MB Review: Grama

A HQ Grama da sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim é considerada uma das mais expressivas narrativas antiguerra da atualidade. Por meio da história de vida de Ok-Sun Lee temos uma impactante noção do hediondo caso das mulheres vitimadas pelo Império Japonês, forçadas à escravidão sexual durante a II Guerra Mundial. Uma obra notável e histórica que chegou ao Brasil pela Pipoca & Nanquim e que foi reimpressa pela editora.

Estima-se que entre 50 e 200 mil mulheres foram submetidas a viver como escravas sexuais pelo exército japonês a partir do final de 1930, quando o país invadiu territórios da China, Coreia e outros países do leste asiático, praticando horrores a milhares de civis, incluindo crianças e idosos. Mesmo após décadas de evidências, ainda hoje, o Japão não fez uma reparação digna do assunto, chegando a omitir a responsabilidade dos crimes de guerra no conteúdo dos livros de história.

A agressão japonesa é contextualizada de forma geral no quadrinho, que se faz como um documento de denúncia, mas a história está centrada em um dos crimes e na experiência de uma mulher que o vivenciou. Assim como a graphic novel Maus, de Art Spiegelman, a HQ expõe a crueldade do homem em conflitos militares, a partir de entrevistas da quadrinista Keum Suk Gendry-Kim com uma vítima de guerra. A diferença é que em Grama temos o conhecimento de um fato histórico não tão evidente como o holocausto alemão, através do relato de Ok-sun Lee, uma sul-coreana que fala da infância pobre na época, do sonho de estudar interrompido e do momento em que é raptada e obrigada a viver por anos em uma ‘’casa de conforto’’.

A Gendry-Kim, que ilustra as imagens de suas conversas com Lee, elabora tudo o que foi relatado sem expor de forma gráfica a violência. Não retratando a fundo as agressões contra uma mulher, o foco ilustrativo se encontra nas reações, no pesar do semblante diante a cada acontecimento. O impacto está no que a arte torna subentendido, fazendo o folhear ser angustiante e de indignação tremenda. Em meio ao assunto, a autora permite pausas para que o leitor respire, puxando um pouco o humor de Ok-sun Lee, uma pessoa carregada de traumas irremediáveis e que, por mais que seja impossível dimensionar suas feridas, é uma mulher que resistiu e tentou se agarrar à vida o máximo que pôde.  

Grama possui a poderosa mensagem de não deixar esquecida a história das mulheres que tiveram suas vidas pisadas pela ação do homem. É uma experiência forte a quem se propõe à leitura, mas que se faz crucial dentro de uma noção reflexiva, e crítica, com relação a um fato que jamais deve ser velado.

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