todo o peso da necessidade de ser alguém séria e disciplinada recai em seus ombros constantemente e a garota não consegue se descontrair. Sua única válvula de escape é Lise, uma garota que conseguiu conquistar sua amizade e tenta mostrar para ela a importância de não levar sua vida tão regrada. Porém, ela está desaparecida e a onda de mortes constantes preocupa Kate.

A obra

Partindo para a análise técnica, um dos pontos mais fortes do mangá é sua falta de exposição. Explicando de uma maneira resumida, a exposição em um texto acontece quando algo se é comentado ao invés de ser mostrado. É o caso, por exemplo, de um vilão que é extremamente cruel e malvado e tudo mais, mas você enquanto leitor nunca viu ele fazendo nenhuma atrocidade, apenas pessoas comentando sobre como ele é o mal encarnado.

No mangá, quase não há exposição. Tudo o que é trabalhado é mostrado, aos poucos e com uma cadência interessante. Você se prende ao mistério enquanto começa a questionar alguns pontos e algumas novas informações que lhe são passadas. Isso, em um thriller psicológico, funciona de forma esplêndida. Tudo o que é novo e que deve ser mostrado é feito de forma natural através de causas e consequências de personagens que conhecemos ou que passamos a conhecer.


Além disso, a arte é um show à parte. Falar que Ayamura arregaça nos traços é pouco. Os detalhes, as expressões faciais, os cenários e as roupas, tudo é extremamente lindo e estonteante, ainda mais se compararmos com o anime. Vale ressaltar que eu não assisti esse anime e estou fazendo esta comparação com base em capturas de tela achadas na internet, mas diante de tudo o que vi, a arte do mangá consegue manter o estilo visual do anime, mas embelezando-o ainda mais com diversos detalhes.

Entretanto, como nem tudo são flores (o que é uma ironia gigantesca para um mangá chamado Jardim Vermelho), é preciso falar sobre os dois maiores pontos fracos da obra. O primeiro deles, pra mim, são os personagens. Com exceção de Kate e Hervé, todos os demais personagens são sem carisma. Funcionando de forma básica e com pouquíssimo aprofundamento, não me cativaram de forma alguma.


Não diria que são bidimensionais, uma vez que alguns deles são bem construídos, com suas personalidades claras e até uma evolução, mas faltou algo. Talvez entender melhor sua motivação, já que nenhuma delas é demonstrada. Ou algum ponto que fizesse com que nos simpatizemos mais com tais personagens. Mas, como este ponto acaba sendo algo subjetivo, não sei se funcionará assim para todos. Outras pessoas podem gostar mais dos personagens e sentir neles o carisma que eu não senti e que, consequentemente, fez com que eu não me importasse tanto assim com o decorrer da obra.

O outro ponto, porém, é uma grande falha de roteiro que fez a leitura decair muito ao meu ver. Lembram que eu comentei acima sobre como as coisas foram discorrendo de forma natural e não houve exposição referente a trama principal? Então, este ponto acaba sendo uma faca de dois gumes e se torna um problema na parte final do mangá. Muita coisa acaba sem explicação, mas muita mesmo. Pontos chaves da trama não são explicados de forma alguma, tornando resoluções sem peso, afinal, o leitor não entende exatamente a motivação ou a urgência ou sequer o sentido de aquilo tudo estar acontecendo.


Fator esse que é levado ainda mais em conta se considerarmos o que certos personagens disseram. Tentando não dar spoilers, alguns personagens da trama acabam servindo o arquétipo de personagem dúbio, no qual você não sabe se o que ele fala são meias verdades, mentiras para ludibriar ou só formas de dizer para convencer. Caso consideremos o que estes personagens falam como verdades, então a trama inteira poderia se resolver com meia horinha de conversa. Caso fosse uma mentira, abre mais margem para buracos na história que não foram explicados de forma alguma. Mas, em nenhum momento nos é mostrado o que era verdade ou mentira em suas palavras, o que deixa tudo isso ainda mais vazio.

O mangá se beneficiaria muito com, talvez, um volume a mais para destrinchar certos pontos, principalmente voltados a motivação e criação de certas criaturas – que estou tentando falar de forma vaga para ainda não estragar a experiência de quem lê.

A edição física

Falando agora da edição nacional, esta tem o tamanho de 12 x 18 cm, papel offset e os três primeiros volumes tem uma média de 185 páginas. O quarto e último tem quase 300. Como já comentado, o preço é muito bom e o fato de ainda estar disponível mesmo após 9 anos de seu lançamento é um ponto positivo, embora este mérito também se deva ao desconhecimento da obra pelo público. De qualquer modo, é um grande acerto da editora manter esta obra em seu catálogo após tanto tempo.

Durante a leitura encontrei um ou dois erros de revisão como palavras faltando, mas o detalhe editorial que mais me chamou atenção foi a alteração do nome de uma personagem. Enquanto no volume 1, a personagem era chamada apenas de Cléa, a partir do 2 até o final, esta foi chamada de Claire. Não sei dizer se esta foi uma decisão editorial, erro de tradução ou o original realmente é assim, mas causou um leve estranhamento.

Vale a pena?

Red Garden é um mangá gostoso de ler, a trama te prende e se você for fã de uma história pela história, pode ser uma boa pedida, ainda mais pelo baixo custo. Se você for fã de um grande elenco de personagens, entretanto, este não vai ser o mangá para ti. A recomendação geral que fica é: Após a leitura, assista o anime, pode ser um complemento interessante para possivelmente fechar as diversas pontas que o mangá deixou.

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