MB Nacional: Robô Esmaga

Uma das primeiras publicações da iniciativa Ink! da editora JBC, Robô Esmaga, coletânea de tiras de Alexandre S. Lourenço, é simples, mas repleta de reflexões e questionamentos sobre a vida e toda a trivialidade do existir.

Robô Esmaga Capa

Com um traço bem característico, sem muitos contornos e uma arte predominantemente preta e branca, as tiras de Robô Esmaga são como pequenos episódios de uma série. Existem numa certa linearidade, algumas remetem diretamente à anteriores, mas no meio disso tudo tem umas ou outras que são únicas. Porém, sempre dentro do mesmo contexto, o cotidiano e a vivência. Pequenos retratos de um dia a dia urbano.

O título pode enganar, mas já explico: não é uma história de robôs. Ou, pelo menos, não literalmente. Gosto de pensar que o robô que nos esmaga nessa narrativa é a rotina, de uma vida acelerada e de uma existência meio perdida meio imersa em trabalho e tecnologia.

As passagens que mais me fizeram pensar foram as ambientadas na empresa forrada de cabinezinhas, cenário recorrente das tiras do livro. Um cotidiano empresarial, mas que pode refletir e exemplificar tanto nossas vidas quanto o que representa nas imagens. É sobre a insatisfação do estar onde estamos, como se cada cubículo fosse a nossa existência e a grande colmeia a sociedade em que estamos inseridos.

Outro ponto recorrente da narrativa é a chuva. Ela figura como protagonista em algumas tiras e representa os fatores externos aos quais não podemos controlar, mas que influenciam diretamente em nossa vivência. Um exemplo para isso são as duas tiras registradas aqui. Na primeira, “não pare, lopes”, vemos o indivíduo que, mesmo cabisbaixo, não para de seguir em frente. E tanto o narrador quando o próprio personagem lembram que é preciso continuar.

No quadrinho de nome “Chuva” temos Lucas, o único representado sem ação contra a chuva que cai. Todos os outros estão, a seu modo, enfrentando a pancada, mas ele apenas para, no meio da página, “não parecendo se importar”. Às vezes, não adianta lutarmos contra a chuva. É preciso se molhar um pouco e sempre seguir em frente.

Com seu site sem atualizações desde 2018, e não encontrando nada recente nas redes sociais, não sei dizer por onde anda o autor. Mas garanto que a leitura de Robô Esmaga (tanto da versão impressa quanto das tiras do site) também te incomodará, e quem sabe isso não seja um bom empurrão para sairmos das nossas zonas de conforto, dos nossos próprios cubículos.

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