MB Classic: Hana Yori Dango

Hana Yori Dango é uma estilosa comédia romântica dos anos 90, adaptada do mangá de mesmo nome, considerado um dos shoujos mais populares do Japão. Na história acompanhamos Makino Tsukushi, uma garota obstinada e cheia de carisma que entra em confronto com uma realidade cheia de status e suas ações acabam nos levando a um mundo de dramas, comédia e muito amor.

Dizem que algumas experiências narrativas do passado devem ficar no passado. Tocar em um título que consumimos em outra fase da vida pode ser uma armadilha perigosa, mas fico grato por não ser o caso do anime de Hana Yori Dango. Com um visual e clima que só poderíamos encontrar em shoujos da década de 90, a irreverente série tem importantes discussões em seu desenrolar, mas antes de entender o quão interessante a série é, precisamos de compreender o quão grande é sua popularidade e as diversas produções que envolvem seu nome.

Hana Yori Dango é um mangá shoujo publicado entre 1993 e 2002 na revista shoujo Margaret por Yoko Kamio e recebeu uma adaptação animada, que é a base dessa resenha, em 1996 pela Toei, além de diversas produções em live action de diferentes países: Taiwan (2001); Japão (2005); Coreia do Sul (2009); e China (2018). Ainda sobre a força da obra, Hana Yori Dango figura como o shoujo mais vendido e seu sucesso se espalha por toda a Ásia.

A produção do anime 

A produção do anime ficou por conta da Toei Animation, com direção de Shigeyasu Yamauchi, diretor em diversas produções conhecidas, dentre eles pode ser citado Dragon Ball Z (200 – 291); Kimi no Iru Machi; e Dr Slump. A adaptação contou com 51 episódios e a animação tem altos e baixos, o que é compreensível visto que a produção e exibição começou em 1996 e era dedicado a TV. Devo apontar que a trilha sonora e visual do anime trazem muito bem o clima da época, com a entrada da visão ocidental através dos EUA e sua forte ligação com o Japão no pós-guerra, onde temos um ambiente de liberdade contrastando com as tradições do país. Por fim, a qualidade do anime é inegável, entregando muito bem cenas de drama, romance e comédia. Porém, em alguns momentos, sinto que o próprio roteiro não ajuda na direção, dificultando a transição entre esses diferentes tons, mas em quesitos gerais, é possível compreender porque a série de mangás é tão popular, em especial nos temas que a obra se propõe a discutir. 

A História

Sinopse: Tsukushi Makino só quer terminar o ensino médio tranquilamente. Nada mais. E isso pode até parecer simples, mas seria mais fácil se ela não estivesse na Escola de Ensino Médio Eitoku, frequentada pelos filhos dos ricos e da elite. Vinda de uma família pobre, Tsukushi acaba se destacando em sua turma por ser a única diferente, e isso só piora quando sua amiga Yuuki acidentalmente irrita Tsukasa, o líder do F4, os quatro garotos mais ricos e bonitos de sua escola. Ao tentar proteger Yuuki de Tsukasa, ela acaba ganhando um cartão vermelho, que é um sinal para o resto da escola que Tsukushi é um alvo aberto para todo e qualquer tipo de bullying. Contudo, ela não está disposta a desistir de seu objetivo de se formar, e sua determinação feroz de se defender pode acabar tendo consequências inesperadas nos corações do F4!

Em termos simples, temos aqui uma luta de classes em um ambiente escolar?! Claro que não, longe de mim banalizar o termo, mas a proposta é realmente pegar duas camadas sociais diferentes e discutir o impacto sobre a vida dos personagens, essa discussão muito comum está em obras posteriores como Special A, Maid Sama e Ouran, mudando o grau de discussão a depender da história, mas em Hana Yori Dango essa discussão tem um peso maior, o próprio nome do mangá sugere isso. A tradução do título é algo como “Antes comer bolinhos do que flores”, que pode ser lido como “é melhor ter algo que comer do que algo belo”. Em meio a uma parcela da sociedade que valoriza o status acima de tudo, Tsukushi figura como alguém que se recusa a aceitar esse mundo, sua persistência em lidar com esse status acaba por gerar a denominação de erva daninha e esse aspecto dá corpo a narrativa inicialmente e com o passar dos episódios se torna um elemento que dificulta o desenvolvimento das relações entre ela e o F4.

Outro aspecto muito interessante da história é o enfrentamento e posterior aproximação da personagem dos F4, formado por Doumyouji, Nishikado, Rui e Mimasaka, e aqui devo fazer uma defesa e também crítica a alguns aspectos. Inicialmente, temos a protagonista passando por um processo de bullying, algo que está longe de ser aceitável e é feito de formas extremas. Em dado momento da narrativa, a personagem chega a ser amarrada em um carro e puxada. E embora eu considere muito interessante como existe uma desconstrução e humanização dos personagens que compõem o F4, também sinto que o bullying é deixado de lado, configurando uma normalização inaceitável desses atos. O meu desgosto com o esquecimento desse tema se resume ao anime, então não posso opinar sobre o mangá, mas particularmente é um aspecto negativo. Escolher uma discussão em detrimento de outra nem sempre é uma boa escolha, e diria que nesse caso, foi uma péssima escolha.

Ainda sobre a desconstrução do F4, temos representações de príncipes, não se resumindo a aparência, mas a vivência desses personagens que, ao ser confrontados por Tsukushi, passam por um lento processo de mudança, em especial Doumyouji, que acaba por se apaixonar por nossa amada protagonista. Gostaria de ressaltar que aqui temos um tema bem delicado: as primeiras interações “românticas” do personagem em relação a Tsukushi são extremamente violentas. Posteriormente isso é desconstruído, nos fazendo perceber que está totalmente interligado ao crescimento do personagem em um ambiente em que não existia país para impor limites, muito menos algum outro mecanismo, visto que o poder aquisitivo tornava o personagem inquestionável, mas ainda que haja uma justificativa, a romantização da cena de violência acaba por diminuir o peso da discussão. Infelizmente príncipes não existem, principalmente dentro dos arquétipos de personagens que costumam ter mais espaço em shoujos. Pelo contrário, ao perceber que Doumyouji e sua trupe são exemplos negativos, o desenrolar da história ganha mais corpo, e enquanto acompanhamos a formação de um triângulo amoroso entre Tsukushi, Rui e Domyouji, representando muito bem seus personagens como adolescentes e o impacto das diferenças entre os ambientes que foram criados, também percebemos uma bela discussão sobre como o status e os príncipes podem ser superestimados, afinal de contas, bolinhos são mais importantes que flores.

Esperem por mais textos de Hana Yori Dango, a série merece um espaço no coração de vocês.

Por fim, gostaria de ressaltar que o final pode ser insatisfatório no anime, não considero ruim, mas os 3 últimos episódios parecem te jogar em uma montanha russa de sentimentos, o episódio 50 em especial é o melhor episódio de todo o anime, mas o fim da história do episódio 51 parece apressada. Dito isso, é provável que o mangá tenha uma experiência mais completa, mas o anime está longe de ser ruim, muito pelo contrário, Hana Yori Dango apresenta um belo desenvolvimento, trilha sonora, animação e direção competentes. Obviamente tem defeitos, já citados aqui nesse texto, mas em quesitos gerais é uma experiência totalmente recomendável.

Ps: EU AMO O TRAÇO DOS ANIMES SHOUJOS NOS ANOS 90!!

Pss: Abertura mais que perfeita.

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