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MB Review: InuYasha

Nenhum outro mangá foi tão aguardado no Brasil quanto InuYasha. A republicação do segundo maior sucesso da prolífica autora Rumiko Takahashi chegou até a se tornar um meme e lenda urbana. Tudo começou com uma pesquisa de relançamento, feita no primeiro semestre de 2016. Nela, tínhamos 6 opções para votar no que seria o próximo ou um dos próximos relançamentos da editora JBC. E, em Maio daquele ano, foi divulgado que o vencedor da pesquisa, com mais de 15 mil votos válidos, foi InuYasha e que esse seria um dos próximos relançamentos da JBC.

[Disponível em:Anohana e resultado da pesquisa de relançamento! – Henshin Online 78]

Porém, começaram a surgir os problemas. Internamente, o Brasil de 2016 em diante começou a ter diversas crises que complicaram a situação editorial como um todo. E, falando sobre o Japão, os licenciantes começaram a não aceitar os formatos sugeridos pela JBC, dentre outros empasses editoriais. E tempo vai, tempo vem, Cassius sai, Del Greco vem, chegamos a Maio de 2020, onde a editora anuncia que trará a coleção Wideban, um formato luxuoso que compila a obra completa, originalmente lançada em 56 volumes, em apenas 30.

Apesar disso ter assustado as pessoas pelo possível preço, a publicação da obra estava a caminho com uma das notícias mais completas sobre a republicação desde seu anúncio! E agora, em Outubro de 2021, chegamos ao início da publicação. Valeu a espera? O mangá ficou tão lindo quanto o aguardado? E a história, vale a pena?

Sinopse Oficial

A jovem Kagome encontra, num antigo poço, uma passagem que a leva para um Japão Medieval habitado por criaturas místicas conhecidas como youkais. É nesse passado longínquo que ela conhece Inuyasha, um meio‑youkai que busca a Joia de Quatro Almas e deseja vingar-se do nefasto Naraku. InuYasha é uma história fantástica que mistura aventura e romance escrita e desenhada por Rumiko Takahashi, a renomada autora de Ranma ½.

Sobre a Obra

Qualquer pessoa que cresceu por volta dos anos 2000 e teve contato com a cultura de animes conhece, pelo menos, de ouvir falar, Inuyasha. Seja pelo design icônico, seja pelo desenho que passou no Cartoon Network em 2002 e que depois teve uma breve passagem pela TV Globinho (ambos com a dublagem iconica de Mauro Eduardo Lima no papel do protagonista e com a abertura em português cantada por Frank Henrique). 

É algo que está no nosso imaginário, mesmo que indiretamente. A fama desta obra aqui no Brasil é tanta que muitas pessoas até se assustam quando descobrem que o mangá, apesar de extremamente bem sucedido, não é o mais famoso da autora, sendo este posto ocupado por Ranma ½ .

Mas, além do que é dito na sinopse, do que fala Inuyasha?

Acho que o que melhor representa o mangá é seu título completo no Japão: Sengoku Otogizōshi InuYasha. Otogizōshi seria o equivalente ocidental a um “contos de fadas”. Então, o título completo da obra seria algo como Inuyasha: Um Conto de Fadas do Período Sengoku.

A história reúne aventura, romance e uma gigantesca dose de questões culturais japonesas em um frenesi insano de uma maneira muito gostosa de se acompanhar. Além da questão histórica-cultural devido a ambientação no Período Sengoku (1467-1573), a conexão do mangá com a questão folclórica japonesa, os chamados yokais (ou youkais) e a mitologia por trás deles, fazem com que o mangá seja um prato cheio para quem gosta da ambientação clássica nipônica.

Narrativa

O primeiro volume da JBC compila os primeiros 17 capítulos da obra, o que cobre quase que a totalidade de 2 volumes tankos (No original japonês, o volume 2 tankobon acaba no capítulo 18) e o que se pode ressaltar sobre a história até o momento é sua agilidade. Em menos de 20 capítulos, muitas, mas muitas coisas aconteceram. Fomos apresentados aos protagonistas; gerou-se uma problemática; a problemática resolvida gerou um novo problema; o mundo ao qual iremos acompanhar a história nos foi apresentado, assim como diversas de suas possibilidades; e já tivemos diversas cenas de ação e comédia, além de uma pitada de romance. E, além de tudo isso, tivemos cinco lutas distintas. 

E, mesmo com tudo isso, a história não se perdeu nem ficou confusa ou fora de tom. O ritmo, embora extremamente acelerado, conseguiu criar uma conexão muito boa com tudo o que foi apresentado. Apesar disso, ainda existem alguns pontos que nos trazem a tona de que este é um mangá de mais de 20 anos atrás. A cena que mais me salta à mente neste momento é Kagome passando uma página inteira tentando juntar 2 + 2 para descobrir que, se Inuyasha é um Meio-youkai e seu pai é um youkai, sua mãe talvez quem sabe possa ser uma humana. 

E este ritmo acelerado mostra todo o seu esplendor em cenas de luta. A agilidade que a autora tem para sua narrativa se mostra muito mais do que bem-vinda nas batalhas, criando situações muito criativas, valorizando tanto Kagome quanto Inuyasha, e suas habilidades individuais e suas habilidades de trabalhar em grupo. 

Inclusive, vale ressaltar como Kagome é um ótimo exemplo de protagonista feminina forte. Sinceramente, se este ritmo se manter, eu não faço ideia da quantidade de coisas que irá acontecer em 30 volumes. Então acredito que, ou o ritmo se manterá e esticarão uma saga em específico; ou o ritmo em si que irá ser esticado como um todo.

A comédia também é um fator fortíssimo, seja pela atração constante das pessoas em querer tocar nas orelhas de Inuyasha (algo que não julgo pois também o quereria); seja pelo avô de Kagome, um senhor claramente entusiasmado com antiguidades, tentando explicar algo só para ser ignorado em seguida; ou então com Kagome conseguindo adestrar Inuyasha da melhor forma que se pode adestrar um cão: Senta!

Além disso, a escolha específica do Período Sengoku não parece mero capricho. Com uma ambientação histórica dessa, há pano para muita manga. Aliás, já pararam para pensar que, como Inuyasha conta a história de uma garota que atravessa um portal entre mundos, pode ser considerado um isekai? E um outro ponto que também chama bastante a atenção é como o lado cruel de Inuyasha não é poupado de ser mostrado de forma alguma. Sua ferocidade, sua vontade de destruição e sua visão sobre si mesmo como um dos malvados. Mesmo sendo um mangá de ‘97, são diversas as cenas com corpos mutilados graças ao trabalho de yokais malignos.

Arte

Rumiko Takahashi tem um traço muito característico e conhecido, então sobre sua arte em geral não dá pra dizer muita coisa. Caso você tenha lido Mao, que fizemos resenha recentemente, ou Ranma ½ e gostado, vai gostar daqui também.

O design de personagens da autora é algo a ser aplaudido de pé, tão simples quanto icônico. Com destaque ao que pra mim rouba a cena, Sesshoumaru. Mas, para não ficar focado apenas no que pra mim é o personagem mais belo do mangá inteiro, temos que dar os destaques tanto a Inuyasha quanto a Kagome. Principalmente a esta última, visto que a autora consegue colocar traços que façam com que Kagome se pareça com Kikyou, encarnação de sua vida passada, responsável por prender Inuyasha em seu encantamento. Sem utilizar as mesmas fisionomias, a autora cria duas personagens semelhantes, mas únicas, o que dá o suporte necessário para que se justifique na questão da reencarnação.

Sobre a Versão Nacional

A primeira coisa que eu fiz quando peguei a versão nacional nas minhas mãos foi admirá-la. Não adianta falar muito, ela está muito linda. O Hot Stamping tanto no logo quanto nas informações da lombada; o tamanho que não chega a ser um tanko normal, mas também não é uma edição de bolso. Até mesmo a capa principal que eu havia criticado ao ver imagens na internet, ao ver pessoalmente, me apaixonei. O papel não tem transparência alguma na edição que peguei e uma das maiores preocupações das pessoas, que foi sobre a utilização dos nomes Kagome e Naraku como no original (ao invés de Agome e Narak para evitar o despertar da 5ª série de algumas pessoas), foi resolvida. Os nomes se mantiveram Kagome e Naraku mesmo.

A tradução utilizada foi a mesma do volume anterior, mas foi revisada e alterada onde necessário. A única parte que me incomodou é o fato de terem traduzido “Período Sengoku” para “Era Medieval”, sendo que este último é um conceito fortemente ligado à Europa e sua única correlação com o Período Sengoku é apenas o recorte cronológico em que ambos aconteceram. Sei que muitas pessoas não conhecem esta Era japonesa, e a JBC poderia resolver esta questão com uma nota explicativa, seja no fim da página ou no do próprio mangá, o que não aconteceu.

Como comentei, Inuyasha é repleto de informações e até termos técnicos sobre a cultura japonesa, que a JBC coloca em notas de rodapé ou entre os quadros as informações necessárias para o entendimento do quadrinho. Na minha opinião, um glossário no final também seria muito bem-vindo para complementar a experiência e inteirar ainda mais os leitores, ainda mais porque são diversos os termos que se repetem e possuem mais de uma vez a nota de rodapé explicativa, fator que acredito ter vindo da tradução antiga.

Além disso, o vai e vem constante das notas de rodapé e de expressões traduzidas ou não pode acabar confundindo os leitores ou tirando-os da história, pois enquanto diversos termos são escritos em japonês com a nota de rodapé, outros são escritos em português e também possuem uma nota, explicando sobre qual é o termo original. Neste ponto, o termo campeão acaba ficando com “Shikon no Tama”, a famosa Joia de Quatro Almas. No mangá, mais de uma vez ela é chamada de “A Jóia de Shikon”, um termo que acredito ter sido escolhido não como um erro, mas propositalmente para evitar repetição. Este, pra mim, acaba sendo mais um dos motivos pelos quais acredito que um glossário no final seria mais interessante.

Por falar no final do mangá, os extras são muito interessantes. Um desses extras é uma apresentação do mundo de Inuyasha num geral. O primeiro volume contém informações sobre o personagem Inuyasha, como seus poderes, sua força e sua personalidade. Acredito que os próximos contarão não apenas de outros personagens mas também de questões sobre o mundo do mangá. E logo em seguida, temos uma mini entrevista com a autora Rumiko Takahashi, respondendo a três perguntas sobre sua obra. Neste volume, as perguntas também são sobre o personagem Inuyasha.

Conclusão

Após mais de 5 anos de espera, Inuyasha está entre nós com todo o seu esplendor! Uma história frenética que consegue prender, chamar atenção e trabalhar muito bem toda a cultura japonesa tanto histórica, e ainda assim ser um mangá muito divertido para se acompanhar, mesmo que você não se interesse por esse tipo de assunto. A edição da JBC está incrível em seu material gráfico e no texto em geral, com exceção do que foi comentado sobre a falta de um glossário e a constante alternância entre termos em japonês e em português.

Apesar do preço elevado, vale a pena esperar alguma promoção para pegar este mangá que não vai te decepcionar se você gosta de boas lutas de ação. Um mangá cheio de referências culturais, com uma ação frenética e toques de um romance que já sabemos desde o início que irá acontecer.

2 comentários sobre “MB Review: InuYasha

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