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MB Especial: Dediquem seus corações – O fim de Ataque dos Titãs

Este mundo está repleto de crueldade… mas ao mesmo tempo é muito bonito.

– Mikasa Ackermann

        Chegamos ao fim. Já faz algum tempo que o capítulo 139, que finaliza a obra Ataque dos Titãs, foi publicado na revista mensal Bessatsu Shōnen Magazine e o volume 34 foi recém-lançado aqui no Brasil. Demorei um pouco para refletir sobre tudo que aconteceu para escrever sobre (mesmo tendo lido o capítulo assim que saiu). É aquela coisa, demora um pouco pra cair a ficha. São 11 anos de uma jornada que se encerra agora e é difícil dizer adeus, eu sei, mas a epopeia de Eren precisava acabar.  E acabou, dividindo os fãs como que em Marleyrianos e Eldianos, tamanha a divergência de opiniões sobre o final.

Preciso frisar que essa análise contém spoilers do último volume, assim como de vários outros anteriores e até mesmo de trechos da animação que ainda não foram exibidos (visto que a parte 2 e final do anime está sendo lançada agora). Vamos discutir algumas simbologias, sobre o enredo, as referências e as inspirações de Isayama. Sendo assim, prossiga com a leitura por sua conta em risco! 

Para você, 2 mil anos no futuro. 

Antes de conversarmos sobre como acabou, acho importante falarmos de como começou e quais foram os caminhos que levaram até o derradeiro fim. Por isso, vou trazer aqui um breve panorama desde que Eren saiu debaixo da árvore na colina até o dia que voltou para lá.

    Quando Eren e Mikasa saíram para pegar lenha nos entornos da Muralha Maria, não esperavam que suas vidas estivessem prestes a mudar radicalmente. Embora soubessem dos perigos que havia no mundo fora, não poderiam imaginar que tais perigos estariam tão próximos ou que seriam tão ameaçadores. 

        Vivendo pacificamente por 100 anos, os moradores das muralhas levavam suas vidas da melhor forma possível. Cultivavam e produziam em territórios seguros, seguiam as políticas do Governo Real e já quase não se preocupavam com o que havia além dos muros. Afinal, o mundo externo a muralha é um problema apenas para a Divisão de Reconhecimento, são os únicos que ousam sair portão afora e quase sempre voltam derrotados. Muitos populares já nem questionavam mais por que tais muros ali existiam. Eren questionava. 

        O menino e seus amigos, Mikasa e Armin, tinham um anseio. Conhecer as maravilhas do mundo e os territórios além da muralha. Lagos de gelo, montanhas flamejantes e o fogo que flui como um rio, uma imensidão azul de água salgada que nenhum comerciante seria capaz de lhe tirar todo o sal. Para Eren, o mundo externo à muralha era muito além de ser só um lugar para ser explorado, era sua libertação. Viver em liberdade e não cercado como gado, amedrontado como os outros humanos e preso naquela realidade medíocre. Esse sempre fora o verdadeiro anseio de Eren.

        No ano de 845, a paz dentro das muralhas acabou e a humanidade se lembrou de como é viver à mercê dos titãs. Subitamente, a calmaria da cidade foi interrompida por um estrondo. Do lado de fora da muralha, observando por cima dela, um titã de mais de 50 metros de altura. Com um golpe certeiro, o portão do distrito de Shiganshina foi destruído e os estilhaços voaram, devastando parte daquela comunidade. Os moradores que não foram atingidos pelos destroços corriam por suas vidas enquanto uma horda de titãs menores e famintos adentrava a cidadezinha. Era mesmo o fim dos anos de paz para a humanidade. 

        Depois daquele dia, a rotina dos protagonistas nunca mais foi a mesma. Os três amigos tiveram seus destinos selados naquele dia e, determinados, decidem se alistar na Divisão de Reconhecimento, cada qual com suas motivações pessoais que culminam no mesmo propósito, a liberdade. Falar de Ataque dos titãs é falar de liberdade. É esse conceito e esse anseio que guia toda a história do universo criado por Isayama e é nesse caminho que nossos protagonistas se enveredam. 

        Anos se passaram desde o dia do rompimento da muralha e, já alistados, os amigos começam seu treinamento. Daqui em diante, acompanhamos o dia a dia e a superação de cada um, enquanto somos apresentados aos demais personagens da trama, alguns de importância crucial. Os jovens membros da divisão aprendem a lutar contra os titãs e se conectam em laços fortes de amizade e companheirismo. Tudo ia muito bem, superação e determinação guiavam o treino dos jovens, até que…

        Mais uma vez, a humanidade se vê acuada perante a dominação dos titãs. Eren, já em sua primeira batalha, sofre um duro golpe e é engolido. Seus amigos lutam pela vida e alguns deles não conseguem sobreviver. As coisas não poderiam acabar assim. Eren não se deixaria vencer dessa forma, engolido, acuado, derrotado. Ele ia lutar, ele tinha que lutar e, numa grande virada misteriosa e intrigante, o jovem se transforma em um titã

Chegando nesse ponto da história, podemos pular alguns momentos e fazer algumas perguntas para tentar obter respostas que nos farão avançar na jornada do jovem Eren. A humanidade dentro das muralhas não imaginava ser possível um humano se transformar em titã (pelo menos, não a maioria). O que são os titãs? Como eles surgem? De onde eles vêm? O que há fora das muralhas? Em meio a todas essas questões sem respostas racionais e precisas, nossos protagonistas sofrem mais um duro golpe da verdade: Existem titãs dentro das muralhas. Certo, sabemos que eles entraram pelo portal destruído, mas digo dentro mesmo, no sentido literal

Quem é o inimigo?

        Com todas suas certezas caindo por terra, a humanidade das muralhas se vê perdida e só há uma forma de buscar a verdade e a resposta para suas perguntas: Retornar a Shiganshina e explorar o antigo porão dos Yeager em busca das respostas que o pai de Eren guardou e legou ao seu filho em seus últimos momentos antes de desaparecer. Para isso, a Divisão de Reconhecimento precisa se organizar e retomar os territórios perdidos para os titãs. 

Quem é o inimigo?

          Sabemos então que Eren consegue se transformar em titã, que a humanidade agora possui um trunfo aliado com isso e que os segredos guardados no porão dos Yeager podem revelar toda a verdade sobre quem são os titãs. Pelo menos, é nisso que acreditam e estão disposto a lutar até o fim para isso. 

Lutar.

        A luta para se superar, para se provar, para se impor. Toda a jornada de Eren é marcada pela luta, seja em batalhas contra gigantes de 15 metros ou em seus discursos inflamados, Eren luta pela liberdade. Muitas vezes o foco do protagonista pode ser confundido com vingança, a destruição de todos os titãs. Essa vingança também está atrelada ao seu desejo de libertação, é fato.

Num primeiro momento, a Divisão de Reconhecimento simboliza essa liberdade, as asas que voam além da muralha. Logo depois, sua liberdade é representada pelo seu poder de titã, que o permite galgar na busca pela verdade e pelas respostas, e continuar na sua trilha de vingança e libertação. 

        Nesse ponto da narrativa temos a introdução de novos personagens e algumas revelações que impactam, e muito, no destino da história. Os titãs responsáveis pela destruição das muralhas também são humanos e são recrutas da Divisão de Reconhecimento! É engraçado que, quando se acompanha a obra pela primeira vez, essa revelação é tão impactante e surpreendente que somos atingidos com força e ficamos tão “perplectos” quanto os protagonistas. Porém, ao se rever ou reler, conseguimos identificar facilmente a verdade e tudo parece bem óbvio que ficamos com aquela sensação de “como eu não percebi isso antes?”. Aliás, essa é uma sensação que está constantemente na nossa experiência com Ataque dos Titãs e logo falaremos mais dela. 

Quem é o inimigo?

        Hora do timeskip! Vamos avançar no tempo e pular alguns trechos para continuar nossa trajetória e sair desse flashback enorme, se não, não avançaremos nunca e a habilidade maior do Titã de Ataque é avançar! Então, avançamos.

Já estamos ambientados e conhecendo o maior objetivo inicial: encontrar o porão dos Yeager. Muita – MUITA MESMO – coisa acontece desde que o objetivo é traçado até ser alcançado. Não vou narrar todos esses acontecimentos, mas registro aqui que muitos deles são essenciais para a compreensão da narrativa, das motivações dos personagens e de toda a forma como a história segue, além de que explicam muito dos mistérios que cerceiam o enredo.

Ao conseguir levantar toda a força da humanidade e da divisão de reconhecimento para que o porão dos Yeager seja finalmente explorado, Erwin Smith dá sua última cartada e se retira do jogo. Todos os avanços da humanidade a partir daí são por conta dos atos e dos sacrifícios desse homem e de sua divisão. Erwin Smith dedicou seu coração, sua vida – e de todos os seus subordinados – para buscar uma resposta para suas perguntas e, no fim, ele não é capaz de encontrá-la. Porém, a humanidade enfim descobre a verdade e Erwin é parte crucial e importante nesse processo de ressignificação e revelação. 

        Ao meu ver, é aqui que a história dá a maior guinada, de forma repentina. Muito embora tenhamos já descoberto respostas para as perguntas iniciais, a maior de todas elas ainda é uma incógnita: Quem é o inimigo? Já fora personificado na ameaça dos titãs que viviam fora da muralha, foi representado também pelos titãs que atacaram a humanidade, para logo depois ser refletido no próprio governo e ir avançando, como uma lente que muda e foca a todo momento num novo alvo, um novo inimigo cada vez menor e mais oculto, mais difícil de focar. 

    Para nós, leitores e espectadores, essa é a pergunta que mais nos manipula, já que a narrativa nos faz acreditar que o inimigo é aquele sob o foco da lente, e dissimula para que não notemos o que está fora de foco. Ao chegar além-mar, isso muda. 

Paradis, Marley e suas representações

Quando os protagonistas decidem que irão buscar as respostas que ainda precisam ser respondidas além-mar, somos apresentados a uma nova visão de mundo. O cenário pseudo-distópico que a humanidade conhecida até então vivia era só isso mesmo, um “cenário”. Como se todos estivessem presos numa representação de uma realidade paralela, não desenvolvida, quase que medieval. É a partir daqui que a intrincada trama começa a fazer sentido e os fins caminham para justificar os meios. Não só Eren, mas todos nós, passamos a conhecer o que de fato existe fora das muralhas e caminhamos para a resposta das nossas perguntas iniciais. 

As muralhas foram feitas para isolar determinada casta da sociedade que possuía em seu sangue o poder (podemos dizer, maldição) dos titãs. Todos os humanos refugiados na ilha de Paradis (descobrimos até o nome do lugar que julgávamos ser todo o mundo conhecido) são titãs em potencial. A reclusão daquelas pessoas se deu num acordo político social de paz, sob circunstâncias de guerra e conflito. Eren estava certo. Estamos todos cercados, vivendo como gado. 

Todo o foco da história agora é redirecionado para o outro lado da moeda. Antes, na visão do protagonista, o mundo externo era tido como inimigo, agora, foram colocados no papel dos inimigos, e somos apresentados a um novo país… Marley!

Marley é o país dos guerreiros conhecidos como Inimigos da Muralha:  Reiner, Berthold, Annie, e Zeke. Quando somos apresentados a esses personagens em questão, entramos com o preceito de uma raça maligna e de ações nada justificáveis. Mas a história muda de curso. Na realidade, eles não são ruins, o governo Marleyriano é, criando um falso sistema de crenças onde crianças são ensinadas que os demônios ficam na ilha (palco do nosso protagonista) e que todos lá devem morrer e sofrer.

Em Marley também existem os remanescentes do demônio, que foram deixados para trás e não estão na ilha, Tais descendentes de Eldia vivem em condições precárias em campos de concentração e são obrigados a andar com braceletes de identificação. Familiar?

É indiscutível neste ponto a inspiração na criação deste país como reflexo da Alemanha Nazista. Por sinal, Shingeki consegue com maestria usar bem este recurso de referência, desde a estrutura geográfica ao quesito histórico.

Sendo assim, Marley é nada mais que um espelho de uma sociedade representada de forma utópica, onde o desejo por vingança e ódio é escrito e colocado na cabeça de crianças para manter o ciclo de ódio e de guerras. Afinal, armas e guerras vão muito além da violência física, uma ideologia como as que foram aplicadas ao Nazismo e referenciada na série é uma das maiores e mais perigosas formas de causar sofrimento. 

Para apresentar seu “mundo real”, Isayama acertou a mão. Trouxe à luz uma sociedade excludente e conflitos de interesses comerciais que vão além da “ameaça da maldição”. A representação dos Marleyrianos como a grande potência detentora dos recursos bélicos (e titânicos!) espelha as grandes potências mundiais – como a Inglaterra foi nos séculos XVII e XIX, por exemplo. (Fato curioso: Paradis é uma ilha, assim como o Japão, que foi alvo de expedições comerciais europeias no mesmo período histórico). 

Tais referências foram muito criticadas ao redor do mundo quando a série chegou nesta parte. Muitos acusam a obra e o autor de glorificar crimes de guerra e imperialismo, e conectam essas referências às práticas imperialistas japonesas no século XIX. Outro ponto delicado é a própria referência ao nazismo e a correlação dos eldianos com judeus e o holocausto praticado por Eren com o estrondo. 

Um artigo publicado na nipônica Revista Spa! em fevereiro de 2021 apontou que Ataque dos Titãs é, para os estudantes japoneses, o mangá mais indicado para se aprender História Mundial, dado não só pela representação certeira das atividades humanas e dos sentimentos dos personagens como também a inclusão de temas como dominação, discriminação, conflitos étnicos e instabilidade política. Conceitos e situações tão vistas na história da humanidade aplicados na ficção e experienciados pelos personagens da série.

Importante ressaltar que a interpretação da narrativa e dos acontecimentos em Ataque dos Titãs é livre, o que pode levar a debates sobre o assunto e a forma como os fatos foram referenciados e apresentados. 

A saga do herói mártir e a trajetória de Eren

Dado o devido contexto às representações de Isayama, voltemos à narrativa e ao debate do que vem a seguir, que é com certeza um dos pontos mais controversos de Ataque dos Titãs: a decisão de Eren em se tornar um mártir. Para isso, precisamos falar de Eren Yeager. 

        O menino Yeager nasce na história como o típico protagonista em busca de seu sonho e cercado de amizade e apoio de seus amigos. O poder do protagonismo o blinda de consequências e soluciona questões da narrativa com poucas justificativas aparentes, tudo isso para que a complexidade do personagem e de suas ações sejam apresentadas bem adiante (ponto positivo para Isayama). Partimos do genérico cenário pós-apocalíptico e distópico em que homens enfrentam uma ameaça misteriosa e muito poderosa para mergulhar de cabeça numa intrincada trama política e social. 

        O salto narrativo acontece justamente após Eren consolidar seu poder de titã e conforme os demais humanos com poderes de se transformar aparecem na trama. Fica a impressão de que, mesmo que estejamos vendo atentamente cada passo do herói, ainda há algo que não está sendo explicado – nem entendido. Essa sensação é intrínseca à experiência de ler ou assistir Ataque dos Titãs. Os segredos guardados e pouco a pouco revelados pelo autor seguem justificando e contextualizando ações e falas que, num primeiro momento, pareciam não ter sentido. E é nessa gradual evolução e apresentação da trama que Eren é desenvolvido.

        O objetivo de Eren é claro e único: a liberdade. Num primeiro momento retratada como seu anseio de sair além muralha, para logo depois ser projetada no desejo de vingança e destruição de todos os titãs. Caminhando na evolução de seu objetivo, Eren passa a espelhar a liberdade em destruir dos titãs que romperam a muralha (outrora seus amigos de treinamento). E, após todos esses objetivos serem alcançados (em termos e em partes) e a tal liberdade não ser atingida em plenitude, é que Eren fixa a ideia de que o que ele espera e almeja está além-mar. 

Pausa contemplativa para Eren na praia * – *

Porém, Eren não encontra liberdade ao cruzar as águas salgadas. Pelo contrário, já que o controle e a dominação nesse novo país é ainda mais ferrenho do que em Paradis. Ele vê mais uma vez os seus iguais cercados, como gado, e subjugados pelo inimigo. E aqui começamos a enxergar os planos de Eren e até onde o protagonista é capaz de chegar para, enfim, alcançar a tão sonhada liberdade. Não para ele, mas para seus iguais e àqueles que virão depois dele. 

Eren e o Contrato Social: por que ele é seu próprio lobo.

Em determinado momento da narrativa, após Eren beijar a mão de Historia, personagem que possui o Sangue Real e que agora, depois da destituição do governo fraudulento de Paradis, é condecorada Rainha,  várias “memórias” (tanto presente, passado e até futuro) são lançadas na cabeça de Eren de uma só vez, saberes e segredos que culminam diretamente nos acontecimentos seguintes e que formulam a nova identidade do personagem.

Embora não seja imediato, e que tal explicação seja dada mais detalhadamente em um ponto avançado da narrativa, é a partir deste momento que Eren muda. Não de ideia, ou de motivação, mas de atitude. A liberdade ainda é seu objetivo, mas os meios pelos quais irá buscá-la passam a ser diferentes. Eren torna-se a ameaça. 

Entre tantas as referências e representações de Isayama na construção da narrativa e nos personagens, aqui podemos citar mais uma. É possível dialogar as atitudes e decisões de Eren, assim como um paralelo entre os governos das nações e a construção dos Estados em Ataque dos Titãs,  com os conceitos filosóficos contratualistas. 

Em poucas palavras, o “contrato social” é uma teoria política e filosófica que “indica uma classe de teorias que tentam explicar os caminhos que levam as pessoas a formarem Estados e/ou manterem a ordem social”. Thomas Hobbes foi um dos principais pensadores sobre o contrato social, e em um dos seus mais famosos pensamentos, citado em seu livro, Leviatã, Hobbes reflete que “O homem é o lobo do próprio homem”. E, numa interpretação livre, a frase afirma que o homem é capaz de grandes atrocidades e barbaridades contra os elementos de sua espécie, ele é sua própria ameaça. 

Attack on Titan Season 4 Part 2 Opening Theme Is Anime at Its Most Metal

Antes de qualquer coisa, a análise não é focada sobre se as ações dos personagens foram moralmente corretas ou não, mas sim para entendermos e dialogarmos com o que o têm em comum entre as citações.

Sendo assim, após Eren ter o conhecimento sobre a formulação de tudo, decide que se tornará, para o mundo, “o demônio”, dizimando 80% de toda a vida na Terra. Faz isso para que fosse derrotado pela sua própria classe (únicos capazes de pará-lo) e o restante das pessoas do mundo aceitariam sua raça, que tanto foi marginalizada e massacrada. Eren se torna, de forma bem simplória, o “Lobo do Homem”.

Eren decide se martirizar para salvar seus iguais, e a salvação escolhida por ele é controversa. Dizimar quase que a humanidade por completo. Nos últimos momentos do “herói” podemos notar o desespero de suas atitudes e vemos ali, naquele “monstro” que causou o caos, o mesmo menino inocente que sonhava em saber o que havia atrás das muralhas. A dominação pelo terror e pelo medo que Eren propôs ao executar seu plano será sentida e sabida apenas por aqueles que ficam depois dele.

Até a árvore na colina

Assim, o protagonista volta para debaixo da árvore onde estava quando tudo começou. E cabe aos seus amigos, que estiveram com ele até o final, mesmo quando não acreditaram, seguir a realidade moldada pela decisão de Eren e continuar a sua busca pela liberdade. No final, a tão almejada liberdade não foi alcançada. Estão livres (momentaneamente) da “ameaça” dos titãs, as muralhas foram derrubadas e não vivem mais cercados, mas todos os conflitos políticos, toda a morte e a dor que Eren causou com o estrondo, todas as consequências de seu ato, serão fardos carregados pelos seus amigos. Por Historiya. 

Infelizmente, Isayama não entrou nesse mérito ao finalizar sua narrativa, embora tenha deixado subentendido que acordos políticos estão sendo feitos e que depois do dia que ficou conhecido como “A Batalha entre o Céu e a Terra” o mundo teme os eldianos e a paz está longe de ser alcançada. O que lhes resta é avançar. 

Avançar. Ou andar em círculos?

Após o lançamento do último capítulo de Ataque dos Titãs, o autor adicionou poucas páginas ao fim da história, mas foram cruciais e colocaram em xeque uma das certezas que havia sido instaurada. No volume 34 encadernado tais páginas encerram – muito bem – a história e nos mostram que grandes ciclos não são quebrados. A história é cíclica, ela pode levar muitos anos para se repetir e voltar ao início, mas tudo é uma grande roda inquebrável. Assim como Eren, que começa e termina embaixo da mesma árvore, a história segue o mesmo destino.


Há muito o que se discutir sobre Ataque dos Titãs. Hoje, tentei trazer alguns pontos que julguei mais importantes e relevantes do enredo e as representações presentes na obra. Claro, muito ficou de fora. Certamente, só para falarmos de Ymir e sua relação com Fritz, a maldição, os protagonistas e os Caminhos, precisaríamos de mais alguns mil caracteres. Essa é a riqueza da obra de Isayama. Sempre há o que se debater. 

Falamos um pouco mais além dos itens que citei nesse artigo no nosso episódio especial do podcast sobre a obra, que você pode ouvir aqui. Em breve, todos os episódios do final da saga estarão disponíveis, e o volume 34 do mangá já foi lançado pela editora Panini, e ganhou além da edição regular uma versão especial com um livreto contendo o rascunho da história inicial de Isayama, que você pode ver como ficou aqui, no nosso vídeo sobre o volume. 

Tatakae!

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