MB Review: Friendship Lover
Friendship Lover, mais um BL dos anúncios da Mimosa, conta a história do casal Nimura e Shizuka, que são colegas de trabalho e que nutrem uma paixão pelo outro desde o primeiro dia de emprego. Nimura, que se apaixona por Shizuka, por um tempo se consola em apenas ser o melhor amigo, mas depois de três anos e a partir de um acontecimento, as coisas mudam.
O mangá nos apresenta Shizuka, um cara que inicialmente é tratado como hetero apenas por ter tido um relacionamento heteronormativo e Nimura, que é assumidamente gay e por “saber” que seu colega é hetero, não consegue expressar seus sentimentos. Então, quando Shizuka é chamado para um encontro em grupo, Nimura enciumado faz de tudo pra ir junto e fazer tudo dar errado, já que não quer perder seu amado.
Muitas coisas me incomodam nesse mangá, tantas que nem sei por onde começar. Mas bem… A história é completamente rasa e cheia de clichês. Não que isso seja realmente um problema, existem mangás que mesmo recheados de clichês são muito bem trabalhados e conseguem nos entregar uma boa história, mas não é o caso aqui. Fica muito claro, quando você lê bastante BLs, que sempre tem a narrativa de um cara supostamente hetero que “se torna” gay por namorar ou se apaixonar por outro, e isso no momento em que vivemos é mega ultrapassado, já que sabemos que sexualidade é plural.
Fora que os estereótipos, que quase todos se encontram nesse mangá, chegam a ser cansativos. “Shizuka é hetero… Shizuka não sabe o que é o amor… Shizuka tem trauma de infância… Shizuka isso e aquilo…” Toda aquela narrativa de que “se você gosta de alguém, a pessoa de certa forma só pode pertencer a você e de outra certa forma apenas você pode fazê-la feliz”, que é o caso de Nimura. Mesmo nutrindo uma paixão, não consegue enxergar as vontades do outro e, até certo ponto, parece que faz tudo apenas por benefício próprio.
Certamente, essa é um mangá que eu não recomendaria a ninguém, inclusive para quem nunca leu um BL, pois isso afasta o público e apenas conta uma história clichê e estereotipada de um relacionamento, que não faz parte da realidade e nem funciona como ficção, apenas para fetichismo, que presumo não ser a intenção de quem escreveu.
Levando em conta esses fatos, eu não sei qual é o direcionamento da obra, já que ele não funciona como selo “pride” já que não é escrito para pessoas LGBTQIA+, apenas para um público que tem fetiche em ver homens tendo algum tipo de relacionamento, que aqui claramente não é romance.
Agradecimentos a loja Anime Hunter pelo volume cedido.
Queria fazer alguns questionamentos: por que obras de ficção que envolvem personagens LGBT precisam ser sempre realistas enquanto as com personagens hétero podem ser bobas, vazias e cheias de clichês sem serem tachadas de fetichistas? O único propósito de personagens LGBT é militar pela causa? Por que podem existir histórias com conteúdo sexual com personagens hétero, mas quando se trata de personagens LGBT, qualquer conteúdo sexual é tachado como fetichista? Seria porque o sexo de pessoas LGBT é inerentemente obtuso e subversivo, logo, não passa de um fetiche?
Como pessoa LGBT, não gostei também de ver a newpop criando esse selo com esse nome justamente por isso, é querer levantar uma bandeira para histórias que nunca se proporam a levantar essa tal bandeira. Histórias com personagens LGBT também têm o direito de serem bobas e vazias sem serem tratadas como uma ameaça à imagem da comunidade. Como pessoa LGBT, eu quero poder ler romancinhos bobos de vez em quando sem ter só romances hétero como opção, já que esses aparentemente são os únicos que têm o direito de existir sem serem taxados como fetichistas.
Olá, minha critica é a maioria dos mangás desse “gênero” que vem pela editora cometeram o mesmo erro, talvez nessa em questão, não tem enredo e as lacunas são aproveitados com o sexo. Não coloco o sexo de pessoas LGBTQIA+ como fetichista, apenas nessa e em outras obras, como citei, acho que só serve pra isso. Existem diversas obras do gênero que tem sexo e não há fetiche, como até em “O sétimo ano do amor puro”, que eu também resenhei.
E como também pessoa LGBTQIA+, eu queria ler coisas que não envolvessem apenas isso e envolvessem a causa que a gente mais luta, que é simplesmente amar. Ainda sobre representatividade, é justamente isso que tu disse, quero ler só os romancezinhos bobos, ou até ver histórias diferentes fora romance, como pessoas “não-hetero” apenas existindo e fazendo coisas do seu dia a dia.
E sobre romance já leu Heartstopper? Indico bastante.