MB HQs: Conto de Areia

Conto de Areia: Um Fascínio Surrealista 

Há quem diga que Jim Henson é para os norte americanos o que Maurício de Sousa é para nós, brasileiros. Dono de uma mente repleta de criatividade, Henson emplacou sucessos enormes como os “Muppets” e atuou na produção “Vila Sésamo” e entre outras obra direcionada ao público infanto juvenil, que hoje são consideradas grandes clássicos. 

Antes de tudo isso, Jim já tinha produzido um roteiro para um longa mentragem que somente algumas décadas depois “saiu da gaveta” (infelizmente não em forma de filme como o desejara) mas num formato de graphic novel, com uma arte mais que necessária do artista Ramon K.Perez; “Conto de Areia” é seu nome e bem vindos ao MB HQ de hoje. 

– A Narrativa 

Conto de Areia é uma adaptação em Graphic Novel de um roteiro de “Jim Henson” que foi agraciado com a arte de “Ramon K. Perez”, lançada no Brasil pela editora Pipoca e Nanquim. A obra foi premiada no Eisner, o principal prêmio dos quadrinhos americanos.

A trama conta a história de Mac, um viajante que chega em uma cidade remota no sudoeste americano. Lá, ele se vê alvo de uma caçada humana, onde ele precisará chegar em um ponto determinado no mapa, ou será morto. 

Com toda a genialidade de Jim, a obra consegue apresentar uma narrativa quase sem balões de diálogos e que, mesmo assim, manter um nível de dinamismo surpreendente. A arte de Ramon também foi de grande necessidade para esse projeto, de maneira sagaz ele apresenta modelos de surrealismo que, em cada momento,  ativam memórias ou sentimentos de nosso subconsciente. Sendo como delírio ou momentos reais, tudo é apresentado de forma “coerente” por mais alucinógeno e sem sentido que pareça, já que o próprio Henson tinha essa mania de intercalar o real com o metafísico, a aleatoriedade vista como arte e a coerência entre isso sempre foi trabalhada por ele, por mais sutil que fosse em outras obras. 

A trama, a princípio, pode parecer subjetiva até demais, e para quem não conhece o roteirista, fica difícil entender o propósito ou o por quê daquilo. Entretanto, ao longo das páginas, o surrealismo e fascínio ganham forma, por mínima que seja, onde tudo é pensado (talvez para ser uma crítica ao imediatismo? À crescente e fatidiga produção americana? O “American Dream”, à quebra da bolha? Ou talvez não seja nada disso). A narrativa brinca com o irreal e dependerá da sua própria interpretação para dar sentido a esta trama. 

-A estética

 Não é possível não falar de todo o trabalho de Ramon ao adaptar os textos para a Graphic Novel, um projeto ambicioso que lhe foi entregue de forma graciosa, tudo por mais difícil que parecia, conseguiu ser bem feito. A arte do desenhista é bem agradável de se observar, às vezes se adequa ao traçado mais “forte”, às vezes a um desenho mais calmo, quase como uma pintura a mão. Como a obra necessita de subjetividade, os quadros de Ramon esbajam qualidade. 

– Vale a pena? 

Conto de Areia apresenta um estilo no mínimo diferente do que estamos acostumados quando falamos de HQ’s. Por ser uma adaptação de um roteiro, o dinamismo segue uma outra vertente, poucos diálogos, e abusam da arte como referência para subjetividade, boa parte do fascínio de Henson conseguiu ser adaptado por Ramon. 

A obra apresenta talvez uma das maiores críticas ao cenário americano, ou olhando por uma outra via de pensamento, apresenta o ápice de uma criatividade livre e solta, sem restrições de liberdade artística. A trama consegue ir de um ponto central a outro, dependendo do desejo do leitor, podendo ser tudo ou nada como a relação entre uma grande ou pequena quantidade de areia, então afinal, seria este um conto sobre areia?.. 

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