MB Classic: Cowboy Bebop

Quando fui incumbido da missão de fazer um texto sobre Cowboy Bebop, senti um leve frio na barriga, sem exageros. Isso porque é uma honra, mas uma responsabilidade enorme falar sobre essa que considero uma das melhores animações já feitas, e um dos meus preferidos. 

Produzido como uma obra original pelo estúdio Sunrise, famoso pelos animes de mechas, especialmente pela franquia “Gundam”, escrito por Keiko Nobumoto (também roteirista de Wolf’s Rain) e dirigido por Shinichiro Watanabe (conhecido também por Samurai Champloo, Ergo Proxy, Space Dandy e etc), Cowboy Bebop foi exibido originalmente no Japão entre 03 de abril de 1998 e 24 de abril de 1999, tendo um total de 26 episódios e sendo transmitido pela TV Tokyo e no canal Wowow. No Brasil, o anime foi transmitido pelo extinto canal Locomotion, legendado. Um longa animado, chamado “Cowboy Bebop: Tengoku no Tobira”, foi lançado em 2001 e, ao contrário da série, o filme recebeu dublagem para o português do Brasil. O longa se passa antes dos acontecimentos do fim do anime.

Sinopse: “Em Cowboy Bebop, estamos no ano de 2071. A humanidade se espalhou pelos planetas do Sistema Solar graças aos “gates”, vias expressas espaciais que interligam o Sistema Solar. Abusando da tecnologia, os criminosos também ficaram bem mais perigosos. Para tentar combatê-los, foi criada a “Lei Cowboy”, segundo a qual caçadores de recompensas, mais conhecidos como “Cowboys do Espaço”, teriam poder para prender criminosos.”

Esse supostamente é o plot principal, mas reduzir CB à isso seria uma afronta gigantesca à genialidade dessa série. O que deixa a trama ainda mais interessante, é sem dúvida, os personagens integrantes da nave Bebop, que originalmente era uma nave pesqueira interplanetária, mas foi comprada por Jet Black e transformada na casa dos personagens da trama. 

Enquanto os membros constroem uma relação entre si, cada um tenta lidar e superar os problemas do passado. Spike Spiegel, o protagonista, é um ex-integrante da máfia Red Dragon Syndicate, que agora atua como caçador de recompensas. Apesar do jeito brincalhão e descolado, Spike tenta superar um amor do passado; Jet Black, piloto da nave e conhecido como ‘Black Dog’, é um ex-policial que foi expulso da corporação onde trabalhava após ser traído por um companheiro corrupto, nesse processo, ele acabou perdendo um braço, que foi substituído por uma prótese mecânica. Ele é o contrapeso de Spike. Enquanto o protagonista é desleixado, briguento e brincalhão, Jet Black é mais centrado e valoriza muito valores como lealdade e amizade. Faye Valentine é uma “mocinha”, que na verdade possui mais de 70 anos. Apesar da aparência jovial, ela foi colocada em uma cápsula criogênica devido a um acidente, e ao acordar, descobre que possui uma dívida gigantesca para ser paga. Ela se junta à nave Bebop para aplicar golpes e conseguir dinheiro para pagar essa dívida. Ela é escandalosa, encrenqueira e desleixada. Spike a gosta de chamar de “mulher sem classe”. 

Por fim, temos Edward Wong Hau Pepelu Tivausky IV (o nome é esse mesmo), uma menina pré-adolescente que se comporta de forma estranha, muitas vezes até de forma semelhante à um gato, mas possui uma habilidade com computação fora do normal, ela é considerada uma das melhores hackers do sistema solar. E Ein, um cachorrinho da raça Corgi Galês de Pembroke, que não desgruda da Edward e possui uma inteligência extremamente elevada, conseguindo inclusive, auxiliar Ed nos hackings que ela faz. Vicious (líder da máfia Red Dragon Syndicate) e Julia são personagens de grande importância para a trama e para entender um pouco mais do passado do Spike, eles são respectivamente, o vilão da série e mulher da vida do protagonista. Não me estenderei aqui, mas todos os três estão conectados por acontecimentos passados. 

Os tripulantes da nave Bebop.

A atmosfera do anime é muito interessante e instigante. Ao mesmo tempo em que a obra se inspira fortemente nas Space Operas, também existe uma influência muito grande das obras de faroeste, criando um universo bem único, quase um spacepunk (esse termo existe, se não existir, foi cunhado agora). Algo que também possui forte presença na série, já que a trilha sonora da mesma colabora (e muito) para a lore do anime, são os estilos musicais Jazz e Blues.

Para compor a trilha sonora do anime, Shinichiro Watanabe chamou uma de suas compositoras favoritas, Yoko Kanno. Kanno também já trabalhou e foi elogiada por grandes nomes da indústria, como Yoshiyuki Tomino, criador da franquia Gundam. Apesar de ser muito conceituada, a compositora nunca tinha trabalhado com o Jazz e o Blues antes, mas isso não a impediu de junto com a banda formada exclusivamente para performar a trilha sonora do anime, os “The Seatbelts”, fazer um um trabalho espetacular. A banda foi dissolvida após a produção do anime e a realização de algumas apresentações, mas ano passado, lançaram uma nova versão da música “Tank!”, a abertura da série.

Além de compor a trilha sonora instrumental, algumas músicas do anime possuem vocal, e sendo sincero, é uma mais bonita que a outra. Quando ouço tocando “Blue”, ao final do último episódio, me arrepio instantâneamente. Quem já assistiu sabe bem do que eu estou falando. Uma curiosidade interessante, é que dentro do universo da obra, a banda The Seatbelts também existe, porém lá ela é tratada como ‘uma banda da década de 1990’. 

A série opta pelo formato episódico, ou seja, a maioria dos episódios possui uma pequena trama com início, meio e fim, mas claro, tudo isso enquanto a história principal é desenvolvida paralelamente. Os episódios variam muito, existem aqueles com uma carga dramática maior, aqueles focados nos personagens, aqueles com muitas cenas de ação (que sendo bem honesto, não perdem em nada para grandes produções do cinema mundial) e até mesmo episódios com momentos bem engraçados com personagens marcantes.

A animação rendeu uma série de mangás spin-offs, que foram publicados no Brasil em meio-tanko pela editora JBC. Eu nunca li, mas os comentários de quem leu não são dos mais favoráveis. Muitos dizem que o mangá falha muito em conseguir, ao menos, chegar perto da grandiosidade do anime. Atualmente, uma série em live-action está sendo produzida pela Netflix.

Cowboy Bebop é o tipo de coisa que se deve assistir mais de uma vez na vida. Não por ser uma série de difícil compreensão, mas por ser aquele anime que a cada vez que assistimos, nos deparamos com algo novo, e mudamos até mesmo nossa interpretação de alguns acontecimentos conforme vamos ficando mais velhos. Eu por exemplo, assisti pela primeira vez quando tinha 16 anos, e mesmo na época, amei o anime. Hoje, 7 anos depois, tenho outra visão da vida e de algumas coisas que estão presentes na série. Percebo coisas que não consegui captar, ou tive uma outra interpretação na primeira vez que assisti. Resumindo, não importa muito a sua idade. Se você quer assistir a um bom anime, com cenas de combate excepcionais, trilha sonora perfeita, personagens carismáticos e universo rico, faça um favor a si mesmo e assista Cowboy Bebop. Eu particularmente, considero o anime uma verdadeira obra prima. Caso já tenha assistido, tenho certeza que ficou com vontade de assistir novamente após ler esse texto.

See you space cowboy…
BANG!

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