MB Review: Rohan no Louvre – A beleza no Estranho
“L’homme ivre d’une ombre qui passe, Porte toujours le châtiment”
(Atrás de uma sombra que passa, o homem é sempre castigado)
Charles Baudelaire
Rohan no Louvre (Kishibe Rohan Louvre e lku), é um mangá spin-off da renomada franquia “JoJo’s Bizarre Adventure”, escrito por Hirohiko Araki, e lançado no brasil pela editora Pipoca e Nanquim. O mangá faz parte de uma coletânea de quadrinhos que se passa no Museu do Louvre e a trama principal data a ida do personagem Kishibe Rohan ao famoso museu francês depois de se recordar de uma antiga lenda. A lenda dizia que escondido no acervo está um quadro amaldiçoado lendário que contém a tinta preta mais escura do mundo. O quão bizarra e artística essa história será?
– A Narrativa
Já respondendo a sua pergunta, não, você não precisa ter lido nada da franquia principal de JoJo’s para entender a trama, e esse talvez tenha sido um dos pontos mais interessantes dessa narrativa em si, já que o autor da obra consegue introduzir, de forma dinâmica, a ambientação como segundo plano para uma nova abordagem, e consegue apresentar toda a questão de poderes, personalidade e background de forma rápida e sucinta sem a sensação de “perda” de conteúdo.
Então, mesmo você não conhecendo nada do universo, personagens ou design, é possível tirar um ótimo proveito da narrativa, visto que nas primeiras páginas já são bem “autoexplicativas” do que está por vir.
Algo interessante a se falar é a evolução criativa da história que o autor propõe, caso você conheça a franquia da qual esse One-shot é derivado, você deve ter ciência que originalmente a obra era publicada na revista “Weekly Shõnen Jump” (1987-2004), uma revista semanal focada no público infanto-juvenil. Apesar de uma temática narrativa mais pesada, as tramas eram bem simples e com um plot mais “engessado”. Até que, em 2005, a obra migrou para a revista “Ultra Jump” onde é publicada de forma mensal e isso deu ao autor uma capacidade maior para construção narrativa e estética, com o foco no público um pouco mais maduro.
“Ah, mais o que isso tem a ver com esse mangá aqui?”.
Bom, Rohan no Louvre foi publicado originalmente em 2011 após 6-7 partes da franquia principal. O criador já alcançava uma carga narrativa enorme, então, apesar de ser um volume único baseado em uma série longa, e uma trama com personagens com background já existentes, ele consegue dar um formato original para Rohan, com uma trama divertida e bizarra.
A Obra
Acompanhamos Rohan em duas fases de sua vida. A primeira em seus tempos juvenis, onde ele relata sobre sua vida e as influências que teve de algumas pessoas, precisamente uma mulher a qual chega a conhecer e o marca bastante. A outra se passa no ‘presente’ (precisamente, a época da 4º parte de Jojo’s, Diamond Is Unbreakable), com Rohan relatando os efeitos desses encontros e sua viagem ao digníssimo museu na França, onde passa-se o plot principal.
Como a obra é relativamente curta, a narrativa foca em dar uma conclusão rápida, mas sem negligenciar o teor artístico que esse projeto propõe. Sim, temos as batalhas e as famosas “Jojo’s pose” presentes neste oneshot. Contudo, a narrativa foca mais na ambientação do Louvre e usa detalhes como os quadros e as bizarrices (dado já em seu nome) para envolver o leitor na beleza e na estranheza. Tudo é feito de forma magnífica, em excesso, e é notável uma melancolia, algo sublime que remete à França do imaginário popular.
A edição física
O trabalho da editora Pipoca e Nanquim em Rohan no Louvre surpreende. A escolha do material realã a arte de Araki e as dimensões escolhidas para o mangá contribuem demais para o aproveitamento da história. Assim como Guardiões do Louvre, outro mangá da mesma série e da mesma editora, o tamanho maior serve para dar enfoque e otimizar a arte dos autores, e isso é um grande acerto, já que assim podemos acompanhar as aventuras de Rohan admirando todas as cores e traços peculiares de Araki. Infelizmente, a edição nacional está esgotada e é bem difícil de se encontrar hoje em dia. Esperamos que a editora faça uma nova impressão dessa obra prima, item indispensável para fãs de JoJo e admiradores de uma boa arte.
– Vale a pena?
Sendo uma história Spin-off, a trama é prática e digerível para quem não conhece a franquia principal. Araki agrada, tanto em arte quanto em enredo, todos os leitores sejam os que não conhecem ou os fãs da franquia. Claro, a obra também não é só maravilhas. Devido sua limitação em ser um volume único, alguns pontos foram difíceis de trabalhar, o que pode ocasionar alguma estranheza, mas que de certa forma não gera uma dificuldade tão grande na compreensão do enredo. É um prato cheio em estética, arte, beleza e até em narrativa, comparado ao estranho mundo que Jojo se passa. Com certeza, vale a experiência.