MB Review: My Hero Academia

Quando Naruto foi encerrado em 2014, um baque muito forte aconteceu para os fãs de gibi japonês. Embora possamos gostar mais de One Piece ou de Bleach, dos chamados “Grande Trio” da época, Naruto tinha uma importância mundial inigualável. E então, levantou-se a dúvida sobre qual seria o responsável por carregar o legado do nosso querido gari dos clones. Nesse momento, uma nova série estava começando. Seu volume 1 começou a ser vendido no mesmo mês em que o último capítulo de Naruto foi para a Jump. E então, essa arte, se não me falha a memória, brasileira, viralizou pelo mundo.

Uma arte de Naruto, agora crescido, passando a tocha para Izuku Midoriya, da recém lançada série Boku no Hero Academia (ou, em sua versão ocidental, My Hero Academia), a obra principal de um mangaká que já havia publicado outras histórias pela Jump antes, incluindo Oumagadoki Zoo e Kohei Horikoshi.

A arte foi um tiro no escuro. E caramba, que tiro bem dado. Hoje, My Hero Academia é uma das franquias mais importantes da revista, sendo considerada um dos pilares que sustentam a revista Weekly Shonen Jump, junto com One Piece e Jujutsu Kaisen no dia desta resenha e só de imaginar que as três séries já estão com seu final anunciado nos faz pensar o que vai ser daqui pra frente na Jump… mas isso é um assunto para um outro momento. Quem sabe, um MB Discute.

Hoje, vamos falar dessa história que conquistou tantas pessoas pelo mundo. A história sobre como Izuku Midoriya vem se tornando o herói Nº 1 do mundo, My Hero Academia.

Sinopse Oficial

Em um mundo onde quase toda a população possui algum poder sobre-humano, Izuku Midoriya é um dos poucos casos de pessoas comuns. Mas esse não é o maior de seus problemas. Exatamente por ser desprovido de qualquer poder, Izuku sofre constantemente nas mãos de seus colegas de classe. 

Nesse mundo fictício, desde o primeiro caso constatado de um recém-nascido com algum tipo de poder, o índice de criminalidade cresceu proporcionalmente ao surgimento de heróis com as mais variadas capacidades. E, como não poderia deixar de ser, o sonho de Izuku é se tornar um super-herói.

Sobre a História

Como My Hero Academia é um mangá que vem sendo publicado lá fora desde 2014 e aqui no Brasil desde 2016, não me prenderei apenas ao contexto do primeiro volume, mas garanto que a análise será o mais livre de spoilers que eu conseguir.

My Hero Academia foi o tiro certo no momento certo. Os Vingadores saiu em 2012. O mundo estava extasiado com a temática de super heróis, então qualquer história que fosse relacionada com isso teria, no mínimo, a atenção. Mas, boas ideias não significam muito sem uma boa execução. Dar uma ideia ótima a um escritor ruim vai tornar a história horrível, enquanto dar uma péssima ideia a um bom escritor vai gerar uma obra memorável. 

Jim Butcher, o escritor de Dresden Files, comentou que, para provar este ponto, foi desafiado a escrever uma fantasia de Espada e Feitiçaria com duas coisas completamente aleatórias que lhe falariam. Com os itens escolhidos, Pokemon e uma legião do Império Romano, o autor criou Codex Alera, uma série de 6 livros que se tornou famosa.

Por sorte, My Hero Academia não é apenas uma temática que chama muita atenção, mas Kohei demonstra ter bastante habilidade em diversos pontos em sua história, apesar de cometer muitos deslizes que podem incomodar leitores. Então, vamos dividir essa resenha nos prós e contras e apresentá-los.

Prós

O ponto que é mais fascinante em My Hero Academia, para mim, é seu universo. Tanto em questões sociais quanto nos poderes. Mas vamos por partes e, como é um shonen de lutinha, vamos falar sobre os poderes primeiro.

O autor consegue criar uma cadeia com os mais fantásticos e imagináveis poderes, sendo que, em alguns deles, sua explicação e suas limitações prendem tanto quanto sua execução. Seja com Yuuga Aoyama, lançando lasers de seu estômago, mas o uso excessivo lhe causa fortes dores; seja Minoru Mineta, que transforma seu cabelo em bolas elásticas e pegajosas, mas o uso constante desse poder lhe causa escalpelamento; ou até mesmo com Katsuki Bakugou, que herdou duas habilidades convenientes de seus pais: criar faíscas com as mãos e suar nitroglicerina, gerando uma combinação explosiva.

Porém, apesar de ser um jeito interessante de se trabalhar com os poderes, não é algo incomum. Diversos são os mangás que trabalham essas coisas e um balanceamento simples e direto. Nesse ponto, sua maior competência se dá pela gama de ideias e poderes, já que nem todo poder se baseia em “dar socão” ou em “concentração de energia”, isso gera uma camada de estratégia nas lutas.

Esse não é o ponto mais intenso de My Hero Academia e o que faz com que ele se destaque, na minha opinião, mas sim o mundo dele. O trabalho que Kohei tem em dar atenção às questões da sociedade ao qual criou, mostrando-a de uma forma vivida, é incrível. 

Sua contradição ambulante, que é realista e condiz com o que é apresentado, onde as pessoas são mesquinhas e superficiais, buscando ser heróis por status e cobrando que estes estejam o mais vividos e bem apresentáveis possíveis, deixando de lado o verdadeiro significado do heroísmo e constantemente se preocupando apenas consigo mesmo.

Apesar de constantemente deixado de lado para focar nas disputas de poder, em um efeito semelhante ao de Death Note, em mais de um arco são levantadas questões sérias sobre a sociedade e conduzidas de uma forma interessante e dentro do que a obra se propõe, dando destaque ao arco do Assassino de Heróis (Volumes 6 e 7) e, mais recentemente, o arco de Tartarus (Volume 33).

Além disso, o autor também consegue criar arcos individuais de personagens bastante cativantes e realistas, trabalhando com uma certa dosagem nos acontecimentos que, mesmo que você não goste do resultado, entende o porquê ele ocorreu.

Contras

Nem tudo são flores e, pra cada ponto levantado, um contraponto pode ser feito também. Então, comecemos pelo mais fresco na resenha. Eu comentei acima que o autor consegue criar arcos de personagens muito bons. Embora isso seja verdade, são poucos os escolhidos para tal. Então, enquanto um personagem ganha seu momento, a grande maioria dos demais personagens “congela” sem desenvolvimento, como se cada um deles estivesse em uma bolha e só pudesse se mover e se desenvolver quando alguém gritasse “ação”. As únicas exceções são All Might e o trio de protagonistas: Deku, Bakugou e Todoroki, o que é uma pena, visto que a gama de personagens poderia gerar muito pelo autor se ele conseguisse aproveitá-los mais.

Indo agora para o segundo grande contra de My Hero Academia num geral. Para exemplificar melhor isso: você já parou pra assistir algum filme da Marvel, por exemplo, e quando ele acaba, você ficou com aquela sensação de “Nossa, mas isso vai ser uma preparação muito boa pra tal coisa no futuro”? É uma sensação bastante comum que vejo em redes sociais e acaba mascarando muito bem o fato de que isso é um problema, pois acaba fazendo com que a função de um determinado momento não esteja nele, mas sim, em algo adiante, e ele, isoladamente, seja inútil. Em My Hero, muitas coisas acabam trazendo justamente esta sensação. Será algo importante pra guardar para o futuro, porém, no agora, não é. E este é um sentimento frequente em momentos da obra.

Partindo agora para seu ritmo, o mangá acaba tendo problemas com isso que, somados ao que expliquei anteriormente, faz com que soe como se nada tivesse acontecido. Uma das constantes queixas que vejo pelas redes sociais sobre My Hero Academia é sobre como estamos atualmente no volume 32 e ainda não se passou um ano escolar. Para comparação, o volume 32 de Naruto é quando somos apresentados a Sai; o volume 32 de One Piece é entrando em Skypea; e o volume 32 de Bleach é dentro da saga dos Arrancar. Apesar de não concordar que um ano escolar seria uma boa métrica, eu entendo tais críticas e concordo que a obra realmente acaba se arrastando em diversos momentos e que seu ritmo é uma das coisas que Kohei deixa a desejar.

Finalizando com o último ponto contra, este que é um pouco mais específico para os volumes mais recentes. Lembram que eu comentei acima que “muitos momentos servem mais para um preparo do que para o momento em si”? Então, no instante o qual estou escrevendo esta resenha, este acúmulo de preparos está em um nível tão grande que simplesmente não consigo imaginar um final que seja satisfatório, como se a conclusão do mangá, não importa qual seja, pode acabar deixando a desejar porque o autor perdeu o controle da escala de sua própria obra. Espero estar errado, mas infelizmente existem evidências apontando para esta questão.

Conclusão

My Hero Academia tem sido o tiro certo na hora certa. Pegando a fórmula do shonen e misturando com uma das maiores tendências mundiais de mercado, a obra de Kohei Horikoshi conseguiu chamar bastante atenção. Atenção esta que logo em seguida se mostrou válida devido a sua hábil condução de pontos da trama e desenvolvimento de personagem, mas, que deixa a desejar sendo uma obra que por muitas vezes se torna arrastada.

No geral, o saldo é muito positivo, mas recomendo ir sabendo que você não vai encontrar a próxima revolução dos shonens aqui, mas um ótimo entretenimento e talvez algo para que possa te fazer refletir sobre questões sociais especificamente.

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