MB Review: Black Kamen Rider #3

Com um desfecho mais introspectivo, um emaranhado de conteúdos que tentam se cruzar e uma aventura espiritual, Black Kamen Rider chega ao seu fim.

O terceiro volume da obra talvez seja o mais introspectivo até agora. Mergulhamos nos sonhos de Kotaro e em seus medos inconscientes. Medos que não são apenas seus, mas de toda uma geração. Kotaro continua suas viagens, mas nem sempre é por meio da tecnologia. Em alguns momentos a técnica dá lugar à magia, com viagens no tempo e visitas à Austrália e ao Nepal.

O medo das bombas volta a aparecer. Mas não só isso, já que a humanidade é ameaçada por um rei-demônio movido pela destruição que causamos. O mundo começa a perecer por conta das mudanças climáticas, guerras e toda forma destrutiva como lidamos com o planeta. Essa ideia fica latente quando vemos televisores e outros eletrodomésticos destruídos no canto de uma caverna, ocupado por aborígenes que resistem ao fim do mundo.

Este mesmo grupo de aborígenes é responsável por fazer com que a obra esteja mais focada no interior de Kotaro, e sua verdadeira guerra seja contra si mesmo, na busca por uma identidade. Em meio a tantas catástrofes materiais, é na busca do ser humano por si mesmo que IshinoMori acredita ser possível encontrarmos uma resposta para nosso fim iminente.

A obra também faz uma crítica aos colonizadores na Austrália e os desdobramentos de seu processo de invasão. Momento interessante que mostra não apenas uma crítica muito comum da literatura japonesa ao ocidentalismo, mas também como o autor, de origem nipônica, ainda tem uma visão estereotipada das comunidades tradicionais em seu desenho.

Entretanto, o terceiro volume da obra deixa a desejar. Se insere um importante debate, tanto para a época do autor quanto a nossa, o faz de forma simplificada, talvez por não poder se estender mais no projeto. Uma narrativa que poderia ser melhor explorada em seus detalhes, com desdobramentos que aprofundassem o tema e suas possíveis soluções.

O final fica em aberto, jogando a possibilidade ou não de uma continuidade para aquele que lê, ao mesmo tempo que nos faz, no fundo, pensar em nossa impotência quanto aos temas propostos. Não podemos fazer nada, a não ser esperar por um próximo volume que nunca chega, assim como as respostas que nunca procuramos.

Importante perceber que, mesmo de forma indireta, IshinoMori acaba por construir seu Édipo Rei em uma teia que o impede de fugir de seu próprio destino, ao mesmo tempo que busca em Shakespeare a frustração de um sujeito contemporâneo seu que, em meio a contemporaneidade, perde sua identidade e não sabe mais se deve ser ou não ser.

Vale muito a leitura da obra. Mas cabe ao mercado editorial japonês, já desde aquela época, abrir mão da sanha pelo lucro e deixar que os autores desenvolvam mais suas ideias.

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