MB HQ’s: O Máskara
Grande parte de nós conhece o estranho e divertido personagem “Máskara”, principalmente por conta do filme de 1994 estrelado por Jim Carrey ou do desenho animado que estreou no ano seguinte.
Durante minha infância, eu assisti aos dois, mas gostava mais do desenho, e ficava imaginando como deveria ser incrível ter uma máscara que me permitisse transformar em praticamente tudo, além de conseguir tirar qualquer arma literalmente do nada. E não digo isso apenas para dar volume no texto, eu realmente ficava pensando, fascinado com tal “possibilidade”. O tempo passou, eu cresci e quase não lembrava mais do personagem, apesar de ter um VHS original do desenho e também ter jogado o jogo do Super Nintendo.
Felizmente em 2019, a editora Pipoca & Nanquim anunciou que o quadrinho que deu origem ao filme e derivados, seria publicado por eles. Naquele momento pensei: “Nóóó, é mesmo! Esse personagem é muito legal” e quando vi que a HQ tinha uma pegada ainda mais maluca, sádica e brutal que as obras audiovisuais, fiquei realmente interessado em ler.
Como meu foco principal são os mangás, acabei deixando “O Máskara” para depois e só consegui ler neste ano graças ao site. Então, cá estou eu hoje para falar desse quadrinho divertidíssimo. Mas antes, como é de praxe, vamos aos detalhes sobre a publicação.
“Uma misteriosa máscara comprada em um antiquário pelo neurótico Stanley Ipkiss lhe concede os poderes ilimitados de um personagem de desenho animado. Longe de ter o comprometimento de um autêntico super-herói, Stan prefere se dedicar a uma vingança pessoal que custará sua sanidade e o colocará em uma violenta rota de colisão contra a polícia e a máfia, repleta de caos homicida, loucura e explosões.
Tudo piora quando a estranha máscara começa a passar de mão em mão, e cada um de seus portadores têm um destino diferente para seus incríveis poderes. Este volume da editora Pipoca & Nanquim tem 380 páginas coloridas e capa dura com verniz localizado, e reúne as três primeiras minisséries do personagem, O Máskara, O Retorno do Máskara e O Máskara Contra-Ataca, todas escritas por John Arcudi e desenhadas por Dough Mahnke, dois veteranos dos quadrinhos”.
O Máskara
Nesta primeira história, vemos o surgimento do personagem que é constantemente chamado pela polícia de “cabeção”. A princípio, Stanley Ipkiss compra uma máscara para dar de presente para sua namorada, Kathy, que é colecionadora desse tipo de artefato. Stanley acaba por colocar a máscara apenas para fazer uma graça e descobre os efeitos dela. Quando está usando-a, consegue mudar sua aparência, ter uma resistência a danos fora do normal (incluindo tiros) e invocar armas do nada, além de claro, possuir uma personalidade muito mais insana e violenta, até porque a máscara em si tem consciência e induz o personagem a cometer tais atos.
O que eu achei legal é que, com o tempo de uso, a pessoa também vai tendo sua própria personalidade alterada. Stanley que era um cara comum, daqueles bem “engomadinhos”, aos poucos vai se tornando agressivo, perigoso e até passa a usar roupas militares (?), tudo isso após utilizar a máscara frequentemente. Na verdade, ele a usa por motivos pessoais: se vingar de todos aqueles que já lhe causaram algum aborrecimento. Nem a professora do primário escapa do cabeção.
A primeira aparição do Máskara
Claro que a polícia entra na história, e por motivos que não vêm ao caso aqui (pois seria spoiler), a máscara vai parar nas mãos do tenente Kellaway, que começa a usá-la para, assim como Stanley, cumprir objetivos pessoais. No caso do tenente, ele começa a agir como uma espécie de justiceiro e desobedecer às ordens de seus superiores. A personalidade de Kellaway também vai se alterando, e eu curti muito ver mais de um personagem ficando maluco por conta de uma máscara ancestral. Somos também apresentados ao brutamontes Walter, que é um dos poucos (senão o único) personagem que pode fazer frente ao Máskara.
Essa primeira história é muito divertida, e o Máskara é um personagem que eu adoro desde pequeno, mas ver ele ácido assim, pela primeira vez, foi muito legal. É notável também a evolução da arte Dough Mahnke no decorrer da mesma, ela já era boa, mas aos poucos deixou de ser tão caricata e tomou proporções mais realistas, mesmo mantendo os devidos exageros.
O Retorno do Máskara
Sequência direta da história anterior, aqui temos o tenente Kellaway hospitalizado por causa de um atentado que sofreu por conta da máscara. E por um motivo que não revelarei, ela vai ser usada justamente por Kathy. Sim, a ex-namorada de Stanley Ipkiss. Logo ela, que alertava a todos sobre os riscos de usar o artefato. Também temos uma presença forte da máfia italiana nessa história, e não precisamos pensar muito para descobrirmos do que eles estão atrás. É aí que entra um detalhe engraçado, antes mesmo de Kathy colocar o item, um dos capangas do chefão da máfia acaba se tornando o “Cabeção” por conta de uma brincadeira de mau gosto. Além disso, temos uma pequena ideia de qual é a origem do perigoso objeto aqui, o que é bom ressaltar, já que no filme e no desenho, a origem da máscara é viking, e ela é feita de madeira. Na HQ ela é feita de uma espécie de pedra, e é objeto de um tipo de ritual de voodoo.
Apesar de Walter aparecer na primeira história, é aqui que vemos mais sobre a sua extraordinária força. Não diria que ele é um vilão, até porque o próprio Máskara pode ser considerado um. Mas considero Walter o “chefão” a ser enfrentado aqui.
As sequências de ação envolvendo os dois personagens são muito boas, e muito violentas, devo dizer. Algo que me afastou por muito tempo das HQs americanas foi o fato de eu não sentir a mesma fluidez dos mangás, sobretudo nas cenas de luta, mas felizmente, não é o caso aqui. Dá para acompanhar bem e temos, sim, uma sensação de movimento, por mais que eu ainda esteja convicto que os japoneses conseguem fazer isso como ninguém.
O poderoso Walter
“O Retorno do Máskara” é uma história à altura da primeira, talvez seja até melhor. Os personagens são mais explorados, por mais que não seja nada muito profundo. E na minha opinião, é nessa história que a arte tem o seu ápice. Não só os desenhos evoluíram, como a colorização também ficou bem mais uniforme, um ótimo trabalho feito por Chris Chalenor.
O Máskara Contra-ataca
Após os eventos anteriores, o “Cabeção” agora conta com uma espécie de fã clube. Existem camisetas, jaquetas, pôsteres e vários outros itens de decoração com o personagem estampado. No início, acompanhamos Rick, um fanático pelo Máskara que vai quase diariamente até o local onde a segunda história teve fim, os amigos dele até dizem que para ele o local é uma espécie de “meca”. E é nesse local que ele acaba por encontrar a máscara e adivinhem? Pois é, ele se torna a “pessoa” que ele tanto admira. Walter, recuperado dos incidentes anteriores, se alia novamente à mafiosos, agora para poder se vingar do Máskara.
Assim como nas outras narrativas, mais de um personagem usa a máscara aqui, todos amigos de Rick, e cada um tem uma reação diferente, por pouco o Máskara não vira um rockstar quando um dos personagens do grupo usa o objeto. Pela primeira vez, temos uma noção de como os usuários do item enxergam quando estão sob efeito do mesmo, é uma coisa totalmente psicodélica.
As cenas de luta são boas, mas um pouco mais confusas aqui do que nas histórias anteriores, acho que muito por conta da quadrinização, que é de longe a mais diferenciada de todo o encadernado. Os quadros não são nada uniformes como eram antes. Não que isso seja um ponto negativo, acho que gostar disso varia muito de pessoa para pessoa, eu acho legal apesar de ter ficado confuso algumas vezes.
Essa história foi lançada em 1995, ou seja, após o filme. E é bastante perceptível que os autores incorporaram algumas características do longa neste conto. O humor característico está presente, mas desta vez, de uma forma ainda mais exagerada, as próprias transformações do Máskara estão muito mais semelhantes às que vemos no filme e no desenho. O texto também, as frases de efeito estão presentes com uma grande frequência. É uma boa história que termina com um plot twist de um plot twist. Recomendo!
O mundo na visão do Máskara
Ao contrário do que eu imaginava, Stanley Ipkiss não é o protagonista como nas produções audiovisuais, aqui ele é só mais um dos vários “Cabeções”. A passagem dele pelas histórias é, curiosamente, bem curta. Acho que os autores fizeram isso com a intenção de deixar claro que a única protagonista ali é a máscara. Mas como adaptaram a série para cinema e TV, escolher o Stanley, que foi o primeiro usuário, fez mais sentido.
A edição da Pipoca & Nanquim está bastante caprichada, como era de se esperar da editora. O formato é o 17×26 cm, miolo em papel couché de 90g, capa dura com verniz localizado e cerca de 380 páginas, todas coloridas. Atualmente o quadrinho está meio enjoado de se achar, pois parece ter esgotado, mas o preço de capa sugerido é de R$84,90.
“O Máskara” é uma HQ simples, se formos analisar o roteiro. É sempre a mesma fórmula: a máscara passa de mão em mão enquanto um grupo ou algum personagem persegue o usuário, seja para dar um fim ou para roubar o artefato, e no decorrer disso, as maluquices acontecem. É um quadrinho descompromissado, se você já ler com isso em mente, pode ter certeza que vai aproveitar muito mais. Tudo o que acontece é uma desculpa para que o leitor possa ver o “Cabeção” aprontando das suas, e cá entre nós?! A chance de você ter comprado o quadrinho para ver exatamente isso é de quase 100%. No geral, uma nota 8,5 é justa para a publicação.