MB Review: Risca Faca

A Loja Monstra fez sua estreia em Agosto de 2018, ficando no mesmo lugar da antiga Gibiteria e a cada ano que passa a loja faz algo para comemorar mais um ano de vida. Em 2021 veio o anúncio que ninguém esperava: o nascimento da editora Monstra. Para iniciar sua empreitada no mercado editorial, foi anunciado seu primeiro lançamento: Risca Faca, de André Kitagawa, lançado em dezembro de 2021, fechando o ano com uma das mais inesperadas surpresas.

Risca Faca é uma coletânea de 3 histórias, com 3 ‘’protagonistas’’ bem diferentes um do outro: Pirulito, Zoinha e Jámorreu. Apesar de serem tão diferentes, ambas estão ligadas a uma mesma dura realidade a qual você não está acostumado a ver em quadrinhos.

O primeiro capítulo ‘’Filho da mãe’’, conta a história de Pirulito e sua mãe, Ryta dos Patins, musa dos anos 90 que posava em revistas eróticas e que no presente da história vive em decadência após perder seu marido em uma operação policial, e demonstra bastante saudosismo dos anos em que esteve no auge. Neste capítulo vemos a realidade de diversos pontos de vista, como o de Ryta que continua trabalhando sob a mesma imagem que tinha antigamente, mesmo não estando nas melhores condições para isso; Nescau, amigo de Pirulito, playboy que cai na noite usando droga e tomando cachaça, traindo sua suposta ‘’namorada’’; Pirulito, filho de Ryta, que vive na noite sem muito futuro, revoltado principalmente com a situação atual dele e de sua mãe, culpando seu pai por não deixar nada a família.

O segundo capítulo ‘’Zoinha’’, conta a história de Zoinha, uma garota que vive em um lugar mais simples da cidade e que encontra-se com suas amigas e para invadir uma festa particular numa mansão, e que acaba por ter um final agitado com a invasão da polícia numa operação sigilosa. Nesta história somos apresentados a outros personagens como Chokito, rapaz que tem atração por Zoinha e que quer chegar nela de algum jeito; ‘’Loira Burra’’, personagem caolho que tem segundas intenções na festa na mansão; o ‘’empresário’’, dono da mansão e que está envolvido em diversos crimes.

O terceiro capítulo ‘’Já morreu’’, o melhor na minha opinião, conta a história do menino que tem o apelido Jámorreu, que trabalha em uma das boates da cidade, limpando o quarto depois do serviços que ocorrem no local. Jámorreu tem um trabalho medíocre e vive seu dia a dia duramente. Após um certo mal entendido, a vida de Jámorreu vira de cabeça pra baixo, atingindo o ápice da ladeira e, após anos e anos remoendo incertos pensamentos, acaba tomando coragem para enfrentar aquilo que sempre trazia pesadelos. Esse capítulo mostra diversos pontos de vistas pesados, como o de seu vizinho que esconde algum segredo, a dos policiais que olham torto para Jámorreu, o fato de certos trabalhos medíocres que nunca paramos pra pensar que existem e atentados que moradores de rua sofrem. Também é um capítulo que faz referências aos outros 2, enriquecendo ainda mais as outras histórias.

A arte de André Kitagawa é um dos pontos altos do gibi, a utilização do lápis e do grafite faz com que o autor dê uma atmosfera bem pesada, trazendo toda aquela sensação ‘’suja’’ para as histórias, dando mais vida às duras realidades que são mostradas. Todas as páginas são bem ágeis e fazem com que o leitor não perca o ritmo da história.

Risca Faca não é um gibi fácil de se digerir, as verdades apresentadas em todas as histórias são a dura realidade de várias pessoas. O autor usa como cenário os lugares que muitos querem evitar. Lugares sujos, cheios de pichações, que com certeza não são seguros, mas que mesmo assim, há pessoas vivendo e certamente são ignoradas. Personagens que não são comuns em histórias em quadrinhos, mas que com certeza existem iguais na vida real. Situações que vemos em noticiários dia sim, dia não. Pessoas que sabemos que existem, mas às vezes ignoramos. 

A edição física de Risca Faca tem capa cartão com orelhas, formato de 17 x 24cm, com 120 páginas em P&B, impressas em papel pólen bold, com miolo colado e costurado. Um detalhe bacana na capa é uma espécie de textura em certos elementos, como no logo e na ilustração da quarta capa, dando um toque bem bacana para o projeto gráfico. O preço de capa é R$ 49,90 e na pré-venda todos os exemplares foram autografados pelo autor. 

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