MB Nacional: Lavagem – O casamento e Deus
O casamento é uma instituição de Deus? Embora exista uma construção social que vincula o casamento à religião, o que para muitos é utilizado como justificativa para tornar o mesmo intocável, a barreira entre casamentos e religião sempre pode ser mais tênue do que se imagina. Em Lavagem, somos arrebatados por essas representações. Em um cenário de paranoia e violência que nos leva a questionar o que Deus e a religião devem representar.
O cenário de HQs nacionais tem sido um deleite pra mim, ou pelo menos dou bastante sorte em minha escolha de títulos. Lavagem é um quadrinho da editora Mino, com autoria de Shiko, nome bastante popular no cenário de quadrinhos de terror no nacional.
Em uma pequena comunidade próxima aos manguezais, vive um casal distante de ter alcançado o felizes para sempre. A história se desenvolve em um dia de convivência desse casal e o autor traça muito bem os problemas existentes na vida de casados.
Omar, o marido, é o único personagem nomeado na história. Diversos elementos nos possibilitam perceber que é um personagem violento e longe de alguma sanidade. Inicialmente nos é apresentado apenas a partir de seu ciúme e a sua paranóia, mas com o desenrolar da história é possível notar em Omar uma bomba relógio. O autor dosa muito bem esses elementos, sendo difícil traçar um linha entre o que é paranóia e o que é real.
A religião é muito presente na história, e parte da paranóia e terror psicológico é construída sobre esse elemento. O uso da religião em si não é nada simplista, por diversas vezes percebemos que pode ser a causa e também a solução dos problemas.
A arte é belíssima e nos transporta para um ambiente angustiante, desenhos riscados e sobreposição de textos são importantes para a construção. Lembrando que a HQ não é colorida, mas o preto e branco está longe de ser uma limitação, reforçando em muito a percepção de uma rotina angustiante.
Lavagem entrega uma história extremamente pesada. Seu roteiro não é complexo, mas o desenvolvimento de suas temáticas e o terror são muito bem empregados em suas páginas, transformando a história em algo excepcional. Porém, o mais interessante na obra é certamente sua crítica social, não se preocupando meramente a deixar explícito. Mostra o quão angustiante é a vida de pessoas que vivem em ambientes violentos e como a religião pode ser uma prisão ou a chave para a libertação.