MB Lista: 5 Mangás que vieram na hora errada para o Brasil (Parte 1)

    Já faz mais de 20 anos que os mangás se estabeleceram no mercado editorial brasileiro e, mesmo com as já conhecidas dificuldades em se publicar mangás (e livros em geral) no Brasil, muitos títulos foram publicados, dos mais diversos gêneros e demografias. 

    Infelizmente, nem todos deram certo e não tiveram sua publicação concluída. Os motivos que levam um mangá a ser cancelado são variados, mas neste texto irei tratar especificamente dos mangás que foram cancelados mas que, ao meu ver, poderiam ter obtido sucesso se tivessem sido lançados em outra época. 

    Como cada caso é um caso, irei detalhar o meu ponto de vista em relação à obra quando for falar da mesma. Já deixo bem claro que eu gostaria muito de ver várias das obras que serão citadas recebendo uma nova chance por aqui, por mais improvável que isso seja em alguns casos. Não incluirei aqui mangás que foram cancelados mas posteriormente foram relançados e completos por alguma outra editora (como é o caso de Monster, Dr. Slump, Eden e Blade, por exemplo).

BAMBI

   Com forte influência dos quadrinhos underground norte-americanos, várias referências ao rock e a cultura punk, Bambi é um mangá de ação que possui sequências de quadrinização dignas dos filmes de ação da década de 80. A arte do mangá é muito bonita e bem singular, justamente por conta de vários dos elementos visuais presentes na obra, como os tons de rosa que ocupam páginas inteiras em determinados momentos da história. 

    O mangá foi lançado em 2006 pela Editora Conrad, custando R$ 22,00 (o que era considerado um valor bem alto para a época). Vale lembrar que o título contava com um ótimo acabamento gráfico, que era padrão em títulos da Editora. Provavelmente o mangá não vendeu tão bem por conta do alto valor e por não ser um título muito conhecido no Brasil. Somado à isso, a Conrad passava por uma crise financeira, o que fez com que os intervalos entre o lançamento dos volumes fossem ficando cada vez maiores. Por exemplo, no ano de 2007, apenas um volume foi publicado e, no ano de 2008, nenhuma edição foi para às bancas. O mangá retornou apenas em março de 2009 e depois foi cancelado, no seu 4º volume, faltando apenas duas edições para a conclusão da obra (que é completa em 6 volumes no Japão). Uma pena.  

Criação de Atsushi Kaneko, Bambi veio em uma época onde o mercado brasileiro não era maduro o suficiente para absorver o mangá, e creio que a Conrad não conseguiu manter sua publicação, mesmo que com a obra quase completa, por problemas financeiros. Hoje em dia, acredito que o mangá teria mais chances de fazer sucesso no Brasil. O público já se interessa mais por Seinen e a obra teria uma visibilidade maior, creio eu, graças aos canais de Youtube e diversos sites e comunidades especializadas em mangás. Não que naquela época tais meios não existissem, mas o cenário hoje de um modo geral é consideravelmente mais forte. Bambi, com certeza, merece uma segunda chance por aqui.

DELIVERY SERVICE OF CORPSE

    Com arte de Housui Yamazaki e roteiro de Eiji Otsuka, Delivery Service of Corpse é um mangá interessantíssimo. A capa por si só já é bastante intrigante, além do nome nada usual. Somado a isso, a história de um grupo de estudantes de budismo que trabalham diretamente para os mortos. 

    O início da trama se passa na floresta de Aokigahara (conhecida como a floresta do suicídio) e, dentre os integrantes do grupo principal, existe um personagem que usa um amuleto para encontrar cadáveres, uma moça que conhece várias técnicas de embalsamento e preservação de corpos, uma outra personagem que possui um grande conhecimento sobre anatomia, um especialista em fantoches e uma espécie de xamã que consegue se comunicar com os mortos. Essa equipe inusitada trabalha numa empresa de “delivery de cadáveres”, o grupo utiliza das habilidades dos membros para cumprirem os serviços que vão desde transferir um corpo de um determinado cemitério para outro até a perseguição de um serial killer. 
    A obra é um Seinen que possui forte apelo para gêneros como mistério/horror e também conta com alguns momentos de humor negro. O mangá é bem desenhado e possui cenas fortes, o que é natural, dada a natureza da história. Cenas de autópsia e até mesmo um gore extremamente detalhado são ocasionais. “Mangás fora da curva” são comuns no Japão, tendo em vista o tamanho do mercado de quadrinhos por lá e Delivery Service of Corpse, com certeza, é um deles.

    A Conrad publicou apenas três volumes do mangá, entre março e agosto de 2008, ao preço de R$ 12,90, o que era um pouco acima da média para a época (mas não era tão caro assim). Em agosto daquele ano, quando o volume 3 foi lançado no Brasil, o mangá já contava com 9 volumes no Japão. Infelizmente, o motivo do cancelamento do mangá por aqui foi provavelmente a grave crise que a editora já enfrentava, o que fez com que Delivery Service of Corpse fosse apenas mais uma das várias obras que ficaram incompletas pela editora. Atualmente, o título ainda está em publicação no Japão e se encontra com 28 volumes. Com certeza, gostaria que a obra recebesse uma nova chance no Brasil, porém, tendo em vista a quantidade de volumes, acho pouco provável, a não ser que lançassem numa edição big, compilando mais de um volume por edição, como acontece nos EUA.


DRIFTERS

    Um dos meus xodós desta lista, Drifters é um Isekai bem fora do padrão que costumamos ver no gênero. A história gira em torno de personalidades históricas, não só do Japão, mas do mundo inteiro. A trama começa na Batalha de Sekigahara, que é considerada uma das – senão a – batalhas mais importantes do Japão, onde o protagonista, Toyohisa Shimazu morre e é mandado para um mundo onde, além das criaturas que lá habitam, como dragões, elfos e anões, também estão presentes personalidades como Oda Nobunaga, Joanna D’arc, entre outras.    Toda essa maluquice só poderia vir da cabeça de Kouta Hirano, que também é o criador de Hellsing. A arte poluída e sombria é um das características do autor, além das lutas e táticas de combate insanas. Possuo os 3 volumes do mangá lançados pela editora Nova Sampa e era o tipo de mangá que eu lia com um sorriso no rosto pensando: “caramba, isso é legal demais”. Um dos detalhes mais insanos da série é que tudo indica que o grande vilão da trama é ninguém menos que Jesus Cristo. E isso só poderia sair da cabeça do Hirano, mesmo.

    Drifters foi publicado entre junho e agosto de 2014, ao preço de R$ 12,90. Infelizmente, a obra teve apenas três volumes publicados no Brasil, já que a Nova Sampa passou por problemas financeiros e não publica mais mangás. 

    Nesse caso especificamente o mangá não veio em um momento tão ruim para o cenário nacional, mas foi um momento ruim para a editora, que abandonou a publicação pouco tempo depois. Drifters ainda recebeu um anime em 2016, o que poderia ter impulsionado o interesse pela obra caso ainda estivesse em publicação por aqui. Espero que Drifters receba uma nova chance no Brasil, pois é muito legal. A obra segue em publicação no Japão e atualmente já teve 6 volumes lançados.


GON

    Mais uma das ousadas apostas da Conrad que infelizmente não “vingou”: A história do pequeno dinossaurinho chamado de Gon (que a galera que jogou Tekken 3 no saudoso Playstation 1 talvez se lembre já que ele era um dos personagens jogáveis). O mangá é simples, acompanha as aventuras e as diversas falcatruas de Gon na era pré-histórica. A obra de comédia foca principalmente na relação de Gon com outros animais e com o ambiente ao seu redor.    O título possui apenas sete volumes e no Brasil foram publicados apenas 3, entre setembro de 2003 e março de 2004. A edição tinha até um bom acabamento gráfico, com orelhas e papel offset, mas o valor de R$19,90 era bem alto para a época. Vale lembrar que, também em 2003, grande parte dos mangás publicados no Brasil tinham suas adaptações em anime sendo exibidas na TV (aberta e/ou fechada) e os animes serviam basicamente como uma publicidade para o mangá. Ainda hoje isso acontece um pouco, mas naquele tempo era bem mais forte e “Gon” não possuia uma adaptação animada à seu favor. O alto valor da edição e a falta de interesse pelo título por parte dos brasileiros (já que maioria nem sabia do que se tratava o mangá) provavelmente fez com que a obra vendesse pouco, culminando no seu cancelamento.

    De autoria de Masashi Tanaka, Gon possui uma das artes mais bonitas e detalhadas que eu já vi em um mangá. Sério, o nível da arte é impressionante. Tanaka consegue mesclar um realismo extremo com algumas expressões mais exageradas e o resultado é excelente. Outro detalhe interessante é que o mangá é totalmente focado na narrativa gráfica, não fazendo uso de diálogos. A única escrita que temos nas página são as onomatopeias. Gon é um dos títulos dessa lista que eu acredito mais tem chances de ganhar uma republicação e, cá entre nós, merece! Acho que hoje em dia a recepção geral seria muito melhor do que foi há quase 18 anos atrás.

HOMUNCULUS

    Criado por Hideo Yamamoto, Homunculus é o único mangá da lista que teve a publicação finalizada no Brasil. O título foi uma aposta da Panini que, infelizmente, não deu certo. A obra pode ser considerada um Seinen Psicológico (tem gente que adora dizer isso kkkk). 

    Apesar de eu nunca ter lido Homunculus, é o tipo de mangá que eu leio a sinopse, dou uma olhada na arte, e fico convicto de que vou gostar. 

Fiquem com a sinopse:

    “Homunculus conta a história de Susumo Nakoshi, um sujeito estranho que mora em um velho carro estacionado ao lado de um grande parque e de um luxuoso hotel. Um sujeito misterioso com um passado igualmente misterioso, a resposta sobre quem ele é e o que faz, dependendo de quem pergunte,  varia. Certo dia um estranho sujeito, Manabu Ito, aparece para Nakoshi e lhe faz uma proposta de 700 mil ienes para que Nakoshi se submeta a um bizarro experimento, a trepanação, realizada desde a antiguidade com o objetivo de estudar sobre os dons paranormais que tal operação pode dar ao paciente, como um despertar do 6º sentido”.

Sem dúvidas um mangá bizarro, mas com uma premissa extremamente interessante. O primeiro volume foi lançado em abril de 2008, custando R$ 9,90 (preço padrão da época). A obra só veio a ser concluída em abril de 2014, com o último volume custando R$18,90 após a repercussão de uma campanha dos leitores pedindo pela conclusão do mangá (que estava paralisado no volume 14, penúltimo da série, desde novembro de 2011). 

    Acredito que, na época que a obra foi lançada, o público brasileiro em sua maioria ainda não se interessava por esse tipo de mangá, o que ocasionou nas baixas vendas e no quase cancelamento. Não que hoje em dia a maioria dos leitores se interesse por algo fora do mainstream, mas tenho convicção que a performance do título nos dias de hoje seria muito melhor. E, por mais que nosso atual mercado de mangás ainda seja limitado, ele já é maduro e diversificado o suficiente para absorver uma obra do nível de Homunculus. 

    Após a conclusão da série, muitas pessoas passaram a procurar a coleção mas é muito difícil de encontrar completa e, quando se encontra, o valor cobrado é bem alto. Eu, de fato, gostaria de que o título recebesse uma nova chance no Brasil, mesmo sabendo que é muito improvável. Infelizmente, também acho que o fracasso comercial de Homunculus acabou acarretando que outro mangá muito famoso do autor não aparecesse por aqui: Koroshiya Ichi (Ichi, the Killer).


Chegamos ao fim da parte 1. Decidi dividir o texto em duas partes para que assim possa falar um pouco mais de cada obra em específico e colocar imagens sem deixar um texto longo (da forma que ficaria se eu colocasse os dez mangás aqui). Espero que tenham gostado do texto e aguardem que em breve a parte 2 irá ser publicada, com mais cinco obras e uma menção honrosa!

One thought on “MB Lista: 5 Mangás que vieram na hora errada para o Brasil (Parte 1)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *