MB Review: Desconstruindo Una
Desconstruindo Una, de Una, conta sua história por meio dos quadrinhos em paralelo com um crime que se iniciou no final dos anos 70 em West Yorkshire. Essa obra contém gatilhos.
Antes de começar, já aviso que essa é uma HQ que possui MUITOS gatilhos. A HQ aborda abuso sexual, então é um assunto bem delicado e, apesar de ser uma obra muito importante sobre o assunto, trata de forma crua os fatos. Então, é preciso cuidado ao ler.
No início conhecemos Una, uma garota comum que gosta de música e toca guitarra. Naquela época, ela já nasceu numa sociedade diferente, pois sua mãe antes dela nascer era solteira, o que (ainda) é muito julgado na sociedade. Era uma criança com uma imaginação fértil e muito curiosa, além de crescer sobre um período de muita mudança.
Ainda por cima no meio de um evento incomum, porque em 1975 começaram a aparecer corpos de mulheres e, além de Una, essa história é sobre elas.
No processo de crescimento de Una, ela acaba tendo interesses românticos e, em um deles, acaba sofrendo um abuso. Não entendendo muito no começo, ela começa a sentir um peso do que houve e isso acaba mudando sua vida e como é vista. Ao mesmo tempo, com o assassino de Yorkshire agindo, matando inicialmente prostitutas, Una acaba se questionando sobre o que houve e tudo que acontece ao seu redor e o que é noticiado, com a mídia “culpando” as vítimas.
Como uma grande entusiasta em casos de crimes, uma coisa que me tocou bastante nessa HQ é que ela é inversa a maioria dos documentários e livros sobre esse tema. Na maioria das vezes nosso foco é o sujeito que cometeu todas as atrocidades, como funciona sua mente e o que a levou a realizar tudo isso, mas aqui Una fala sobre quem deveríamos pensar, que são as vítimas e quem elas amavam ou deixaram.
Não se existem palavras para descrever essa brutalidade, e se existem, as desconheço, pois cada palavra ao escrever essa resenha ou a alguém que está a ler, é o nome de mais uma vítima que surge. E ainda mais é o nome de uma mulher que viverá em silêncio por medo ou irá demorar anos para ter voz e, quando tiver, em sua maioria terá sua voz silenciada. E é isso que é tão grandioso nessa HQ, não lembro de ter visto nada igual e quando vejo muitas vezes é amenizado. Mas a violência que as mulheres sofrem, o medo e a angústia não são amenizados, quando não somos apenas mais um número para as estatísticas. E também pensar que mesmo você não sendo mulher, também pode ser alvo dessa violência ou conhecer uma vítima e não ter pleno conhecimento. É muito difícil de digerir, como foi ao ler essa obra, como é ao sair na rua ou como é ao imaginar qualquer coisa sobre esse assunto, mas o mais importante é não apagar, nem diminuir as dores.
Se quiser saber mais sobre o caso citado, tem um documentário O Estripador na Netflix.