Mangás

MB Lista: 5 Mangás que vieram na hora errada para o Brasil (Parte 2)

    Dando continuidade à parte 1 do texto (clique aqui para ler), onde citei cinco mangás, trago mais cinco obras que, na minha opinião, vieram para o Brasil em um momento ruim. 

MPD PSYCHO

   Obra de Eiji Otsuka (roteiro) e Sho-u Tajima (arte), esse é mais um mangá que, nos dias de hoje, provavelmente teria uma recepção bem mais calorosa do que teve anos atrás, quando foi lançado aqui.

    MPD Psycho é um Seinen em que o protagonista é um detetive que sofre de transtorno de múltiplas personalidades, mas que ainda assim tenta cumprir sua função como agente da lei. Além disso, o mangá também conta com tramas conspiratórias envolvendo um assassinato e fortes elementos de sci-fi. A arte de Tajima é bem característica, bastante carregada de nanquim, o que casa bem com a trama mas, por algum motivo, às vezes a arte me remete à mangás da demografia Josei. Cenas chocantes e violentas também estão presentes em peso na obra. 

      Considero o caso dessa obra bem semelhante ao que ocorreu com Homunculus, inclusive ambos foram lançados no mesmo ano no Brasil, 2008. O cenário do mercado de mangás brasileiro na época não era consolidado o suficiente para absorver obras no estilo de MPD Psycho, o que certamente fez com que o mangá não tivesse vendas satisfatórias e viesse a ser cancelado no futuro. Acredito que, hoje em dia, o desempenho da série seria bem mais satisfatório. O título teve seu primeiro volume publicado no Brasil em novembro de 2008, custando R$ 9,90, e teve seu “último” volume publicado em nosso país em abril de 2010 (volume 13). A obra foi concluída no Japão em 2016 com 24 volumes. É um título que poderia retornar ao Brasil, acho que seria um interessante retorno, mesmo que em um formato 2 em 1, ou algo do tipo.

OORU

    Quanto mais eu olho para o catálogo de quadrinhos publicados pela Conrad nos anos 2000, mais certeza eu tenho de que ela foi uma editora muito à frente de seu tempo. Por sorte, atualmente a Conrad voltou a publicar quadrinhos (mas por enquanto ainda não tivemos nenhum mangá).

    Criação de Jun Hanyunyuu, Ooru conta a história de um mangaká bem sucedido e seu editor que, por alguns motivos, acabam se juntando à Yakuza. Uma coisa que logo chama a atenção – além das capas – é a arte do autor, que tem uma pegada mais underground, remetendo em certos momentos à arte do Taiyo Matsumoto. 

    Mais um dos títulos cancelados pela Conrad no fim dos anos 2000, Ooru teve 3 dos seus 5 volumes publicados no Brasil, sendo o volume 1 publicado em abril de 2008 e o volume 3 publicado em agosto do mesmo ano. Cada edição chegou às bancas custando R$ 12,90, o que era um pouco mais caro que o padrão da época, mas nada assustador.

    O motivo do cancelamento provavelmente foi o mesmo de algumas séries citadas anteriormente, a editora vinha tendo problemas financeiros e o mangá não deveria ser nenhum best-seller do catálogo deles. Não há como não lamentar quando vemos que faltaram apenas dois volumes para que a publicação fosse finalizada no Brasil. O título não foi e não é um dos mais comentados, mas gostaria de ver a obra recebendo outra chance no nosso país. É difícil, eu sei, mas a obra é curta e a temática bem interessante, quem sabe alguma editora não se interessa!

PRIDE – O SUPERCAMPEÃO


    Apesar de termos alguns títulos bem famosos no  mercado, mangás de esporte nunca foram extremamente populares no Brasil e, dentro desse nicho, existem aqueles que clamam para que Captain Tsubasa (ou Supercampeões) receba uma chance por aqui. Não tivemos Captain Tsubasa, mas em 2017 a editora Nova Sampa lançou Pride, mangá de futebol, do mesmo autor de Supercampeões. Tanto é que colocaram “O Supercampeão” no título para seduzir alguns leitores por associação à série que foi exibida em nosso país.

    O mangá de Yoichi Takahashi é completo no Japão em apenas 4 volumes. Há quem diga que, apesar da temática ser a mesma de Captain Tsubasa, Pride é um pouco mais adulto e “pé no chão”, mas não posso afirmar, pois nunca li a obra.

    Pride teve seus dois volumes iniciais publicados no Brasil em julho de 2017, custando R$ 14,90, e a publicação ficou pela metade. A edição contava com algumas escolhas bem duvidosas, como falas em japonês mantidas em japonês apenas com a tradução embaixo ou ao lado e problemas de diagramação. Não foram essas falhas que ocasionaram a interrupção da série. O motivo do cancelamento foi o mesmo de “Drifters”, que citei na parte 1 do texto, a editora simplesmente parou de lançar mangás por problemas internos. 

    Pride é uma obra curta e tê-la completa por aqui talvez saciasse um pouco a vontade daqueles que gostariam de ver mais mangás de esporte sendo publicados por aqui. Infelizmente, foi lançado em um momento ruim da editora e, sinceramente, mesmo sendo uma série curta, acho muito difícil essa obra receber uma nova chance no Brasil. Espero estar enganado.

SANCTUARY

    Ainda hoje me sinto inconformado por não termos Sanctuary completo no Brasil. Esse é aquele tipo de obra que agrada tanto à leitores de mangás quanto leitores de quadrinhos ocidentais, por conta da sua temática mais realista.

    Quem conhece um pouco da “mangágrafia” de Ryoichi Ikegami, desenhista da obra, sabe que ele adora ilustrar mangás com temática adulta, principalmente envolvendo a máfia, e Sanctuary é mais um desses títulos. Com roteiro de Sho Fumimura, o título possui uma história madura envolvendo Yakuza, política e polícia. A incrível arte de Ikegami é ideal para esse tipo de trama.

    Lançado no Brasil em junho 2006 custando R$ 12,00, a obra teve apenas metade dos seus 12 volumes lançados pela Conrad, com seu sexto e “último” volume circulando em abril de 2008. A publicação seguiu de forma bastante irregular, tendo 4 volumes publicados em 2006, 1 em 2007 e outro em 2008. O motivo do cancelamento provavelmente foi o mesmo de outros mangás da Conrad que vieram nessa época, problemas internos e a crise pela qual a editora atravessava. 

    Como a grande maioria dos mangás citados no texto, eu gostaria muito que Sanctuary recebesse uma nova publicação no Brasil e, para falar a verdade, acredito que essa é uma das obras que tem maior possibilidade de retornar. Mesmo 13 anos após seu cancelamento, eu vejo constantemente nos grupos de quadrinhos pela internet pessoas citando o mangá e lamentando seu cancelamento. Somado a isso, o público brasileiro hoje em dia se interessa bem mais por Seinens e Gekigás. O desenhista Ryoichi Ikegami também não é totalmente desconhecido dos brasileiros, já que foi lançado em nosso mercado com os títulos Crying Freeman (completo pela Panini) e a adaptação em mangá do Homem Aranha (publicação cancelada). Sou bem otimista quanto a essa obra, tomara que alguma editora traga de volta em breve.

SETON

    2008 foi um ano complicado para muitos mangás aqui no Brasil e Seton foi mais uma “vítima” da onda de cancelamentos que aconteceu naquele ano. Os responsáveis pela obra são Yoshiharu Imaizumi e Jiro Taniguchi. Na época, Taniguchi já havia sido publicado no Brasil, também pela editora Panini, com o mangá “O Livro do Vento” (ainda se encontra com facilidade, comprem porque é muito bom), volume único, mas o nome do autor não era tão conhecido no Brasil como é atualmente.
    Seton é uma obra que conta a história de Ernest Thompson Seton, que viveu entre 1860 e 1946 e foi um famoso escritor e naturalista norte-americano. O título trata de vários momentos importantes na vida de Seton e retrata alguns de seus feitos. Como é de se esperar a obra possui desenhos belíssimos e, por mais que seja uma obra biográfica, possui aquele “toque” contemplativo que o Taniguchi costumava colocar em seus mangás.

Como eu disse logo acima, 2008 foi um ano complicado, e Seton teve apenas o número 1 dos seus quatro volumes publicado, em março, ao preço de R$ 15,90 (o que era razoavelmente mais alto que o padrão da época). Em compensação, Seton possuía um acabamento mais luxuoso e foi uma aposta da Panini, que  provavelmente deu errado e acabou vendendo pouco, ocasionando então no cancelamento do mangá. 

    A capa do segundo volume chegou a ser divulgada, mas tal volume nunca foi publicado. Seton foi um mangá que veio cedo demais. Hoje em dia, com o nome de Jiro Taniguchi já consideravelmente forte no nosso mercado, com várias das suas obras foram publicadas (e outras já anunciadas) aqui nos últimos anos, o desempenho do mangá com certeza seria muito mais satisfatório. Porém, assim como Sanctuary, sou bem otimista em relação ao retorno do título e acredito que possui altas chances de retornar, principalmente por editoras como Devir e Pipoca & Nanquim, que têm publicado o autor e demonstrado satisfação com o resultado.

KEKKAISHI

Menção Honrosa

    Falar dessa obra é complicado, pois é um assunto muito delicado para muitos fãs. Os pouco compradores do mangá afirmam que foi um título injustiçado e que não recebeu o devido valor pelos leitores brasileiros, caso muito semelhante ao meu querido “Toriko”. Inclusive, quero ler Kekkaishi por realmente parecer ser bom.
    Por mais que tenha ouvido falar muito bem da obra, nunca li, nem assisti nada relacionado à Kekkaishi. Meu único contato com a obra foi no jogo de PSP “Sunday VS Magazine: Shuuketsu! Choujou Daikessen!“, game que reúne vários personagens das revistas Shounen Sunday e Shounen Magazine. E nesse jogo há o protagonista do mangá como personagem. Lembro que achei muito interessante o estilo de luta dele, usando alguns “cubos” que, mais tarde, descobri que eram as “barreiras” citadas no subtítulo da obra. Como não li nada do mangá, deixo a sinopse para vocês:

“Há 500 anos um senhor feudal foi atacado por ayakashis, monstros espirituais, que queriam o grande poder que ele tinha, para poder dominar o mundo. Devido aos constantes ataques, um poderoso mago, Tokimori Hazama, foi chamado para o proteger. Hazama veio com dois alunos que conseguiram proteger o Senhor até o dia de sua morte. Após sua morte eles o enterraram com seu poder em um lugar ao qual chamaram de Karasumori. Atualmente, o legado da linhagem Kekkaishi está em jogo e os dignos herdeiros são necessários para proteger o castelo dos senhores Karasumori.”
    O mangá de autoria de Yellow Tanabe foi lançado no Brasil e teve 19 dos seus 35 volumes lançados por aqui. O primeiro volume saiu em junho de 2010 custando R$ 9,90 e o volume 19 foi lançado em maio de 2013 custando R$ 10,90. Durante a publicação, a obra sofreu alterações na periodicidade, mas de certa forma, seguiu regular até ter seu 19º volume publicado.
    Decidi colocar Kekkaishi como “menção honrosa” pois sei que, caso não o incluísse na lista, muita gente questionaria e sentiria falta. Para ser sincero, não sei se o mangá veio em uma época errada para o Brasil. A temática de youkais é muito “nichada”, apesar de estar se popularizando aos poucos. Existe uma adaptação em anime da obra, mas nunca foi exibida no Brasil e, na época do lançamento do mangá no nosso mercado, o anime era muito mais recente do que hoje e mesmo assim não vingou. As coisas poderiam ter sido diferentes e o mangá ter vendido melhor hoje em dia? Sim, talvez. Nada garante. Kekkaishi foi uma aposta da Panini que deu errado: o público não se interessou, não por um motivo em específico, mas simplesmente por não ser o mangá com o tipo de temática que o leitor brasileiro costuma procurar. Cito como exemplo “Nura” (mangá com temática semelhante), que foi lançado completo pela JBC mas mesmo durante o lançamento era – e ainda é – pouco comentado, inclusive é bem fácil achar a coleção completa.

        Então é isso, espero que tenham gostado desse texto dividido em duas partes, já que realmente era muita coisa para ser abordada. Eu sei que existem inúmeros outros mangás que poderiam estar aqui, sempre vai ficar faltando “um ou outro”, mas esses, em específico, foram os que eu considerei que realmente poderiam ter tido um resultado diferente no Brasil e infelizmente não tiveram. Torço para que alguém ,de alguma editora, leia esse texto e tente resgatar alguma dessas obras!
Obrigado e nos vemos na próxima!

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