MB HQ’s: Tangências
2021 com certeza é o ano de Miguelanxo Prado no Brasil. Em janeiro tivemos o lançamento de Traço de Giz pela editora Pipoca & Nanquim, uma obra que faz o leitor revisitá-la várias e várias vezes e interpretar seu próprio final e, dois meses depois, veio o lançamento de Tangências, pela editora Conrad, sem contar o anúncio de mais uma obra para 2022, ainda pela Conrad.
As oito histórias curtas de Tangências começaram a ser publicadas de forma seriada em revistas mensais, a partir de 1987 e, mais tarde, ganharam um encadernado em 1995. É uma pequena coletânea de histórias curtas, todas sobre o momento que um casal tem vivido, uma relação de amor que chega ao final. O leitor vem como um intruso no momento da relação amorosa entre duas pessoas e vivencia os momentos aos quais a relação tem um fim. Somos apresentados também a um pouco da história daquele casal, que por vezes tiveram uma relação no passado e nos é mostrado o por quê aquela pode ser a última relação de ambos.
Em todas as histórias não há certo ou errado, todos têm sua motivação. Temos histórias de amantes, relação proibidas, arrependimentos, reencontros, tudo isso apresentado rapidamente em poucas páginas, de uma maneira levemente erótica, fazendo o leitor refletir o lado de cada um durante o relacionamento e o seu fim. Apesar de terem sido escritas em 1987, continuam sendo bem atuais.
Dois dos meus contos preferidos foram Tangências e Café no meio da tarde. Tangências, o conto que dá nome ao encadernado, nos apresenta uma história de reencontro, de um casal que teve uma breve separação em busca dos objetivos pessoais de cada um e que após 12 anos, num reencontro caloroso, percebem que não conseguiram atingir aquilo que sonhavam. Um momento de silêncio, tentando reviver o passado e o alívio de colocar as palavras para fora.
O segundo conto é Café no meio da tarde, o qual mostra um ex-casal se reencontrando, como amantes, em uma casa próximo ao mar. É uma história em que é nítido perceber que ambos os envolvidos sofreram com o término da relação e esperançosos que sua paixão fosse voltar. O protagonista, para tentar esquecer esse relacionamento que ficou pra trás, acabou virando um escritor bem sucedido, e aceitou esse reencontro após anos e anos para enfim saber que, se no fundo, acabou superando ou não aquele relacionamento, tudo para saciar seu próprio ego. O conto faz com que o leitor reflita sobre as causas e consequências, afinal foi devido ao término que fez com que o protagonista abrisse a porta para se tornar um escritor bem sucedido. No final, os fins justificam os meios?
A arte de Miguelanxo Prado é com certeza uma das mais bonitas que eu já vi. No final do encadernado, há uma entrevista com o autor na qual ele cita que demora 1 mês para fazer de 8 a 10 páginas e, lendo Tangências, você entende o por quê. Cada quadro é uma pintura totalmente bem detalhada, cada conto tem uma paleta de cor específica, umas com tons mais quentes, outras com tons mais frios. São histórias curtas, mas o leitor acaba gastando mais tempo em cada uma para apreciar a arte. Miguelanxo sabe retratar bem a intensidade das emoções nos rostos das personagens.
A edição da Conrad é bem competente. Custando R$ 54,90, em capa dura, no formato europeu (28.6 x 21.2cm), trazendo 64 páginas em papel couchê colorido e compilando as 8 histórias curtas. Um prefácio por Cassius Medauar, gerente editorial da Conrad, e uma entrevista com o autor feita por Sidney Gusman. Com certeza, essa obra será o primeiro Miguelanxo Prado de muitos e será um autor que vai marcar, tanto pela história quanto pela arte, cada um dos seus leitores. Caso queiram adquirir a obra, está disponível na Amazon: https://amzn.to/38ugaLG