MB Especial: Odoru! Kremlim Kyuuden

Quem me conhece sabe que eu tenho um interesse bem grande por mangás nonsense. Autores como Yoshio Sawai, Gatarou Man e Usuta Kyosuke sempre me agradaram muito com suas histórias absurdas. E, procurando mais obras do tipo, acabei esbarrando em “Odoru! Kremlim Kyuuden”, de um autor que eu já conhecia: Shintaro Kago. Ano passado, a editora Todavia chegou a lançar no Brasil o mangá Dementia 21 do autor, inclusive, aguardo a publicação do segundo volume, hein, Todavia?

Diferentemente dos autores que citei anteriormente, Shintaro Kago é um autor nonsense mas que mistura elementos de comédia com terror e ero-guro. Então espere ver coisas como incesto, estupro, sexo escatológico, entre outras na maioria de suas obras.

Em Dementia 21, por exemplo, essa parte do sexo é praticamente inexistente, mas em Odoru! Kremlin Kyuuden está muito presente. Então acho importante avisar isso aqui logo no início do texto, pois caso você se interesse em ler a história, leia tendo isso em mente.

O mangá é dividido em 12 capítulos, compilado em 1 volume e foi lançado em 2003. Infelizmente não consegui achar em qual revista ele foi publicado, ou se foi lançado diretamente como um encadernado. A obra é inédita no Brasil.

Capa da edição japonesa.

A premissa é bem simples, a cada capítulo vemos um líder russo, seja atual como Putin, ou da época da União Soviética, como Stalin, sendo ridicularizado. O autor pega algo da cultura russa ou alguma característica de algum governo, e escala para uma proporção absurda, lembrando de certa forma, os mangás do Junji Ito. 

Um exemplo é a roleta russa, onde absolutamente tudo que os russos fazem são baseados nesse jogo. Os tanques de guerras russos, por exemplo, são equipados com 6 canhões, mas apenas 1 deles está realmente carregado com munição, e assim por diante, existe uma capítulo inteiro apenas sobre os absurdos da roleta russa. 

Ou quando um líder russo reúne toda a energia da união soviética em uma espécie de genkidama para usar em uma partida de baseball. Ou talvez quando o mangá referencia o plano de expansão na agricultura, principalmente na Sibéria, e por conta de o lugar ser gelado, são introduzidos na obra não apenas os itens de agricultura propriamente ditos, mas coisas absurdas como “tristeza congelada”, “explosões congeladas”, “tornados congelados” e cada um com uma função, por exemplo, as explosões podem ser descongeladas e usadas para demolição de prédios, os tornados para a geração de energia eólica, e assim por diante. Sempre, colocando os líderes e o povo russo em posições bem…deselegantes, para não dizer outra coisa. 

Como sempre faço em resenhas de mangás com volume único, não gosto de me alongar muito porque posso acabar entregando mais detalhes que o necessário, mas se tem algo que eu observei durante a leitura é que alguns contos são melhores que os outros, o que é normal para obras episódicas. 

O problema aqui é que alguns contos são muito inferiores, enquanto outros são bem melhores. O conto do baseball que citei acima, por exemplo, tem seus momentos divertidos mas de um modo geral é fraquíssimo.

Ao meu ver, isso acaba puxando a média da publicação para baixo. Outro problema é a narrativa truncada, senti falta de dinamismo na quadrinização do mangá, o que deixa o ritmo de leitura um pouco cansativo, ao menos para mim.

O balão de fala dos personagens também é algo estranho, na maioria das vezes eles se parecem com os balões quadrados do narrador, a única diferença é que as falas do narrador em questão possuem uma borda preta, enquanto a dos personagens, não. Os desenhos de um modo geral também ficam aquém do que já vi em outras obras do autor, mas não estão ruins.

Com certeza é um mangá ousado (como todos os que ele faz) e eu respeito o Shintaro Kago por isso. Mas acho que alguns deslizes acabam diminuindo a qualidade geral. Mesmo assim, preciso deixar claro que me diverti bastante lendo, e até indico para quem quer entrar nesse mundo mais “grotesco” do mangá.

Lembrando, existem cenas que podem incomodar bastante pessoas mais sensíveis, mas o teor ainda é “leve” se comparado a outras obras do gênero, ou até do mesmo autor. Apesar de não ser tão bom como tinha potencial para ser, “Odoru! Kremlin Kyuuden” diverte e é uma boa pedida para se ler em uma tarde ociosa de domingo, principalmente se você nunca leu nada do autor.

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