MB Review: O Homem que Foge
O mangá O homem que foge é indicado para quem busca uma leitura aberta a interpretações, gerando reflexões sobre sua própria vida. Nada impede que um público mais jovem aproveite a obra, mas é o tipo de leitura indicada para os mais vividos e com larga experiência de vida. Nossas memórias pessoais fazem a diferença nessa história tão introspectiva.
Pode parecer loucura agora, mas houve uma época em que o mundo não enfrentava crises sanitárias, financeiras, políticas e militares nos níveis que vemos hoje em dia. Nessa época, muitas editoras arriscaram trazer obras diferentes do que o público brasileiro estava acostumado a ler. Não que atualmente as editoras não tragam obras fora do mainstream, há aquelas que fazem um ótimo trabalho nesse sentido. Mas quem já estava por dentro dos mangás no Brasil entre 2014 e 2017, lembra do tanto de coisas inusitadas (umas boas, outras não) que saíram nesse período.
É aí que entra a editora JBC com o mangá O Homem que Foge, publicado em 2017. A obra foi inicialmente lançada no Japão entre 2010 e 2011, na revista Manga Erotics F, da editora Ohta Shuppan, e possui apenas um volume.
A história tem como base uma lenda de um urso que vive em uma floresta, e que se transforma em homem durante a noite. Mas apenas crianças podem vê-lo. Além disso, aquele que conseguir passar um dia inteiro com o urso terá um desejo concedido.
Apesar da atmosfera mágica, o mangá tem como um dos seus pilares a analogia às situações que enfrentamos na vida adulta, das quais muitas vezes fugimos, seja por medo ou por não sabermos como lidar. Como o mangá é de volume único, não irei dizer mais que isso para não estragar a experiência de quem ainda não leu. Confesso que a HQ não havia chamado minha atenção quando foi lançada, mas foi uma leitura que me agradou.
Os traços são bem característicos e podem causar estranheza, já que é bem diferente do que estamos habituados a ver em mangás em geral. Muitas vezes parecem apenas “rascunhos bonitinhos”, mas é intencional. Acredito que é aí que está um dos charmes da obra. Inclusive, em alguns momentos, o estilo artístico me lembrou o Jeff Lemire em Soldador Subaquático, tanto nos desenhos quanto no teor da história.