MB Review: Buda #03

Com Sidarta desaparecido e Devadata se desenvolvendo, entramos em um novo momento da história. No volume anterior, Mbandaka conseguiu o que tanto almejava ao tornar-se rei, mas descobriu que a força bruta já era suficiente e que os orgulhosos morrem pela boca.

No terceiro volume da obra, Sidarta dá continuidade às suas lições de austeridade. É por meio do sacrifício, tanto espiritual, quanto físico, que se deve alcançar a iluminação.

Em sua jornada Sidarta conhece Dapa e este lhe ensina sobre tapa e o sofrimento enquanto necessário para o aprendizado de um monge. Temos já de início um primeiro embate sobre a validade dos ensinamentos praticados pelos monges. Enquanto Dapa acredita ser honroso praticando tapas, Sidarta discorda e defende ser desnecessário o sofrimento.

Também reencontramos Tatta e Miguela e estes representam um contraponto aos novos caminhos de Sidarta. Enquanto o menino busca por elevação espiritual, os dois antigos amigos aparecem para tirá-lo de seu caminho e tentam mantê-lo no mundo material. Também somos apresentados à curiosa figura de Assaji, que se em um primeiro momento pouco promete, até o fim da jornada deve ganhar papel relevante para a história.

Apresentados aos novos caminhos de Sidarta e Dapa, a história reintroduz Devadata, filho de Bandaka e uma promessa de vingança contra o monarca abdicado.

Ao contrário de seu pai, que tentava dominar todos os lugares onde se fazia presente, Devadata é rejeitado pelo padrasto, mães e crianças de seu vilarejo. Mas enquanto Sidarta aprende sobre a vida através de ensinamentos abstratos, Devadata terá de conhecer a morte da forma mais dura possível, aprendendo sobre as leis da floresta e o que diferencia o humano de outros animais.

Criado por uma loba e tendo de migrar para fugir da seca, é na floresta que encontra Naradata e aprende que “os mais fortes vencem e os mais fracos perecem”, experimenta o ciclo da vida e é adotado por Naradata. Mas fora do mundo animal, Devadata descobre que uma cidade pode ser mais cruel que a floresta e que talvez não seja ele o mais forte na cadeia alimentar.

Quando perseguido pelos soldados do vilarejo, conhece Ghagara que o esconde e salva sua vida. O resgate, contudo, vem com um preço e, sem ter para onde fugir, Devadata é obrigado a participar dos planos vingativos de sua maldosa protetora.

É ainda com Ghagara que o menino aprende a roubar, a  ganância pelo ouro e os bens materiais. Além disso, temos um hilariante quadro onde esta aparece nos moldes da Maga Patolójika.

A forma como é narrada a vida de Devadata me agradou muito. No ocidente é muito comum que este personagem seja visto como alguém ardiloso e com características negativas. Tezuka humaniza a figura histórica por meio da jornada do personagem, narrando suas dificuldades e provações para mostrar que não foi por acaso que o primo de Sidarta se tornou ganancioso e cruel.

Com um novo salto no tempo, mas agora dez anos para o passado, nos reencontramos com Sidarta e Dapa em sua jornada. Agora precisam realizar uma difícil travessia carregando Assaji para a cidade de Pandav. Na cidade, descobrem sua triste história com o brâmanes e Visakha tenta dissuadi-lo de sua prática para se juntar a ela em seu reino. Como se isso não bastasse, ainda temos Tatta reaparecendo para tirá-lo de sua jornada.

Por menor que seja o capítulo seguinte, o último do terceiro volume, sua importância é enorme para o conjunto da obra. Nele, Assaji começa a mostrar sua real função na história. Por ter vivido um momento de pós-morte, recebeu o dom dos presságios, habilidade que lhe permite ganhar a gratidão de Bimbisara, rei Mágada.

Esta relação faz com que o monarca conheça Sidarta no Monte Pandav e se impressione com sua figura. Mesmo com as recusas em compor seu exército, ainda deseja sua amizade e seus ensinamentos. Por ter aceito a amizade, Bimbisara lhe dá de presente um novo nome: Buda (aquele que despertou).

Percebemos como mesmo em uma obra ampla e complexa, Tezuka desenvolve no início e meio da história os elementos necessários para explicar as motivações futuras de seus personagens. Traz para o mangá características presentes na literatura e brinca com estas, criando uma obra de arte.

Espero que a premissa da sobrevivência do mais forte não seja confirmada na história.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *