MB Nacionais: PIECES Partes do todo – Um é tudo, tudo é um

Recentemente, eu pude ter o meu primeiro contato com uma obra do quadrinista Mario Cau, que conta com uma base artística incrivelmente montada e sempre me despertou um interesse para conhecer a fundo suas narrativas. Bem, fui agraciado com a obra “PIECES Partes do todo” e acho que hoje a gente tem bastante coisa para falar!

A obra em volume único é uma coletânea de contos com um olhar poético sobre os pequenos pedaços que constroem a vida, seus encontros e desencontros, desejos, corações partidos e amizades. São peças de um quebra-cabeça que desconhecemos por completo. A autobiografia se encontra e se mistura com o relato ficcional em histórias que convidam o leitor a se perguntar “o que acontece antes e depois daquele pedacinho de vida?” Segundo o autor, trata-se de experimentos de “auto-ficção (não)biográfica”.

– A narrativa

A obra é permeada por contos que em algum momento o leitor pode vir a ter uma aproximação, todas elas tratam sobre temas intrínsecos a humanidade, como  a saudade, o amor e o existencialismo, sendo rodeada por um lirismo astuto do autor que faz com que cada mini história consiga ser mais bonita e tocante do que já é, cada uma tem sua melancolia e todas elas trabalhando de alguma forma com o conceito de “nostalgia”, fazendo com o que o leitor consiga ser familiarizado.

Em um dos contos em específico, o tema “saudade” é tratado de uma forma extremamente bela. O autor consegue criar um personagem que é assombrado por suas inseguranças, medos, e a dificuldade em sentir afeto e lidar com a distância, e tudo isso é demonstrado em um exemplo metafísico lindo, sobre o conceito de sentir falta de alguém, afinal pessoas são como laços, e o que nos une a cada uma é um pequeno espaço de tempo, como linhas que se entrelaçam.

Outro conto que aborda muito bem o conceito de empatia humana e a perda é o intitulado “Olhos de Van Gogh”, que é uma parte de um dia de um casal que vão à missa e se deparam com um senhor quase chorando e se segurando forte após uma passagem religiosa o fazer se lembrar de sua falecida esposa. O que torna tudo isso interessante é o fato dessa história ser contada pela visão do casal. O conceito de saudade, aflição, tudo isso é originário de um achismo de quem tem a quem ama e se imagina perdendo, tudo isso faz com o que o conceito de “empatia” seja da forma mais bela e crua construída. O quão forte devemos ser para seguir em frente?, Vale a pena continuar após perder tudo?, Como lidamos com isso?, São questionamentos levantados em poucas páginas mas que fazem com o que a passagem “somos partes do todo”  ganhe ainda mais interpretações.

– A estética

Além de toda maestria narrativa, algo que chega a assustar é a qualidade artística do Mario. Seus desenhos e traços são surreais de atraentes e conectivos. O quadrinista em boa partes das cenas, consegue entregar cenas tão marcantes que comprovam que não são necessárias uma única palavra para transmitir uma emoção ou ação, além de conseguir pegar a metafísica e explicar por meio dela temas como ansiedade, melancolia e o existencialismo de uma vida urbana cercada pela dependência emocional, também transmitindo o afeto e a esperança que a saudade consegue deixar. De todos os jeitos, a arte de Mario Cau é impecável, o que dá ainda mais camadas explicativas de sua obra.

– Vale a pena?

“Pieces Partes do Todo” é uma obra nacional que com toda certeza deve ser vangloriada. Em 80 páginas, o autor consegue entregar um turbilhão de emoções que mexem de várias formas com quem está lendo. Tudo isso é tratado com bastante carinho, como é notório em sua capacidade narrativa, além de abordar de forma extremamente romantizada situações tão comuns e tão distantes que formulam a identidade de quem está lendo, fazendo com que a obra consiga tocar ainda mais diversas facetas e emoções, que com certeza estimulam ainda mais o dinamismo. Essa obra sem dúvidas entra nos meus favoritos de quadrinhos nacionais.

Caso queira adquirir a obra, pode encomendar diretamente na loja do autor e receber seu exemplar autografado e com um sketch. As demais obras do autor também estão disponíveis para venda no site oficial.

“Um é tudo, tudo é um

O tudo é o mundo, o um sou eu!

Tudo é criado a partir de um

E tudo retorna a um

Tudo existe graças ao um

E tudo está contido no um!

Mas só com esses ”uns” juntos, o ”tudo” pode existir”

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